Neco Carbone

Prestígio no Boardroom

Robert August e Neco Carbone, Boardroom, Costa Mesa, Califórnia (EUA),

O shaper Neco Carbone esteve na Califórnia (EUA) no mês passado, onde prestigiou o evento Boardroom. Neco tem um envolvimento muito forte com o surf clássico, sendo considerado um dos mais tradicionais longboarders brasileiros. 


Com um histórico considerável como competidor de longboard, ele teve oportunidade de encontrar grandes lendas do shape mundial.


 O que é o evento Boardroom?

 

O Boardroom é uma feira voltada para pranchas, equipamentos e materiais, com duas edições por ano, realizada em Costa Mesa, na Califórnia. É um evento que além de ser para o público, também é voltado para o profissional da área, porque lá também estão fornecedores de matéria prima, tanto da parte de shape, como de laminação, com stands de fibras, resinas, blocos e demonstrações ao vivo de shapes e laminações.

 

Como funcionavam essas demonstrações?


Na parte de exibições de shapes, o principal é a homenagem, que se chama Icons of Foam, onde o shaper homenageado designa um modelo que deve ser copiado por outros shapers escolhidos por ele. Então rola uma competição para ver quem faz a melhor réplica de uma prancha de três longarinas, modelo 9’8 Hobie Legacy, do lendário shaper da Hobie, Terry Martin, usando os templates do próprio Terry, além da sua própria plaina Skill 100. Os escolhidos foram Ricky Carroll (RC Surfboards), Gary Larson (Hobie Surfboards), Micky Munoz (Hobie Surfboards), Tyler Warren (Hobie/Tyler Warren Surfboards), Donald Brink (Brink Surfboards), e Matt Calvani (Bing Surfboards).

 

E quem fez a melhor réplica?


Foi o Matt Calvani, da Bing Surfboards, que levou deixando inclusive os três shapers da própria Hobie para trás.

 

E o Chunk of Foam?


O Chunk Of Foam foi outra disputa que os caras tinham que pegar um pedaço bruto de espuma e trabalhar ela do zero, fazer a curvatura no serrote. Os convidados foram Brian Hilbers, Stu Kenson, Marc Andreini, Wayne Rich.

 

Teve oportunidade de conhecer alguns ícones das plainas?


Além do Gary Larson, que é um cara da nova geração e já conhecia quando ele esteve aqui no Brasil, tive a oportunidade de conhecer vários, como Malcolm Campbell, um dos inventores da Bonzer, que encontrei na Fiber Glass Hawaii. Fui também na loja do Robert August, onde conheci o Mike Michington, que também é shaper da Robert August, que faz tudo a mão e muito rápido. Uma figura, disse que nunca usou computador e que não sabe nem mandar email. Enfatizou com bom humor dizendo que não usa computador para shapear porque as máquinas de shape não surfam. O Robert mesmo só conheci na feira, através do dono da Aloha Glassing, que na verdade é onde as pranchas dele são feitas. Na feira também conheci o Steve, que não lembro o sobrenome, que trabalha na Fiber Glass Hawaii e me apresentou para um monte deles, como a lenda Lance Carson, o Gene Cooper, da Cooperfish, o Bing Copeland, da Bing Surfboards.

 

O que te chamou mais atenção na Boardroom?


Foi que 99% dos longboards são monoquilhas, mas isso não só na feira, na praia também. Em pranchas menores, nesse conceito de minisimmons, outras monoquilhas, hot dogs, também estavam bem fortes. Pranchinhas e longboards performances não tinha. É uma feira de pranchas alternativas.

 

E fora da Boardroom?


As pranchas assimétricas. Para eles já é comum, coisa que por aqui é rara e muita gente ainda se espanta quando vê. As lojas estão cheias delas. Na verdade não tem como comparar o mercado de pranchas com o daqui. O mercado deles é estruturado. A variedade de quilhas, por exemplo, mostra bem isso. Aqui você nem encontra quilha para prancha clássica nas lojas. Lá a diversidade de modelos e marcas te deixa até perdido. As opções, na maioria, são para monoquilhas, seja para longboard ou prancha menor.

