O projeto do fundo artificial para surfe de Barra de Maricá (RJ) vai sair do papel.
A licitação para a construção da estrutura (uma espécie de balsa / chata metálica a ser apoiada e fixada sobre o fundo do mar) já foi publicada no Jornal Oficial do Município no último dia 11 de maio. O edital de número 05/2016 prevê a execução, construção e instalação de um recife artificial multifuncional.
O projeto conceitual foi desenvolvido pela empresa GERAONDAS (de Maurício C. de Andrade) ao longo de mais de 10 anos de pesquisa em parceria com o engenheiro costeiro Luiz Guilherme M. de Aguiar (que também é presidente da associação Arpoador Surf Club) junto à área de Engenharia Costeira e Oceanográfica da COPPE/UFRJ (instituição de pesquisa em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro).
A cidade da Região dos Lagos tem um extenso litoral exposto às grandes ondulações de sul, que arrebentam de forma muito violenta próximas da praia (praia de tombo), sendo, portanto, muito propensa à instalação deste tipo de estrutura que tem por objetivo não só criar ondas perfeitas para a prática de surfe como também criar uma zona mais calma e segura próxima à praia, favorecendo os banhistas.
A onda
O desenho da estrutura, com 86m de comprimento por 64m de largura, foi inspirado na batimetria de Pipeline (Havaí) e de outras ondas de nível internacional, e foi desenvolvido através de exaustivos estudos em modelos numéricos hidrodinâmicos e modelos físicos para alcançar a forma e posicionamento ideais a fim de atender aos objetivos propostos e investigar os impactos no meio costeiro.
Os resultados das simulações indicaram que, em média, o fundo artificial proporcionará a formação de duas raias de surfe (esquerda e direita) com aproximadamente 50 metros de extensão (sobre a estrutura) e arrebentação do tipo tubular, com a formação de duas seções distintas: a primeira, começando no ponto de arrebentação inicial (“pico”), tem 15 metros de extensão e proporciona um tubo rápido para os surfistas experientes e de nível avançado.
A segunda seção, de 35 metros de extensão, começa com velocidade mais baixa e acelera gradualmente até o fim da raia, permitindo a descida de surfistas menos experientes e proporcionando a realização de diferentes tipos de manobras.
Ondas maiores e marés mais baixas podem proporcionar ondas mais longas, assim como a conexão com a arrebentação sobre o fundo de areia até a praia.
Sobre os aspectos de impactos costeiros, a modelagem indicou que aproximadamente metade da energia da onda será dissipada sobre a estrutura, o que é favorável aos banhistas.
A tecnologia construtiva será totalmente diferente daquela utilizada na maioria dos projetos de fundos artificiais que deram errado no mundo, casos dos fundos artificiais de sacos de areia de Narrowneck (Gold Coast, Austrália) e Boscombe (Inglaterra) da empresa neozelandesa ASR.
A estrutura de Maricá foi concebida para ser móvel (arrecife artificial móvel), sendo construída em terra (estaleiro) e formando um único módulo (estrutura monolítica) de aço com características de flutuabilidade e navegabilidade que permitem que o mesmo seja rebocado boiando na superfície da água até o local de assentamento, onde será afundado através da inundação de tanques de flutuação internos.
Também foram feitos estudos de cargas hidrodinâmicas e geotécnicos para que a estrutura resista aos esforços extremos solicitados pelo meio sem ser arrastada ou recalcar no leito marinho.
Associado ao projeto deverá ser implementado um intensivo programa de monitoramento ambiental nos primeiros doze meses de operação da estrutura em Barra de Maricá, de modo a acompanhar os resultados (físicos, morfológicos e biológicos) decorrentes da instalação da estrutura e complementar as pesquisas já realizadas, obtendo mais dados para a realização de projetos de estruturas permanentes em Maricá e em outros litorais com problemas de erosão, em benefício do meio ambiente.
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