#Joel Tudor foi umas das pessoas que mais contribuíram no desenvolvimento do longboard após seu ressurgimento no início dos anos 90. Nesta época, aos quatorze anos de idade, Joel já era vice-campeão mundial profissional após perder a bateria final da primeira edição do Oxbow World Longboard Championship em Biarritz para o norte americano Joey Hawkins.
No início de sua carreira, Joel era um garoto muito miúdo de cabelos loiros longos, que era facilmente confundido com uma menina, e sua principal dificuldade nas competições era a inexperiência e, ironicamente, o seu surf suave.
Certa vez num campeonato na Califórnia, Joel pendurava em hang tens intermináveis e acabou ficando na terceira colocação. Seu amigo foi perguntar aos juizes por que ele não havia ganhado e a resposta foi que Joel havia ficado apenas no bico da prancha, enquanto o vencedor havia feito curvas fortes. Joel ficou triste, mas afirmou: ?Não me importa quantas baterias eu irei perder, eu nunca irei mudar minha maneira de surfar?.
#Rapidamente Joel foi notado pelas grandes empresas e assinou um contrato com a marca européia Oxbow. Com o dinheiro que Joel começou a ganhar veio a liberdade, a fama e um estilo de vida irresponsável para um garoto, que quase o arruinou. Sua família então decidiu que ele deveria mudar-se para a Austrália e ficar sob a guarda de Nat Young.
A esta altura Joel já era considerado o melhor longboarder de todos os tempos e ao retornar da Austrália seu surf estava ainda mais polido. Joel começou então uma busca a essência do longboard, abandonou as pranchas triquilhas, começou a surfar em pranchas cada vez mais antigas até chegar a uma prancha monoquilha bastante antiga na qual ficou surfando por seis meses. Depois deste período, a prancha já estava dominada e Joel vencia baterias com ela.
#Impressionado com a facilidade com o qual a pranchas antigas deslizavam, Joel entrou na sala de shape com seu mentor Donald Takayama, para aperfeiçoar o design de pranchas antigas.
Muitas pessoas, na maioria longboarders progressivos, criticavam Joel dizendo que ele estava sendo arrogante e que era fácil surfar como ele. E na verdade, estes longboarders levantavam as mãos para o alto quando estavam a mais de um palmo do bico da prancha.
Em 1998 nas Ilhas Canárias, Joel finalmente conseguiu o seu tão batalhado título mundial ao vencer na bateria final seu amigo Beau Young, filho de Nat Young.
Atualmente Joel adota um estilo de vida bastante simples e é um vegetariano convicto, que inclusive leva seu próprio estoque de comida em suas viagens. Mas nem sempre foi assim, na infância ele era apaixonado por armas, e aos quatorze anos juntou uma turma de amigos e iniciou uma guerrilha com armas de saco de tinta contra as pessoas da vizinhança. O# resultado foi que ele acabou sendo detido por um policial que colocou uma arma em sua cabeça. A partir de então, ele tomou aversão à violência e mudou totalmente seu comportamento.
Este é Joel Tudor um garoto que foi em busca da essência do longboard, que mostrou como fazer o difícil parecer fácil e que teve personalidade para não se deixar influenciar. Confira agora a entrevista que Joel Tudor concedeu ao nosso colaborador André Luis Ferreira explicando porque está abandonando o circuito mundial de longboard.
Joel, o que você acha do novo circuito mundial de longboard?
Parece ser bom, pois levou tanto tempo para que isso virasse realidade. Mas infelizmente provavelmente ESTE SERÁ MEU ÚLTIMO ANO COMPETINDO, pois estou fazendo isto há dez anos, desde de que tinha 15 anos de idade, e agora perdi o entusiasmo pela competição.
#Acredito que atualmente não preciso mais provar mais nada a ninguém, tive uma excelente carreira como profissional, consegui o meu título mundial e NÃO AGÜENTO MAIS MINHA VIDA NUMA MALA DE VIAGEM. Eu não quero dizer que isto é definitivo, mas existem tantas coisas que quero fazer atualmente, eu tenho um irmão mais novo em casa que eu mal o conheço, pois quase nunca estou em casa.
Eu dei a minha alma e o meu tempo tentando dar ao longboard uma identidade e agora eu vejo o longboard retrocedendo. A maioria das pessoas que participam do circuito mundial não sabem realmente o que é ser um longboarder, ELES SÃO SHORTBOARDERS SURFANDO EM PRANCHAS DE NOVE PÉS.
Você acha que está faltando alma no surf de longboard?
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Não é alma que está faltando. O que nós temos são shortboarders tentando fazer a sua vida no longboard, como numa segunda chance. Estes competidores precisam realmente estudar o que é longboard, precisam dar ao longboard a sua identidade. A ASP está fazendo um bom trabalho, eles nos fornecem uma boa infraestrutura, todo mundo está fazendo o melhor que pode, mas O CRITÉRIO DE JULGAMENTO É MUITO FALHO, É IDIOTA.
Os seus patrocinadores concordam com a sua decisão?
Eles entendem. Para eles é dez vezes melhor que eu participe do Pipe Master, pois traz muito mais divulgação na imprensa. Para mim, continuar participando do circuito mundial de longboard é como lutar numa batalha que já está perdida. Eu me sinto mal de dizer isto, mas é a pura verdade. Eu não vejo a hora de chegar Janeiro, quando eu estiver no North Shore sentado assistindo o Pipe Master e pensar ?Deus! Obrigado! Está terminado. Eu tive dez anos excelentes?.
Muitas pessoas criticaram o Tom Currem quando ele saiu do circuito mundial, dizendo que ele era estranho e excêntrico. Você acha que pode acontecer a mesma coisa com você?
