No fim da última temporada de ondas na Indonésia, visitei mais uma vez a ilha de Nias. Aliás, isso foi parte da estratégia montada por Eduardo Fernandes, o “Rato”, para descansarmos e pegarmos umas ondas antes de chegarmos às Ilhas Mentawai para uma boat trip com a turma da Mentawai Surf Charters.
Acho isso muito válido, pois extravio de bagagens (pranchas) podem ocorrer e, ficando em terra por alguns dias, seria mais fácil recuperar o equipamento antes de se embrenhar no meio do oceano. Mas podendo-se estar em qualquer outro lugar – em Nias, que foi o nosso caso – ainda tinha-se o crédito de contar com a sorte e já sair pegando altas ondas.
Minha primeira investida em 2013 havia sido desta forma, pois acertamos a sorte e pegamos altas ondas. Desta vez, chegamos no dia de um swell mediano com ondas de 4 a 5 pés e algumas maiores. Mas a sorte foi o vento, pois, por um período, ventos não muito propícios rondaram algumas regiões da “Indo”, e no dia da nossa chegada ele simplesmente parou, acertou. Aí foi só alegria, aquelas paredes já conhecidas. Na barca organizada por Rato, havia um time de grommets da Seaway, marca em que Fernandes era patrocinado no passado e hoje segue funções na área do marketing da empresa.
Douglas José, Gabriel Farias, Wallace Junior e Diego Aguiar, de apenas 12 anos, eram os nomes das ferinhas. Pra balancear o time, uma equipe de “coroa style”, pois, além de mim e de Rato, foi conosco um amigo de longas datas, Alan Gueiros, e o fotógrafo Clemente Coutinho.
Moleque não quer nem história, chega no pico e vai logo pra água. Optei por descansar e assistir a um pouco a session para entrar depois de instigado. Minha primeira onda foi boa, mas ao chegar no final dela estava morto! Nunca em uma trip havia sentido tanto cansaço na primeira onda. A viagem é longa e contando com noites mal dormidas. Só mesmo umas duas caídas pra entrar no rip.
Naquele mesmo dia, no fim da tarde, ja estávamos aproveitando a segunda queda, pois nada de ficar no quarto dormindo, caso contrário não entraríamos no fuso horário. Na última vez que fui a Nias havia ficado na pousada do Barriga. Instalação muito legal e com ótima refeição, no entanto, o pico ficava um pouco mais afastado, mas nada que uma série atrás da outra não nos fizesse chegar rápido ao canal do pico. Mas, desta vez nos hospedamos na cara do gol, na Hash Family, aliás, a turma é do mesmo parentesco do Barriga. Instalação também legal e com boa alimentação. O detalhe era o sonzinho lounge no fim de tarde e a Bintang gelada assim que a última onda do dia era surfada. Mas isso só para os “coroa style”, já que os moleques ficavam só no refri ou na água de coco comprada nas mãos dos pequenos nativos que estavam sempre de prontidão com uma foice e um cacho. Na pousada do Hash, Clemente nem precisava ter o trabalho de buscar uma locação para fotos e filmagens. De nossa varanda ele já podia fazer o trabalho para no fim do dia também ter a mordomia de fazer uma massagem Indonesia style com a pequenina massagista Sesame (o que tinha de baixinha ela tinha de pegada forte).
O cochilo cedo era de lei, pois no dia seguinte o longo dia de ondas nos esperava. Acordamos com o mar baixando, mas longe de estar ruim. Foi surf de novo o dia todo e espaço para avaliarmos a performance da turma. Fiquei vidrado na linha de Diego Aguiar. Ele, que é goofy e estava ali de costas pra onda, me fazia analisar: moleque do backside lindo! Com curvas precisas e ataques certeiros, mas tudo sempre com classe.
Também não havia visto ainda performances de Wallace. Também de backside, o baiano de Ilhéus soltava fortes pancadas, fazendo-me pensar que tipo de estrago ele fazia nos eventos que disputava. Ja havia viajado com Douglas Silva e já esperava um surf potente. Algumas lapadas e alguns tubos foram completados por ele nesse dia de mar baixando. Já Gabriel Farias tomava conta do surf acrobático, levando todos, e principalmente os grommets locais, ao delírio. Esse pernambucano de Maracaípe brincava com as ondas.
Na session seguinte, decidimos buscar um pico alternativo a cerca de 20 minutos de caminhada embaixo do sol escaldante. Conhecido por suas potentes ondas e com o dobro do tamanho da onda de Lagundri, até já havíamos surfado na primeira trip, mas desta vez a ondulação não estava correta e as ondas vinham bem em cima da pedra. Aliás, não era só o fator pedra, pois existia um batente de coral no inside e, caso houvesse um deslize, a encrenca seria consumada.
Com o sol escaldante e ondas demoradas, decidi nem cair pra guardar a pilha para o surfe da tarde na onda de Nias, mas Wallace, juntamente com um surfista local, ainda caiu e descolou uma onda satisfatória. O fim de tarde foi bom, mesmo com ondas baixando deixou a galera bem feliz.
No dia seguinte a onda desceu e ficou rente à bancada do inside. Aliás, as paredes alinhadas de 2 pés fizeram a festa da molecada. E eles passaram o dia inteiro na água, pareciam mais pintos molhados de tanto se divertir. Pegavam as ondas com muitos metros de distância e voltavam caminhando pela bancada de coral. Parecia um parque de diversões. Mas os “coroas style” também tiveram diversão garantida com modelos de pranchas diferentes. Optei por minha 5’4” quadriquilhas com duplo wing, round pin e bico arredondado. Me diverti.
E tanto Alan como Rato também caíram com pranchas menores e mais largas, logo tiveram boas performances e um ia empolgando o outro, fazendo a molecada vibrar e nos zoar a cada manobra bem completada. Como se tratava de uma barca de nordestino, a todo momento algum deles disparava: “Opaí doido, a manobra coroa style que o bicho fez!” (risos).
Com dois dias de marola longa e divertida, nosso quinto dia foi de mar subindo. O vento não estava tão bom, mas algumas séries já batiam os 5 pés ou mais. Todo mundo na água e feliz, pois nossa próxima parada, em Mentawai, prometia…