SUP e surf

Pela harmonia no outside

Leco Salazar, Sunset Beach Pro 2011, North Shore de Oahu, Hawaii

Brasileiro Leco Salazar é um dos principais atletas da modalidade. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.
Músico Donavon Frankenreiter (à esq.) demonstra respeito pelo SUP ao cumprimentar atleta Rodrigo de Deus. Foto: Babi Tomimatsu.

A Califórnia (EUA), um dos epicentros do surf mundial, foi um dos primeiros lugares a testemunhar o surgimento e o crescimento do stand up paddle (SUP). É lá que hoje a convivência entre surfistas tradicionais e “supistas”, sobretudo nas praias mais crowdeadas, tornou-se bastante tensa, com direito a campanhas difamatórias e pichações contra o SUP.

Rixas entre as modalidades de surf sempre existiram. Foi assim com o bodyboard e com o longboard, por exemplo. A diferença é que no caso do SUP, há realmente um grande risco à integridade física daqueles que estão no mar e a falta de bom senso de alguns praticantes de SUP acaba por denegrir a imagem do esporte.

 

Por outro lado, o mundo hoje não é como há vinte anos. Populações crescem de maneira exponencial e é natural que isso se reflita no outside. Surfar com poucas pessoas na água depende cada vez mais de sorte do que de logística.

 

O que acontece hoje na Califórnia deve servir como alerta para outros lugares onde o crowd ainda não é tão intenso e o esporte ainda não é tão popular. Podemos aprender com os erros ocorridos por lá e nos prepararmos para um entrosamento bem mais harmônico entre as modalidades.

Os surfistas reclamam principalmente da falta de experiência dos supistas iniciantes, que sem entender as regras de etiqueta do surf, colocam todos em risco por conta do tamanho de suas pranchas. De fato, o rápido crescimento do SUP tomou de assalto o mundo do surf.

De uma hora para outra, centenas de picos já bastante crowdeados passaram a receber também um grande número de supistas. Muitos deles, sem a menor experiência anterior em esportes com prancha, passaram a disputar ondas em line-ups já bastante tumultuados. O resultado não poderia ser muito bom e acidentes envolvendo atropelamentos, disputa de onda e rabeadas perigosas, acabaram por criar uma animosidade em vários picos.

Fatos como esse levaram um grupo de surfistas da Califórnia a entrar com uma petição exigindo a proibição do SUP Surf em uma série de praias dos EUA sob a alegação de que as pranchas eram, na verdade, embarcações – o que pela lei norte-americana proibiria sua permanência no line-up. Entretanto, tal petição foi rejeitada pela Guarda Costeira que emitiu parecer no início do ano confirmando seu entendimento de que SUP’s eram sim pranchas.

Blame Laird Já outro grupo, tentou o caminho da difamação. Distribuição de adesivos e pichações ridicularizando praticantes de SUP são ações que existem, ainda que isoladas. Talvez a campanha difamatória mais conhecida tenha sido a “Blame Laird” (culpe o Laird) com a distribuição de adesivos contendo esse slogan para criticar Laird Hamilton por divulgar o esporte e ironizar seus praticantes. Porém, o feitiço se virou contra o feiticeiro.

Hamilton, gênio do marketing, apropriou-se do nome e lançou uma série de produtos para SUP com a marca “Blame Laird”. O sucesso foi tão grande que ele criou até uma página na web para comercializá-los. Em entrevista a Marcus Sanders, no site Surfline.com, quando perguntado sobre a frase polêmica, disse de maneira bem-humorada: “pode me culpar por toda a diversão que você está tendo com o SUP!”.

E de fato ele está certo. É melhor que mais pessoas se divirtam interagindo com a natureza e aprendendo a respeitá-la do que enfurnadas em shopping centers levando um estilo de vida artificial baseado em consumo. O caminho do entrosamento parece, portanto, o mais correto. O SUP veio para ficar e se todos respeitarem as regras da boa convivência, não haverá motivos para estresse, pois o objetivo final, seja qual for o tipo de prancha que você use, é se divertir.

Assim, em nome da harmonia no outside, listo abaixo uma série de sugestões que acredito se seguidas pelos SUP Surfistas, podem contribuir para uma boa convivência e diversão de todos:

1 Use sempre leash. Não importa se você é iniciante ou profissional, se você for surfar de SUP no meio do crowd, use o leash.

2 Se você é iniciante e nunca surfou antes, procure uma escola, professor ou um amigo experiente. Aprenda primeiro a dominar os movimentos básicos do SUP que são a troca de remo, viradas bruscas com a prancha e remadas com os pés na posição de surf. Quando dominar essa parte, procure por praias com poucas ondas para praticar. O ideal é estar acompanhado de alguém para ficar de olho em você e vice versa.

3 Tenha consciência de suas habilidades e das características do surf spot escolhido. O SUP pode ser um grande perigo para quem está na água (incluindo você!). Conheça a dinâmica de sua prancha e o poder da onda escolhida.

4 Evite o crowd. Procure surfar em horários mais tranquilos e fique longe das aglomerações. Todo crowd tem pontos com maior e menor concentração de pessoas. Fique em áreas de menor concentração.

5 Não seja fominha. Compartilhe. Lembre-se: “gentileza gera gentileza”. Ao invés de remar em toda onda que surgir, aproveite sua posição privilegiada para curtir o visual e alertar o crowd da série que está chegando. Deixe passar algumas ondas e incentive quem está próximo de você a surfá-las.

6 Quando chegar a sua vez de surfar aproveite a onda ao máximo, surfando por toda a sua extensão.

7 Ao voltar para o pico, procure voltar pelo canal. Evite remar no meio das pessoas e, se for inevitável, reme deitado evitando que seu remo atinja alguém.

8 Procure conversar com os outros surfistas sentado na prancha. Os apresentadores de TV e políticos usam muito bem a linguagem corporal, faça o mesmo conversando “de igual para igual” com as pessoas que estão ao seu redor.

9 Uma onda considerada ruim para uma pranchinha pode divertir muito quem está surfando de SUP. Lembre-se disso antes de decidir onde cair.

10 O SUP é um esporte maravilhoso que possibilita, além de surf, remadas por entre costões, ilhas e rios. Se o crowd está chato, não vale a pena se estressar por um pequeno pedaço de praia se o oceano agora é seu “parque de diversão”.

Para saber mais sobre o trabalho de Luciano Meneghello, acesse o site SUP Club.

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