Surf na Selva

Pororoca desentubada

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Assim como acontece em alguns dos principais picos de surf do planeta, a temporada de surf na selva também começou. O equinócio, alinhamento do sol, terra e lua que move as marés com mais intensidade. Uma força de dentro da floresta Amazônica nos chama para viver os momentos mais intensos e puros em contato com a natureza.

Em março lá estava eu planejando e gerenciando a primeira expedição para a pororoca do rio Araguari, minha segunda casa. Abri o ano com altas ondas e bancadas perigosas junto ao meu parceiro de ondas de maré Everaldo “Pato” Teixeira.

Filmamos o primeiro episódio da sexta temporada de seu programa Nalu Pelo Mundo. Fabi e Belinha também pisaram na Amazônia e viveram momentos inesquecíveis proporcionados pela aventura mais brilhante para quem gosta de ação e emoção! Mas este assunto vai ficar para a próxima coluna.

A lua cheia neste ano está com as maiores variações, com isso as maiores ondas também! E quando o rio entra em overdose de água, já sei quem devo chamar para encarar as muralhas de água comigo. Jorge Pacelli, um veterano do big surf e agora da selva (já são cinco temporadas na pororoca do Araguari).

Não acreditava que a água seria tão grande, mas foi! Em Macapá (AP) o rio Amazonas invadiu a orla da cidade e no Araguari, ondas de 3 metros de face fecharam e abriram no canal formando altas ondas!

E no maior dia da maré, tive um dia de glória! Coloquei e tirei perfeitamente o Jorge de tow-in em uma excelente onda, depois coloquei o Pipo (Gzero) em outra perfeita onda, resgatei o Saulo Ramos, fui compartilhar o surf com a Nicole e o Jorge Pacelli, Betinho e Alexandre.

Quando todo mundo ficou pra trás, somente Jorge ficou comigo na seção das Mentawaii, uma direita muito perfeita. Ele filmava tudo com sua GoPro fixada na cabeça! Foi no momento em que a onda enroscou na bancada próximo da ilha de fora e o tubo começou a rodar!

O tubo na pororoca do rio Araguari não é novidade! Mas exige um posicionamento perfeito para conseguir estar na hora e local certo para ver a cortina de chocolate cair na sua frente. E naquele dia eu estava lá, e quando enfiei meu braço na água barrenta pra brecar a velocidade, vi que havia chegado a hora. Assoviei pro Jorge que estava numa bancada mais a frente e quando se ligou, começou a filmar.

“Não acreditei, quando vi o tubo, o Sérgio já estava se posicionando lá dentro. Queria filmar, mas as vezes tinha que olhar para frente e perdi alguns momentos. Foi animal”, lembra Pacelli.

Botei pra dentro em uma onda de 1 metrinho, tubo pequeno, mas com uma emoção grande, já que namorava este momento há muitos anos. Sempre perto, mas nunca dentro. Agora sei que fica tudo escuro e o barulho é sinistro! Quero mais, mais e maiores!

Quem sabe na próxima super lua, rever o Araguari fumando morras de 4 metros com tubos cilíndricos como foi na mesma condição em que Bruninho Santos, que fez um barrel histórico na pororoca da Indonésia (Bono, popular Seven Ghosts) que marcou seu nome no mundo das tidal bores.

Pra finalizar, depois do tubo, Saulo me resgatou e colocou na onda novamente junto com o Betinho e o fotógrafo Fábio Paradise, que não resistiu a perfeição da onda e jogou-se para uma seção rara na pororoca.

Até certo momento com eles, cruzei o canal inteiro da curva do rio e fui surfar a esquerda espetacular da ilha SNS. Uma onda bem em pé, com força e velocidade, bem próximo à margem selvagem. Estava somente eu e a onda. Todo mundo sendo resgatado e somente meus olhos registrando aquela onda de sonho e manobrando como se estivesse nas Maldivas. Porém com uma bancada de no mínimo três minutos de onda!

Isso somente em um dia, ou melhor, uma manhã de surf na selva. Somente indo para entender e decifrar a energia que movimenta aquela região. Agora editando e lembrando destes momentos marcantes, que irão se repetir na próxima lua cheia de maio – a caminho do fim da temporada de surf na selva 2012.

Aqui ficam algumas memórias, a foto da filmagem da GoPro, a imagem capturada pelo Jorge e a certeza de que em breve novas imagens vão ser reveladas.

Agradecimentos especiais: Reserva, Ogio, Goofy, Sumatra Surf, HB, Academia Gustavo Borges, Power Light Surfboards, MGM Surf, Governo do Estado do Amapá, Sedel (Secretaria de Esporte e Lazer do Amapá), Setur (Secretária de Turismo do Amapá), Instituto Pororoca, equipe Surfando na Selva e a todos que estiveram envolvidos neste início de temporada.

Longas ondas e Aueraloha.

Para ver mais fotos, acesse o site Surfando na Selva.