Não, pois minha situação é bem diferente. TOM CURREN É UM RETARDADO SOCIAL, ele não tem habilidade social para começar uma conversa. Ele realmente precisa de seu espaço, eu não. Eu preciso apenas de um tempo para ter as coisas que preciso.
Você perdeu o prazer de surfar?
Absolutamente. Eu quero surfar o dia inteiro, minha vida é o surf. Apenas o meu estimulo para a competição acabou.
Você acha que o longboard deveria ter uma associação diferenciada?
Não.Nós somos a raiz do surf e devemos ter um bom espaço ao lado do circuito mundial profissional de pranchinha masculino e feminino. Nós não devemos ficar apenas com o resto que sobra. Eu tive muita sorte de participar dos campeonatos no início dos anos 90 com Nat Young. Naquela época as pessoas realmente se importavam com o longboard, havia mais pessoas nos eventos e mais dinheiro. É MUITO TRISTE VER COMO O LONGBOARD REGREDIU NESTE DEZ ANOS.
Eu espero que os competidores percebam que eles estão afundando o próprio barco, pois eu vejo que isto está acontecendo. No longboard nós temos um metro a mais de prancha que nos possibilita andar sobre ela e é isto que nós diferencia do surf de pranchinha. Se nós ficarmos surfando apenas na rabeta iremos mostrar apenas que O LONGBOARD É PIOR QUE A PRANCHINHA, pois não realizaremos manobras mais radicais que eles. Nós precisamos usar a alma, o estilo e mostrar realmente o que é o longboard.
#Realizar eventos de longboard em picos de ondas grandes é um grande erro, quem pensa que longboard é para ondas grandes está muito enganado. Longboard é para surfar em point breaks perfeitos que possibilitem mostrar toda arte de deslizar sobre os longboards e mostrar o quão diferente ele é da pranchinha.
Eu surfo de longboard quando o mar está com cerca de um metro e meio, em condições maiores, surfar de longboard pode ser como LUTAR COM UM DINOSSAURO OU SEGURAR UM CROCODILO. Existe equipamento mais adequado para estas condições e eu sou esperto o suficiente para saber escolher o equipamento correto. A ASP também precisa entender isto.
Outra coisa que me deixa louco é usar leash. LONGBOARDERS NÃO DEVERIAM USAR LEASH, isto faria os eventos mais dramáticos, mais excitantes. Um atleta poderia perder sua bateria caso perdesse sua prancha. Existem tantos pequenos detalhes que eu acho que deveriam ser mudados. Noventa e cinco porcento dos atletas do circuito não entenderiam esta afirmação e é por isso que para mim acabou. Eu não tenho mais nenhuma contribuição a dar e agora é a minha vez.
Comentários de Rafael Sobral, Editor do Hanging Together
Aproveito esta matéria para inaugurar o grupo de discussão do site do Hanging Together e emitir a minha opinião sobre o assunto. Por favor, gostaria que vocês enviassem seus comentários e suas críticas para o nosso grupo de discussão.
Joel Tudor está correto na maioria dos pontos comentados. O ingresso dos surfistas profissionais da pranchinha na categoria longboard abriu novos horizontes para o longboard progressivo, mostrando que muito do que é feito com as pranchinhas pode ser feito nos longboards.
O problema é que o inverso também deveria ter acontecido, os novos longboarders provenientes da pranchinhas deveriam ter buscado entender melhor os conceitos relacionados ao longboard, como o noseride e o estilo.
Outro problema é a falta de juizes qualificados para julgar a categoria. O julgamento do surf em geral já é bastante subjetivo, o da categoria longboard é mais complexo ainda devido ao critério de que o longboarder para conseguir um high score deve combinar igualmente o estilo de surf clássico com o estilo de surf progressivo.
#O resultado é que o juízes acabam julgando o longboard como eles estão acustumados a julgar a pranchinha, ou seja, sem valorizar o noseride nem o estilo. Lembro de uma vez quando o pioneiro Neco Carbone sugeriu ao então novo longboarder Paulo Kid, que ele procurasse fazer mais bicos nas baterias e Kid respondeu: “Eu sei, mas eu ganho mais notas dando batidas”.
O longboard é a essência do surf, ele é o veículo que proporciona a melhor relação custo / benefício (esforço / diversão) nas ondas do mar. Se nós quisermos que o longboarder cresça, temos que fazer transparecer estes conceitos, e isto não será feito através de manobras frenáticas, como batidas e aeriais.
Quanto ao surf de ondas grandes, Joel pode ter sido um pouco radical. Realmente, os campeonatos de longboard deveriam ser feitos em point breaks com ondas longas perfeitas não maiores que um metro e meio, pois isto facilitaria e valorizaria a realização de um surf mais clássico.
#Concordo que o longboard pode não ser o veículo ideal para surfar ondas grandes, mas é uma alternativa e inclusive apresenta um comportamento interessante com relação a velocidade atingida. Gosto da adrenalina e da velocidade de uma long session numa praia como Paúba. Mas se você quer ver com um sorriso de orelha a orelha nada melhor que meio metro perfeito no Quebra-Mar em Santos ou no canto das Astúrias no Guarujá.
Quanto ao uso de leash nas baterias, realmente isto pode ser um tempero interessante para baterias, mas isto não é o mais importante.
Tenho certeza de que Joel irá fazer muito falta nas competições por vir, mas quem sabe isto possa abrir os olhos dos longboarders e mostrar que não estivemos indo no rumo certo nos últimos anos.
Valeu galera, aguardo seus comentários.
Rafael Sobral