Poucas pessoas podem falar com tanta precisão sobre o surf profissional no Brasil e no mundo como Roberto Perdigão, gerente-executivo da ASP South America.
Na última segunda-feira (15/6), Perdigão foi o convidado do curso Surf: Administração, Marketing e Gestão de Negócios, promovido pelo Ibrasurf na Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE). Ele ministrou uma palestra sobre ?Entidades e Organização de Eventos?.
A história de Perdigão no mercado surf começou em 1975, quando o carioca fissurado decidiu se mudar para Florianópolis para estudar Geografia e surfar as ondas catarinenses.
Sem a aprovação dos pais, Perdigão teve que arrumar um jeito de se sustentar sozinho na nova casa. Junto com o amigo Victor Vasconcelos (atual shaper da Hotstick), começou a fabricar pranchas e logo já estava completamente envolvido com o surf, que começava a dar seus primeiros passos rumo à profissionalização.
Em 1977, foi convidado para ser juiz do Waimea 5000 no Rio de Janeiro, uma das etapas do Circuito Mundial da IPS, associação de surf que antecedeu a Association of Surfing Professionals (ASP). Nos anos seguintes, Perdigão acumulou conhecimento e experiência para implantar uma mentalidade inovadora no Brasil.
Em 1985, com a indústria do surf ganhando força por aqui, Perdigão ajudou a fundar a Associação Brasileira de Surf Profissional, a Abrasp, entidade responsável pelo circuito brasileiro profissional.
Em 1992, a ASP implantou o sistema WCT / WQS de campeonatos. Na época, o campeão brasileiro de surf era revelado em uma combinação de pontos obtidos em circuitos estaduais, nacionais e em algumas seletivas internacionais, o que facilitava a entrada de brasileiros na elite mundial.
De 1992 a 2008, o Brasil foi o país que mais ofereceu premiação em dinheiro em eventos da ASP: cerca de US$ 5,5 milhões em 96 etapas. Os Estados Unidos seguem em segundo e o Hawaii em terceiro.
Mesmo com todo este destaque no cenário mundial, os resultados brasileiros em competições estão longe de atingir os parâmetros de países como a Austrália e os Estados Unidos, de onde saem os campeões mundiais.
Segundo Perdigão, isso acontece porque os circuitos internos no Brasil não estabelecem uma conexão com os eventos mundiais. Diferente do que acontece em outros países, o circuito brasileiro não prepara para o circuito mundial.
De acordo com o gerente-executivo da ASP, não há uma ponte entre o amadorismo e o profissionalismo no surf brasileiro. Um atleta que compete em eventos de base, promovidos pela Confederação Brasileira de Surf (CBS), não estabelece ligação com o Circuito Brasileiro Profissional, o SuperSurf da Abrasp. Este, por sua vez, não prepara o atleta para uma carreira internacional, já que o circuito é fechado e não tem ligação com eventos mundiais.
?O ideal seria se a CBS e a Abrasp se preocupassem não apenas com seus circuitos internos e pensassem em uma fusão para criar um campeão mundial brasileiro?, argumentou Perdigão.
Outro erro apontado pelo palestrante foi o fato de a CBS não exigir escolaridade dos atletas que competem nos circuitos amadores. Além de surf no pé, o jovem surfista tem que ter preparo educacional para enfrentar o futuro. ?A vida útil das modalidades esportivas é curta. É preciso preparar o surfista para que ele possa seguir outra carreira quando parar de competir?, disse o carioca.
Perdigão afirmou também que a fórmula para o Brasil chegar ao tão sonhado campeão mundial está baseada na formação psicológica. ?Não basta que o patrocinador pague um salário para o atleta. É necessário dar orientação psicológica e educacional. O surfista tem que viajar as competições preocupado somente com as baterias que vai correr. Se ele tiver que pensar em transporte, estadia, alimentação e comunicação, vai faltar concentração na hora de surfar?, acrescentou.
Roberto Perdigão contou aos alunos do curso um pouco sobre a realização de eventos da ASP, que tem um manual de como deve ser um campeonato ideal, levando em conta estrutura para juízes, atletas e imprensa.
Para adquirir o direito de realização de um evento da entidade, é necessário que o patrocinador assine um contrato, afirmando que tem condições de realizar a prova de acordo com os padrões da ASP. O valor da licença varia entre eventos do WCT e o número de estrelas das etapas do WQS.
Para finalizar, Perdigão revelou que em 2009, a ASP South America se uniu a Associação Latino Americana de Surfistas Profissionais, a ALAS, abrindo as fronteiras da América do Sul para a realização de mais eventos com a filosofia da ASP.
Para obter mais informações sobre o curso, acesse o site da Ibrasurf .
Na próxima aula o convidado é Rogério Boccuzi, marketing da Quiksilver, que vai abordar o tema ?Marketing no Surf?.
O curso Surf: Administração, Marketing e Gestão de Negócios é uma realização da Ibrasurf e USP. Apoio: Waves, Star Point, EEFEUSP Junior e William Woo.