Rapaz, isso é o que chamo de um evento de ondas grandes de verdade. Ta doido, bicho, cada “pipôco” da “bixiga”! Se o cara que está atrás da tela do computador já fica sem fôlego vendo a ação da turma, imagina ao vivo?
Peguei no susto o evento sendo transmitindo e não durou muito pra ver aquela despencada de Carlos Burle. Fiquei extasiado quando o vi pendurado no lip e vendo na sequência sua prancha sendo levada cachoeira abaixo. Quis não acreditar que ele viesse atrás na avalanche, mas foi inevitável. Nessas horas quem está ao vivo fica doido, só torcendo mesmo para que o pior não aconteça. E não é que depois de um tempo o “caba” (Burle) aparece e volta ao pico pra pegar outra bomba?! E também levar outro capote! Se vale a máxima do “no pain no gain”, o saldo foram duas pranchas quebradas, um estiramento na virilha e joelho torcido.
É, meu filho, a turma vem há bastante tempo ultrapassando os limites da carcaça humana. Bendita seja a invenção de Dorian, os coletes que se inflam! A todo momento víamos a turma parecendo uns Puffer Fish, o famoso baiacú, depois dos caldos exorbitantes. E diga-se de passagem para marcar, o que foi aquela montanha de Dorian antes de o evento ter seu início? Drop abissal! Inacreditável! Vai ser XXL !
Bom, Burle avança sua primeira bateria e nos orgulha, botando pra baixo. Infelizmente Yuri Soledade não teve a mesma sorte. Mesmo sendo conhecedor da onda e um dos desbravadores do pico na remada, não se encontrou. Protagonizou um late take off sinistro, o vento lhe segurou e levou rasteira com prancha e tudo. Se com onda grande e prancha grande já é difícil, imagine com o vento de 30 nós? “Minino”, o negócio é forte de doer os “zuvido”. Pra se ter uma ideia, pranchas em média de 10 pés com cerca de 9 a 14 quilos (pranchas de competição, maroleiras, têm cerca de 2.20 quilos), parecia um pedacinho de papel quando a turma ficava pendurada no lip da “mandibula”.
Ah, o negócio foi só ficando mais forte durante o dia de disputas. Se na tela já parecia forte, imagine ao vivo? Pode botar quase o dobro! O formato do evento é muito legal. Baterias de seis atletas passando três. Maior nota é dobrada e dá uma ótima sensação quando alguém pega alguma high score. E qualquer dos 36 atletas convidados, etc, tinha cacife para tal. Aliás, qualquer um ali tinha cacife para vencer! Claro que uns menos, outros mais, mas se pegarmos a lista, todos tinham um currículo. Seja uma vitória em evento, uma participação e vitória no XXL, enfim, todos tinham seus momentos de glória. E convenhamos que no big surf é sinistro.
Mas sinistro também é a “bucha” que o cara encarregado de fazer a lista de convidados tem em mãos. É muita gente com mérito! Do nosso lado, sentimos a falta de Danilo Couto e Marcio Freire, e com certeza a turma de lá está reclamando também. O mais justo seria ter um sistema de triagens, segundo Carlos Burle. Desta forma dava-se chance a novas gerações, a quem quisesse seguir a “coisa”, tal como os atletas seguiam o CT.
A primeira fase foi épica, momentos históricos em Jaws, como a bomba que Greg Long pegou e botou pra dentro na fechadeira. Meu Deus, a “besta” devia ter uns 35 pés ou sei lá quanto! Mas não era pés da “burra” não, porque pés de burra são pequenininhos e redondinhos. Eram pés de “Sasquatch”! Vish!
Onda grande é demais, dá medo, tenho medo, mas gosto do astral e das pranchas grandes. Buscava olhar a trajetória da turma na onda, o posicionamento em cima da prancha e, mesmo pela internet, com a belíssima e eficiente transmissão, deu pra observar muita coisa. Algumas pranchas com bicos mais retos, outras com o volume todo mais à frente, outras com linhas mais paralelas, outras com linhas de longboards, mas também todos com rabetas finas e estreitas, pois do contrário, como segurar aquela potência toda? Viajei em alguns drops do Kai Lenny, posicionamento perfeito. Da mesma forma Albee Layer. Disseram, na transmissão, que sua prancha era uma 8’8”. Nossa, o cara só virava embaixo e parecia estar brincando de atrasar para os tubos. Mas isso em ondas de muita responsa! É o big surf atingindo outro patamar! Patamar de tubos grotescos iniciados no passado talvez por Brock Little em Waimea Bay.
O big surf deu uma enorme evoluída, o tow in trouxe o patamar de ondas inimagináveis, da mesma forma que contribuiu para a turma começar a querer remar em ondas também abissais. As pranchas aumentaram, o volume aumentou, mas agora vêm em alguns casos diminuindo de tamanho e mantendo o volume sendo distribuído para que se encaixe em certas ocasiões, como correr e acelerar em tubos XXL. E Albee Layer mostrou isso, tanto que foi o vice-campeão.
Na semi, Burle não entrou no ritmo. Esperou bastante e nada valia pegar uma intermediária. Lembram-se de que a melhor onda era duplicada? E nego passou bateria desta forma, com uma onda boa duplicada.
Dorian, que era talvez o mais cotado para vencer o evento, passou a final inteira esperando uma onda que não veio. Mas, se viesse, com certeza o teria colocado na disputa. Villaran deu altos drops, como de costume, mas na final o mar dera uma piorada, facilitando ainda mais o conhecimento de Billy Kemper, que surfou brilhantemente em todas as disputas, pegando bombas e se mostrando muitíssimo à vontade, afinal estava em casa, era o local. Long pegou uma linda na final, uma morra limpa, e sua prancha deslizou feito um cadillac. Posicionamento correto, incrível sua calma. Com essa onda, duplicou a nota para ser o terceiro colocado, deixando Ian Wash, que também tinha domado umas bombas nas baterias anteriores, em quarto.
Esse evento talvez tenha sido um divisor de águas. É muito legal ver o big surf indo por esse caminho, tendo finalmente um respaldo positivo, afinal ali o bicho pega.