Há dois anos, tinha uma coluna na revista Fluir denominada “Desentubando os Cabras”. O intuito era resgatar os ídolos do nosso esporte e ao completar um ano, já tinha quase que resgatado uma personalidade de cada estado brasileiro.
A coluna acabou e na época estava com uma entrevista marcada com Amaury Pereira, mais conhecido como Piu. Não sei se hoje ele ainda é tão parecido, mas na época em que ganhou o apelido, até o Frajola poderia confundí-lo. Cabecinha avantajada e “corpitcho” mirrado, Piu era uma máquina de manobrar e competir.
Lembro-me muito bem dele no OP Pro de 86 na praia da Joaquina (SC), onde no meio de uma quantidade jamais vista de surfistas em um evento amador, acabei perdendo pro Piu umas duas ou três vezes naquela prova. Outra lembrança clara
também no mesmo ano foi no intercâmbio Brasil x Estados Unidos, em Florianópolis, no qual Piu sagrou-se campeão na categoria Open.
Teve também o Town & Country de Surf em 87, em Saquarema (RJ), no qual Piu, na categoria amadora simplesmente estava arrebentando. Atual editor da revista Surfar, José Roberto Annibal venceu essa prova e estava também surfando muito de biquilhas, porém outro dia vi umas imagens antigas e o Piu era o cara mais veloz do evento, mas ficou com a terceira posição.
Fomos juntos para o Mundial Amador de Porto Rico e Piu acabou não se dando bem, porém no ano seguinte fizemos juntamente com Teco Padaratz, um trio no Circuito Mundial. Naquela época não havia divisão no circuito, éramos todos em
um bolo só (WCT e WQS começaram em 1992).
Em todos os campeonatos rolavam o evento principal e as triagens, porém uma vez trialistas, quando atingíamos o evento principal, disputávamos um outro evento à parte a partir dali, ou seja, o evento das triagens. Era normal competirmos muitas baterias nos dias de sábado (na época não existia período de espera), por exemplo.
Às vezes era cansativo, porém muitas outras nos deixavam embalados e muitos resultados eram positivos. Nesses eventos de triagens, foram algumas as vezes que revezávamos as primeiras posições e em alguns eventos éramos os três na final.
Com a divisão do circuito, Piu fez parte do WCT em 1995. Em 98 e 99, iniciou aos poucos o afastamento das competições internacionais e competindo apenas no Brasil, aproveitou e seguiu para a faculdade de Marketing e Propaganda.
O “Passo”, ou simplesmente pássaro Piu, como carinhosamente eu e o Teco o chamávamos, era fera também em decorar as coisas, desvendar coisas, lembrar de qualquer coisa relacionada a várias coisas, decorar rankings e esquema de “seeding points”.
Não deu outra, botamos nele outro apelido, ”compiuter”! kkkkkkkk. Algum tempo depois, acabou indo trabalhar na Quiksilver brasileira a convite de Alfio Lagnado (Surf Co.) e até então vem desempenhando a função de gerente de marketing. Arisco nas ondas, voz branda e suave, fala aê “Passo Piu”! (confira entrevista baixo)
Em que lugar tu ficou naquele Town & Country de 87 mermo, hein? Terceiro lugar? eheheh, essa foi pra testar o “compiuter?
Reposta: (risos).
Macho, quando tu parou de competir? Como foi o processo?
Parei por volta de 2004. Acabou sendo natural, pois já estava bem envolvido e focado em outras coisas.
Depois que tu parou, foi cursar facú de quê mermo? Administração e Marketing? Trabalhou na Natural Art, Rubber e depois fosse pra Quiksilver? Como surgiu o convite?
Sempre tive vontade de fazer uma faculdade. Como só estava competindo no Brasileiro (já tinha parado de disputar o mundial desde 98 / 99), comecei a fazer Publicidade e Propaganda em 2002. No terceiro ano comecei fazendo estágio na Rubber Sticky e em seguida na Natural Art.
Era uma área que já tinha um bom conhecimento como atleta e boa bagagem em viagens. A oportunidade na Quiksilver surgiu em conversas com o Alfio, pois ele já estava fechando com os gringos, mas meu perfil se encaixou com o que eles buscavam.
Qual função tu desempenha lá? Fala um pouco, é muito trampo, o que é mais legal e o menos legal?
Sou gerente de marketing e exerço diversas funções, mas meu foco é com atletas, evento e comunicação internacional. Essa área sempre tem algo mais a fazer, mas é muito gratificante ver nossos atletas da equipe ganhando respeito internacional, sendo chamados para sessões de fotos e filmagens, e isso tem acontecido mais agora, tanto na Quiksilver quanto na Roxy.
Procuro sempre informar os gringos sobre o trabalho que estamos fazendo aqui com os atletas, sobre nossos eventos, e isto vem dando resultado. O menos legal sempre vai ser a parte burocrática da coisa. Empresa de capital aberto, temos que comprovar todas as despesas legalmente.
Como é ter que dar assessoria a Carlos Leite (Kelly Slater)?
Dá trabalho viu. O cabra é bastante requisitado pela mídia, e não dá para atender a todos, principalmente pelo pouco tempo que fica por aqui, ainda durante competição. O assédio dos fãs brasileiros é mais intenso do que em qualquer outro lugar, mas ele é profissional e sempre consegue uma brecha.
Boas sessions de surf com ele? Algo de especial a relatar?
A maioria das sessions que fiz com ele foram em dias que não rolaram baterias, portanto em ondas razoáveis, mesmo assim, o surf dele se sobressai muito. Este ano ficamos juntos numa casa no Rosa, pois também estava rolando sessão de fotos com a equipe Quiksilver nos breaks. Fiquei também muito impressionado com o que o Julian e Dane fizeram nas marolas mexidas do Rosa e Ouvidor.
E os atletas brasileiros, Alejo e Guigui? Qual a posição da Quiksilver brasileira e internacional em relação a eles?
Aqui no Brasil estamos acreditando bastante nos dois. O potencial deles é incrível e cada um da sua maneira. Os gringos também já conhecem bem o quanto eles podem render e devem ser mais usados internacionalmente.
Como anda o rip de surf?
Tenho surfado mais nos fins de semana, mas se tiver ruim, dou uma caída bem rápida (risos). Ano passado fiz uma trip pro Peru muito boa, muitas esquerdas.
Como foi participar do Master em Saquá?
Foi irado rever a galera toda e competir depois de cinco anos daquele último Master de Ubatuba.
Vi que você surfou muito bem com uma fish na primeira fase, tem surfado muito com esses modelos?
Sim, estou gostando bastante de surfar com uma 5’3’’ triquilha do Joca Secco. Muito por poder fazer um surf diferente do convencional. Ela corre bastante e segura até numas ondas maiores.
Você foi um cara que me ajudou bastante no circuito com meus filhos e filhos dos outros amigos, era o “Passotio”. Hoje com sua filhinha Yasmim, desempenha bem a função de “Passopai”? Já botou ela pra pegar umas marolinhas?
Com certeza né. O treino no Tour foi bom (risos). Quando a Yasmin está comigo, sou 100% para ela. Já surfou algumas vezes comigo, mas bem de leve. Leva jeito, só não é fissurada e não quero forçá-la a nada.
Quais as metas de trabalho e “freesurfisticamente” para o futuro falando?
A meta é sempre evoluir, ampliar os horizontes e adaptar-se aos novos meios de comunicação. No surf seria pegar ondas boas enquanto conseguir ficar em pé.