Passado mais que perfeito

A cidade de Santos sediou o primeiro Encontro Nacional Sobre Gerenciamento Costeiro (Encogerco)

Visual da cidade de Santos, litoral paulista. Foto: Daniel Neris.
Há alguns meses estive em Águas da Prata, cidade do interior de São Paulo onde costumava passar férias quando criança. Na época eu tinha uns dez anos de idade e  nunca mais tinha voltado para lá desde então.

 

Em minhas recordações daquele tempo, havia um rio que meu pai sempre pedia que evitasse, pois dizia que era perigoso e eu poderia me dar mal se caísse nele. Sempre recordava daquele rio como um grande, fundo e perigoso rio.

 

Pois qual não foi minha surpresa ao constatar que o “grande rio” da minha infância era pouco mais que um riacho, com no máximo três metros de largura. Ainda perguntei para os habitantes locais se o rio havia secado e a resposta foi que sempre fora daquele jeito.

 

Será que o argumento de que antigamente tinha mais onda não passa de história de pescador? Foto: Herbert Passos Neto.
Isso me faz pensar numa frase que certamente todo mundo que pega onda já ouviu dos mais velhos: “Antigamente, no meu tempo, tinha mais onda!”. Será mesmo? Ou será que quando éramos garotos qualquer marzinho um pouco maior impressionava muito mais?

 

Vamos viajar um pouco nessa idéia. Tenho hoje 48 anos, portanto o meu “antigamente” é bem mais antigo que o “antigamente” da galera Master que hoje tem cerca de 35.

 

E eu posso garantir que quando estes Masters ainda eram moleques, o pessoal da minha geração já dizia que as ondas tinham diminuído e que  “no nosso tempo tinha mais onda…”.

 

Hoje são eles os que recitam a frase. Tenho minhas dúvidas se ondulações que se repetem há milhões de anos tenham sofrido mudanças sensíveis em apenas vinte, trinta anos. Acredito mais em lembranças exageradas.

 

O tradicional pico do Quebra-mar em um dia sem ondas. Foto: Daniel Neris.
Quero deixar claro que não estou falando aqui em qualidade de ondas ou o aparecimento ou sumiço delas neste ou naquele lugar. É claro que isso acontece quando se retira ou coloca areia, quando se constrói obras que afetem o fundo, correntes, etc. Qualquer um sabe disso.

 

Refiro-me a intensidade, tamanho e freqüência de ressacas. Falando nisso, uma curiosidade: No Orquidário de Santos foi feita uma exposição fotográfica sobre sua construção. Eram dezenas de fotos, tiradas de cima de um morro próximo, que mostravam as diversas etapas da obra, mês após mês. Isso lá pela década de 40.

 

O detalhe é que em todas as fotos aparece a praia do José Menino de fundo. Em todas as fotos o mar aparece completamente liso, sem ondas. Será possível que em nenhuma delas havia o famoso “marzão de antigamente”?

 

Em outra exposição, que comemorava a revitalização do Centro Velho de Santos, também foram exibidas inúmeras fotos do início da urbanização da orla da praia. São fotos de um período entre um século e cinqüenta anos atrás.

 

Nas que aparece, o mar  insiste em se mostrar sem ondas. Será que isso tudo foi mera coincidência ou será que essa história de que “antigamente tinha mais onda” não é papo furado da velha guarda saudosista? Fica aí questão…

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