Nos primeiros anos desta década, a mídia internacional especializada em surfe batizou a nova geração de Tempestade Brasileira. O termo faz referência à grande quantidade de atletas destacando-se simultaneamente em todas as divisões do circuito mundial.
Pouco depois do termo ganhar o mundo, há cerca de dois ou três anos, houve uma forte reação de parcela da mídia especializada local, sobretudo em função da falta de apoio às categorias de base em âmbito nacional. Uma reportagem famosa da Gazeta Esportiva chegou a ser publicada sob o título: Tempestade no Deserto.
Nela, dois brilhantes repórteres denunciam o amadorismo, a incompetência, os indícios de corrupção e o oportunismo de dirigentes e entidades que, teoricamente, seriam responsáveis por fomentar o surf de base em todo o país. Ou seja, se dependesse de quem comanda o surfe no Brasil, não haveria a geração Brazilian Storm, considerada um “raio no céu azul” por uma série de fatores.
Ao fim do texto, fica claro que não é à toa o fato de grande parte dos atletas presentes no circuito mundial serem oriundos do litoral paulista, onde o apoio às categorias de base se dá com um circuito amador forte e tradicional, diretamente vinculado ao trabalho que cada uma das cidades da região desenvolve com sua garotada.
Neste contexto, Ubatuba é a principal referência. Nenhuma cidade do Brasil apoia e fomenta o surf de base como nosso município. Atualmente, dois atletas ubatubenses, Guigui Dantas e Filipe Toledo, ex-alunos da Escola Municipal de Surf, estão entre os 40 melhores do mundo. E esse apoio cresceu significativamente nos últimos três anos.
Surfe nas Escolas – Idealizado por Fábio Lima, professor e coordenador do setor de Esportes Marítimos da Secretaria Municipal de Esportes, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, o Surfe nas Escolas foi lançado oficialmente pelo prefeito Mauricio Moromizato na abertura do Ubatuba Pro Surf 2015, mas já estava em andamento desde meados de 2014.
A iniciativa de cunho social tem como principal objetivo incentivar e popularizar a modalidade e vai buscar em escolas afastadas da região central, localizadas nos bairros mais carentes, alunos interessados em praticar pela primeira vez o esporte dos reis havaianos. Atualmente, cerca de 300 jovens de diferentes comunidades de norte a sul do município participam da atividade de contraturno escolar.
“Alguns deles confessaram que nunca tinham ido à praia, mesmo morando em Ubatuba. Levar o surfe à essas crianças e levá-las à praia é fundamental do ponto de vista social e pedagógico”, afirma Saulo Gil, secretário municipal de Esportes e um dos responsáveis pelo sucesso da iniciativa. “Nossa principal meta é fazer o surfe se consolidar nas periferias ao mesmo tempo que geramos inclusão social e mantemos nossas crianças por mais tempo na escola”, completa Gil.
“Quero parabenizar a equipe da Secretaria de Esportes, de Educação, o Fabinho, o pessoal da AUS e principalmente a equipe de professores, todos muito atenciosos e dedicados. Fico emocionado quando vejo as crianças felizes e empolgadas durante as aulas”, comentou o prefeito Mauricio em uma recente visita ao alunos do projeto.
Circuito Estudantil de Surfe – Faceta competitiva e complementar do projeto Surfe nas Escolas, o Circuito Estudantil de Surfe também é uma iniciativa da Prefeitura de Ubatuba, em parceria com o professor Fábio Lima e a Associação Ubatuba de Surfe. Em 2016, ainda sem data definida, acontece a quarta edição do circuito, que cresce a cada ano desde 2013.
Em 2015, cerca de 300 atletas da rede estadual e municipal participaram das seletivas Sul, Norte/Oeste e Central. As disputas antecederam o Confronto Final, verdadeira festa de confraternização entre pais e alunos no Perequê-Açu, praia da região central ubatubense.
A programação do evento incluiu gincanas educativas e ações no sentido de promover a defesa do meio ambiente e a sustentabilidade entre os pequenos. “Esse evento é uma espécie de “divisão de acesso” do Circuito Municipal. Nele, os jovens ganham familiaridade com o ambiente dos campeonatos, com os critérios de julgamento e etc”, explica Fabinho.
Escola Municipal de Surfe – Com cerca de sete mil alunos contemplados nas últimas duas décadas, a Escola Municipal de Surfe de Ubatuba tem 20 anos de história.
Ano passado, a Secretaria Municipal de Esportes, depois de um remanejamento interno entre os professores, conseguiu abrir mais oito turmas de sete alunos e ampliou o número de atendidos para cerca de 300 jovens. A garotada participa das aulas, duas vezes por semana, nas ondas do Perequê-Açu e da praia Grande.
“São aproximadamente 600 jovens ubatubenses em atividades que fomentam as categorias de base do surfe em 2016. O sucesso das iniciativas foi tão grande que a AUS precisou antecipar em um dia o começo das disputas do Ubatuba Pro Surf desta temporada em função da procura dos alunos por vagas nas categorias de base. Temos muito orgulho do resultado deste trabalho de inclusão social, com cunho pedagógico e esportivo. Tenho certeza que Ubatuba vai gerar muitos “Filipes e Guiguis” nos próximos anos”, comemora o prefeito Mauricio.