Qualquer semelhança não é mera coincidência

Claudia Saboia, Pipeline, Oahu, Hawaii 2005

Cláudia Saboia e Cláudia Ferrari, pioneiras do bodyboading brasileiro que hoje vivem no Hawaii. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.
O que elas têm em comum? São duas Cláudias, ambas pioneiras no esporte, que deixaram São Paulo e foram morar no Guarujá depois de muitas conquistas, viagens e sonhos realizados.

 

Ferrari inclusive  saiu acelerando no circuito mundial, sagrando-se a primeira campeã mundial da história do bodyboard.

 

Hoje, vivem no Hawaii. Realizadas, bem casadas e com filhos, elas contam que só mudaram os sobrenomes. Uma é Cláudia Ferrari Costa, outra é Cláudia Saboia Lemos.

 

Porém, a paixão pelo bodyboard continua a mesma. Confira tudo o que elas acham do bodyboard na atualidade.

Ferrari bota pra baixo em Pipeline. Claudinha, primeira campeã mundial da história, é um exemplo de dedicação ao esporte. Foto: Claudia Ferrari.com.

 

Quando foi a primeira vez no Hawaii e porque optarem viver aqui?

 

Saboia Minha primeira vez aqui foi em 1987, ano em que ganhei o Op Pro na Joaquina. Aquela época foi muito boa, pois o bodyboard estava no auge e o meu patrocinador (Sundek) bancou tudo. Depois vim todos os anos, até que em 92, quando finalizei a faculdade de Fisioterapia, vim para mais uma temporada e acabei ficando mais tempo do que esperava. Percebi que aqui é um dos melhores lugares para viver e criar meu filho.

 

Ferrari A primeira vez foi no verão de 1988, para o campeonato Wahine, em Sandy Beach. Meu primeiro inverno foi a temporada de 1989 / 1990. No ano novo daquele inverno eu já estava tão apaixonada pelo Hawaii que meu pedido de ano novo foi para que eu pudesse passar no Hawaii todos os anos novos da década de noventa. Tanto se realizou que depois de quinze anos ainda estou aqui. Eu amei todo o “set up” do North Shore: pelas ondas, por ser tipo fazenda, por ser América. Foi amor à primeira vista…

 

Como é o dia-a-dia?
 
Saboia É um pouco difícil de falar, pois um dia é diferente do outro. Quando o mar está bom, deixo meus trabalhos para à tarde e vou surfar. Pratico também canoagem havaiana três vezes por semana e tenho uma firma de limpeza. Trabalho também na área de reabilitação do hospital de Kahuku e agora estou fazendo um curso de salva-vidas pra conseguir a licença pra abrir minha  própria escola de bodyboard. Já quando anoitece, é hora de cuidar da família.

 

Ferrari Eu trabalho, tenho duas lojas virtuais. Também represento no North Shore o fornecedor dos souvenires que vendo nas lojas virtuais. Tenho o site do surf report diário, vou à escola dois dias por semana, estou me formando em ?digital media and graphic design?. Pego onda, cuido da minha casa e da minha família.

 

Quais são os prós e contras de morar no Hawaii?

 

Saboia Sem dúvida .o grande contra é estar longe dos meus familiares e amigos. Os prós são estar morando em frente ao meu pico preferido (V-Land), ter bons trabalhos, uma estabilidade financeira e saber que meu filho vive com segurança e está numa ótima escola tendo uma boa educação.

 

Ferrari O único contra é estar longe da minha mãe. Os prós são tantos que não dá nem pra numerar. Alguns que valem a pena mencionar são a estabilidade financeira, a segurança e tranqüilidade social e a estrutura da América.

 

 

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Cláudia Saboia com o marido Bruno e o filho Keale Lemos. Foto: Arquivo Pessoal.

Como vocês descreveriam a atual situação do bodyboard no Brasil e no mundo?

