Severino Júnior e Sérgio Laus surfam a pequena pororoca na bancado do Toio. Foto: Rafael Sobral. |
A pororoca de São Domingos do Capim foi palco do primeiro campeonato brasileiro de surf na pororoca, disputado no Brasil em 1999.
Desde então a região foi benificiada com muitas melhorias para atender o turismo em torno do fenômeno. Uma delas foi a construção de uma estrada que permite chegar ao local em duas horas de carro para quem parte de Belém.
O surf na pororoca trouxe benefício à infraestrututa da região. Foto: Rafael Sobral. |
Nesta temporada foi tão fraca que impediu a realização do evento. Não se sabe se a causa são danos provocados pela própria pororoca sobre o leito do rio, ou possíveis obras de manutenção da hidrovia existente no local.
Está sendo estudada a possibilidade de a etapa do circuito no estado do Pará ser realizada na ilha do Marajó no ano que vem, onde a pororoca é bem mais forte.
Porém, o acesso à região é bastante difícil e a pororoca é pouco explorada. A última expedição ao local chegou a se perder na região por alguns dias. Um campeonato de surf na pororoca é bem diferente de um campeonato convencional em muitos aspectos.
Para começar, a pororoca gera apenas duas ondas por dia, durante a virada da maré baixa para maré alta, que acontece aproximadamente a cada 12 horas. Assim, só dá para surfar uma onda por dia.
Felizmente, a onda pode percorrer o rio por muitos quilômetros e quebra nos trechos mais rasos. As baterias são compostas por dois surfistas e têm cinco minutos de duração. Normalmente os dois atletas dividem a mesma parede da onda e interferência só é aplicada se houver choque.
O surfista de melhor aproveitamento da onda e as manobras mais radicais avança para a fase seguinte. A pororoca acontece com maior intensidade nas datas de maior amplitude de variação de maré, nas luas cheia e nova, e propiciam poucos dias com uma boa condição de surf.
Como uma tsunami, a pororoca do rio Capim passa quase desapercebida, aflorando apenas nas bancadas mais rasas. Antes da passagem da pororoca a maré atinge seu ponto mínimo e sobe rapidamente com a onda.
A maré extremamente seca é a principal responsável pelos naufrágios das “voadeiras”, lanchas com motor de popa, que acompanham os surfistas. Para colocar os surfistas e fotógrafos no melhor ponto, as “voadeiras” andam a frente da pororoca e são atropeladas pela onda quando encalham nas bancadas.
Existem várias bancadas mapeadas pelos “pororocólogos” no rio Capim: a primeira é a do Bujaru, seguida pela do Iguarapé dos Paus, ilha do Capim, e, finalmente a ilha do Toio. Dependendo da força da maré, algumas bancadas podem quebrar ou não.
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Ribeirinhos usam seu conhecimento do fenômeno para se posisionar na melhor bancada para surfar com sua canoa. Foto: Rafael Sobral. |
Como ela não fica visível em todas as partes do rio, os diretores de prova consultam os ribeirinhos e procuram nas margens evidências da passagem da pororoca.
A organização do evento havia planejado realizar as baterias antes de chegar à última bancada. Por isso, a prática do free-surf havia sido liberada na bancada da ilha do Toio, onde o público aconpanhava o evento.
Entretanto, durante o evento a bancada do Toio
Excesso de jet-skis dificultou a realização das baterias na bancada do Toio. Foto: Rafael Sobral. |
Alguns pilotos de jet-skis foram extremamente irresponsáveis. Saltavam a pororoca ignorando a presença de surfistas na onda.
Um deles chegou a bater no surfista maranhaense Marcelo Suru em plena bateria.
A única bateria efetiva foi entre o cearense Adilton Mariano e o paraense Rogério Barros, disputada no primeiro dia e vencida pelo cearense no final da última bancada.
Experiente no surf de pororoca e integrante da elite do surf brasileiro no SuperSurf, Adilton Mariano é o melhor surfista de selva da atualidade, sendo campeão brasileiro de 2004 e líder do circuito deste ano na modalidade.
Apesar de não ter um resultado definido, uma das baterias que propiciou melhor condição de surf foi disputada entre o paranaense Sergio Laus e o paraense Severino Junior, pois os surfista conseguiram chegar à parede da onda e surfar por uma boa extensão.
O potiguar Fabrício Júnior era o único estreante entre os competidores e um dos mais empolgados com o surf na pororoca. Ele foi o surfista que ficou mais tempo na onda na etapa. Mas a onda, sem parede, não propiciou boa condição de surf.
Também participaram da competição os paraenses Sandro Rogério, Sérgio Roberto, Rodrigo Barros e o amapaense Stanley Miranda. O longboarder Rico de Souza prestigiou o evento com a sua presença.
Apesar da pororoca ter sido fraca, a experiência deste verdadeiro surf safari foi muito interessante. Dormir num barco na bacia amazônica, comer açai feito na na hora com açúcar e farinha, experimentar o Tacacá, comida indigena típica da região, e sentir a potência das super “aparelhagens” de som que embalam um povo num lugar onde o brega é pop são experiência que não poderia ter em outro lugar.
O evento é organizado pela ABRASPO (Associação Brasileira de Surf na Pororoca) presidida pelo paraense Noélio Sobrinho e contou com o suporte do governo do Estado do Pará. A ABRASPO possui representante dos três estado onde existe pororoca no Brasil, Amapá, Maranhão e Pará. Noélio Sobrinho, Marcelo Bibita, Denis Silva, Jerômino Junior e Mauro Girardi são alguns dos pioneiros envolvidos na organização da modalidade.
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Confira em breve vídeo com imagens da pororoca de São Domingos do Capim (PA).
Waves.Terra agradece o convite da organização para a cobertura do circuito brasileiro de surf na pororoca em São Domingos do Capim (PA).