Pauê brilha na São Silvestre

Pauê Aagaard faz bonito na São Silvestre

Pauê Aagaard faz bonito na São Silvestre. Foto: Erico Hiller/Add.
Envolvido pela emoção e dando mais um grande exemplo de superação, o santista Paulo Eduardo Chiefi Aagaard, o Pauê (Unimonte/ Instituto Paradigma) completou a tradicional São Silvestre. Acompanhado do amigo e técnico José Renato Borges, o Mosquito, ele fez o percurso de 15 km suportando muita dor nas pernas, porque suas próteses não são adaptadas para corrida. Aos 22 anos de idade, Pauê vive há quatro com uma nova realidade em sua vida.

 

Teve as suas pernas dilaceradas (abaixo dos joelhos), após ser atropelado por um trem em São Vicente. O que para muitos poderia ser o final de sonhos, para ele se tornou uma missão. E foi esse o seu objetivo na São Silvestre. Mesmo sabendo que teria grande dificuldade para completar a disputa, por não ter material apropriado, decidiu competir para estimular a prática de atividades físicas entre deficientes, motivar o aparecimento de novos atletas e despertar a atenção das autoridades.

 

?Tenho consciência de que o acidente não foi apenas um motivo de desgraça e tragédia. Me fez acreditar que o início de uma nova era se estendia a partir dali. Antes, eu era mais um com as pernas e hoje sou um. Tenho uma responsabilidade muito grande dentro do que eu me objetivo em fazer?, comenta. ?Sinto que tudo tem seu tempo e vou lugar para alcançar aos poucos, acreditando que ao plantar a semente hoje, iremos colher os frutos amanhã?, acrescenta.

 

Para ele, a participação na São Silvestre foi uma das melhores experiências que teve , sem dúvida, a melhor que já disputou. ?Meu objetivo nessa prova foi todo aquele que me propus e deu muito certo, pois notei no rosto das pessoas, no carinho delas, gritando meu nome, incentivando, dizendo que ano que vem irão correr por minha causa. Isso foi muito bom?, contou Pauê, que quase não participou da disputa.

 

?De manhã, senti na perna uma íngua, uma inflamação e cheguei a dizer que não iria correr mais. Mas fui mesmo com dor e quando estava lá não teve jeito. Muita adrenalina, muita força. Parecia que Deus tinha me colocado ali para sentir toda aquela energia?, disse Pauê, ressaltando que todos achavam que ele não iria conseguir, porque já tinha se queixado da inflamação.

 

?Corri os três primeiros quilômetros direto, numa velocidade ritmada, mais ou menos 5 ou 6 por km. Daí parei, fiz um pit stop, aliás, fiz vários, para passar pomada nos ralados que iam fazendo, uma vez que as próteses não eram adaptadas. Isso foi muito legal, porque mostrou que eu queria chegar. Cumpri o meu papel, mostrando que nada é impossível, quando existe garra, perseverança e objetivo?, explicou.

 

INCENTIVO – O sofrimento, principalmente na subida da Brigadeiro, foi compensado durante o percurso, com as demonstrações de carinho e incentivo e, sobretudo, na chegada, quando foi aplaudido por milhares de pessoas. ?A Rede Globo acompanhou a prova inteira e viu o sofrimento, a persistência que tive para completar, mesmo com dor. Quando cheguei na Brigadeiro, estava acabado. Daí eu fiquei de bobeira com a galera gritando o meu nome em coro. O Mosquito chorava e eu também?, lembrou.

 

?Dobramos a Paulista e todos esperavam o 1º colocado, o queniano no caso, e cinco minutos antes chegamos. Nunca tinha visto tanta gente se levantando e aplaudindo. Roubamos a cena por instantes. O pessoal gritava, a emoção tomou conta. O pessoal incentivava, falando vai surfista, vai menino de Santos. Minhas pernas não respondiam mais. Eu ia pela emoção, pela vibração. Aquela força me levava e antes de terminar a prova?, relatou.

 

Antes de cruzar a linha, Pauê agradeceu todo o apoio do técnico. ?Agradeci pela paciência que teve e tem, pela determinação, pelo companheirismo, por tudo que construímos juntos. E também por ser meu amigo e acreditar nos meus objetivos. Ele apenas respondeu com lágrimas. Demos um abraço. Foi um momento para ficar guardado para o resto da vida?, destacou o atleta que também tem o patrocínio da Rudy Project e Pranchas New Advance.

 

Ainda sobre o técnico, Pauê foi só elogio. ?Ele representa o cara que hoje enxerga o quanto amadureci, cresci e tenho uma missão. Um laço de amizade que vou contar para toda a vida. Acompanhou e ajudou muito em toda essa trajetória e sabe que o caminho que tomo é muito mais amplo do que de apenas um esportista. É de uma causa? frisou o competidor.

 

Para 2005, ele pretende colocar em prática novos projetos, sobretudo na questão social. ?Tem muita coisa rolando pelo Instituto Paradigma. Esse ano será de muita evolução, aprendizado. Tomara que eu consiga dar conta do recado?, emendou. ?Também quero continuar nas competições de triathlon e para me divertir quero surfar, minha paixão.

 

Outra meta é iniciar nas provas do circuito paraolímpico?, completou Pauê, que também tem como prioridade a conclusão do curso de Fisioterapia (passou para o último ano) no Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte).

Exit mobile version