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Por dentro da M2O 2013

Tony (terceiro da direita para a esquerda) e Mo Freitas (segundo da esquerda para a direita) em meio à equipe de aopoio para a M2O 2013. Foto: José Ricardo Graça

O brasileiro Tony Freitas, radicado há muitos anos no Havaí e pai do havaiano Mo Freitas, um dos maiores expoentes da nova geração do stand up paddle mundial, participou da equipe de apoio da equipe de seu filho durante a Molokai to Oahu 2013 e conta com exclusividade para os leitores do SUPCLUB.com.br os bastidores da prova que está sendo considerada a mais dura dos ultimos dez anos. Confira.

Por Tony Freitas

A Molokai to Oahu é a prova de longa distância mais tradicional do mundo. Muita gente se prepara durante meses pensando nessa travessia. Por isso, quando decidimos que meu filho, Mo Freitas, iria este ano pela primeira vez fazer a travessia solo, montei uma equipe de apoio e trabalhamos bastante na estratégia, estudando várias rotas e opções de trajeto. Afinal, para remar sozinho pelos quase 52Km do temido “canal dos ossos”, que separa as ilhas de Molokai e Oahu, você precisa, além de muito preparo, estar bem amparado.

Quando a prova vai se aproximando é inevitável escolher os favoritos e o assunto vai tomando as ilhas ao longo dos dias que antecedem a competição. Muitos apostavam em uma vitória de Connor Baxter, Danny Chig ou Kai Lenny, que estava aparado por um verdadeiro dream tem em seu barco de apoio.

E, de fato, quando chegou o dia, já no começo da prova, o Kai disparou na frente, aproveitando muito bem o swell, que tinha uma direção mais ao sul, para ganhar velocidade. Muitos foram atrás dele, afinal, ele tinha uma equipe de peso em seu barco de apoio, capitaneada pelo Dave Kalama, que é um dos remadores mais experientes do Havaí e, com toda essa estrutura, a decisão de segui-lo parecia ser a mais acertada.

Só que o dia foi atípico em termos de ventos e correntes e – surpresa! – no meio do canal a aposta falhou. Eles tentaram então aproveitar a corrente vazante, mas ela não foi assim tão intensa para fazer a correção de trajetoria sem perder muito tempo e com isso o Kai – e muita gente que comprou a aposta dele – perdeu muito tempo de prova.

Nós viemos numa linha mais ao sul do que tinhamos planejado, pois também fomos influenciados pela equipe do Kai Lenny, mas optamos por não ultrapassar uma certa distância de nossa rota planejada. Quando percebemos que o sentido sul não seria uma boa opção, foi mais fácil retomar nossa estratégia original.

O Mo (Freitas) remou muito bem, sendo que a sua preparação não foi tão intensiva quanto gostariamos e uma gripe dias antes da prova também diminuiu muito sua resistência. Acabei não criando muita expectativa e por isso foi incrível ver meu filho, que completou 16 anos semana passada, me surpreender ao fazer essa travessia sozinho pela primeira vez e remar tanto. Com a ajuda de nosso amigo e técnico, Roberto Lopes, ele conseguiu o quase impossível e manteve uma média muito rápida de remada. Em vários momentos travou duelos intensos com o brasileiro Vinnicius Martins – outro garoto novo estreando na M2O que mostrou muita garra e técnica apurada – e também com havaiano Kody Kerbox. Os três vieram juntos boa parte da prova.

Nessa competição tática e estratégia foram muito importantes. A nossa era descer um pouco ao sul imprimindo uma velocidade maior e depois corrigiamos para não nos distanciarmos muito de nossa linha de trajetória. Quando estavamos bem próximos da entrada do Canal de Hawaii Kai, em Portlock, o Vinnicius optou por surfar o swell que tinha uma direção direta ao sul e acabou chegando mais em mar aberto, com o vento forte bombando bem de frente. Eu tenho certeza de que ele teria chegado no pelotão junto com o Kody e o Mo, possivelmente na frente dos dois, caso ele tivesse optado por ter ficado junto na batalha para chegar à costeira numa área mais protegida, contra o vento, mesmo que por alguns minutos. Esse “descanso” foi essencial para enfrentar a última milha de vento contra. Simplesmente BRUTAL. O desempenho e o desgaste de todos os remadores que conseguiram completar a prova foi incrível.

Por falar nisso, jantamos com o Danny Ching ontem. Ele, que era um dos favoritos ao título, nos disse que abandonar a prova foi uma decisão muito difícil, mas que chegou à conclusão de que a opção de continuar agravaria uma lesão em seu ombro. As dores foram ficando intensas e ele optou por parar, para se poupar para as competições que ainda vem a frente esse ano na California, em setembro, entre elas a Battle of the Paddle.

A Molokai to Oahu definitivamente não é brincadeira! Por isso, quero dar os parabéns a todos que de alguma forma participaram da prova. A sensação de fazer parte dessa travessia é indescritível.

Aloha

Tony

 

 

 

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