 

Você acredita que após a explosão das maquinas de shapes, está rolando um resgate das plainas?


Com certeza. Isso ficou bem evidente na Boardroom. O pessoal usa bastante a máquina lá na Califa, para poder dar conta da produção, mas a cultura do shape a mão está voltando, vide o Michington e o Lance Carson. Isso eu acho legal, porque com as máquinas surgem os shapers sem passado e o shape feito à mão é uma forma de proteger a história de shapers renomados. Eu sou adepto das máquinas, ajuda muito na produção, é muito legal poder planejar a prancha, desenhar, tecnologicamente é muito útil, mas ultimamente tenho tido vontade de fazer algumas pranchas na mão. Tem hora que me dá vontade, pego alguma lá e resolvo fazer na mão, como fiz seu último longboard monoquilha. Porque quem tem estrada, tem prazer, é gostoso fazer na mão, só que fazer muita prancha na mão deixa de ser prazeroso, é um desgaste muito grande.

 

E os blocos? A diversidade é bem maior do que aqui não é?

 

Absurdamente. A variedade de opções de plugs é enorme, tem bloco para fazer a prancha que quiser, num preço super acessível. Fui em duas fabricas de blocos, visitei o estoque dos caras, é uma infinidade. O mais legal é que eles possuem salas de shape que você pode shapear lá mesmo. Ano que vem quero voltar lá e ir direto para a sala de shape, para fazer prancha pra mim mesmo. Além de sala de shape, já lamina lá mesmo. Os caras são espertos, facilitam as coisas. A Aloha Glassing funciona assim, além da Foam-Z em Huntington Beach. Em San Clemente tem também a Bashan’s, que funciona nesse sistema, você pega o bloco, tem máquina, sala de shape e laminação. Lá vende tudo, inclusive umas quilhas incríveis.

 

A última vez que nos encontramos você comentou sobre a loja do Jed Noll, filho do Greg Noll.


Putz, a loja do cara é irada. Não tem aquele monte de prancha amontoada. São poucas e ficam expostas como se fossem obras de arte, encostadas na parede, um ambiente limpo. Ele não é preocupado com alta produção, a não ser quando viaja a trabalho. Encontrei com ele por lá, que já me conhecia de nome por causa dos amigos em comum, o Marcio Freitas e o Tuba que trabalham na Pukas, na Espanha. Ele vai muito lá e a galera falava de mim pra ele, me recebeu super bem, deu muita atenção. Comentei com ele que tinha uma prancha minha autografada pelo pai dele, ele ficou amarradão quando eu disse que não vendo aquela prancha por nada, nem que ela quebre no meio e se quebrar que não seja bem no meio do autógrafo (risos).

 

E a história da plaina?


Ele me levou na sala de shape dele e me mostrou a plaina que desenvolveu. Uma réplica da Skill 100, que saiu de linha e é considerada a Ferrari das plainas. A anatomia dela era perfeita, mas tinha uns probleminhas, como baixa rotação do motor, então ele fez uma réplica e colocou um motor mais potente, fazendo uma Skill até melhor. Ano que vem quero comprar uma pra mim e estrear ela lá. Custa U$1250,00, mas já estou juntando 100 doletas por mês (risos). Só é feita por encomenda.

 

Onde você surfou lá?

 

Peguei mais Cardiff e Dana Point, porque estava na correria de trabalho e não tive nem muito tempo de rodar outros picos.

 

Qual sua impressão sobre a cultura do surf na Califórnia?


O surf é programa de família, uma coisa que aqui só ta começando recentemente. Um exemplo que retratou bem isso foi um dia em Dana Point, quando um pai estava pegando onda com o filho de um ano no bico de um longboard classicão. Mesmo num crowd ferrenho, quando ele virava a prancha para entrar na onda todo mundo respeitava e incentivava. Lá você vê a mãe pegando o filho na escola e levando para pegar onda. Eu não sei se é uma coisa das raízes deles ou se é pelo tipo de onda, pelos point breaks, mas eles tem uma linha de surf mais calma, sem afobação, o surf é mais fluído. A gente aqui é mais agressivo.

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