 

Saboia No Brasil estou meio por fora, mas pelo que vejo pela internet, está bem desanimado. É uma pena, pois as brasileiras sempre brilharam em todas as competições internacionais, a hegemonia de primeiro a quinto lugar era um fato normal em pódios pelo mundo. Acho que aqui no Hawaii o bodyboard continua como sempre foi e no Japão ainda está muito forte.

 

Ferrari Acho que o  bodyboarding, depois de tanta discriminação da indústria do surf, está realmente ?down?. Nunca vi tão caído desde quando comecei, que foi quando o próprio

Cláudia Ferrari Costa e família: Male, Carlos e Kiron. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

bodyboarding começou no Brasil, há mais de 20 anos. Na Austrália e no Japão não está tão mal. Você ainda encontra atletas desses países com patrocínios.

 

Vocês acham que a explosão do surf feminino abafou o bodyboard?

 

Saboia Sem dúvida alguma. As indústrias de surfwear pararam de apoiar o bodyboard para investir forte no surf feminino, o que ao meu ver não faz muito sentido, pois a surfista e a bodyboarder têm o mesmo estilo de vida e se vestem iguais.

 

Acho que isso não poderia acontecer, principalmente no Brasil, pois as brasileiras são as melhores do mundo e colocam o nome do Brasil lá em cima.

 

Já ouvi várias meninas do surf dizendo que depois que você fica de pé numa prancha nunca mais quer surfar deitada, mas eu aposto que elas nunca surfaram um Pipeline ou um Puerto Escondido. Não sabem da emoção que é dar um rollo totalmente em sintonia com a onda, entubar lá fundo, saindo cuspida… Asseguro que depois de experimentar essas emoções elas nunca mais iam querer saber de surfar de pé.

 

Ferrari Com certeza. Só nos resta saber o porquê. As bodyboarders são mais bonitas, mais femininas e surfam ondas bem maiores. Não dá pra entender…

 

O que podemos esperar desse campeonato que será o primeiro evento de surf feminino e bodyboard em Pipeline?

 

Saboia Eu acho que vai dar uma ótima repercussão. Aliás, aqui só se fala nesse evento, pois vai ser o primeiro do surf feminino em Pipeline e será finalmente em união com o bodyboard. Um campeonato 100% feminino.

 

Queria aproveitar para parabenizar Betty Depolito pela iniciativa de organizar esse evento, conseguir a permissão para Pipe, que não é nada fácil, ótimos patrocinadores e premiação de nível.

 

Apesar de ela ser uma surfista muito influente e consagrada no Hawaii, não deixou de valorizar o bodyboard. Uma atitude que deveria servir de exemplo para os organizadores do circuito feminino de surf, que podiam muito bem incluir a categoria bodyboard feminino profissional nos eventos, pois isso geraria um retorno ainda maior, não só de público, como de mídia em geral, e ajudaria muito a união entre as meninas.

 

Ferrari Acho que pode ser bom em vários aspectos. Publicidade para o surf e para o bodyboarding. Vai ser legal ver quem é quem em Pipeline, as meninas do boggie ou as do surf. Ver se as meninas do surf vingam todo o apoio que têm.

 

 

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Cláudia Sabóia espera a cortina cair em Pipeline. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.
Hoje em dia dá pra viver apenas do bodyboard?

 

Saboia Posso dizer que teve uma época em que me sustentava legal. Quando fui morar no Guarujá, meu salário se igualava ao de alguns dos tops da época. Hoje em dia está difícil. Acho que tem algumas, no máximo três no mundo que conheço e ainda vivem do bodyboard.

 

Ferrari Nem hoje, nem nunca. Já deu pra fazer uma graninha. Consegui viajar de graça, mas não muito mais que isso. Muito poucas fizeram um pézinho de meia miserável…

 

Qual será o futuro do esporte?

 

Ferrari dropa uma da série em  Pipe. Foto: Claudia Ferrari.com.

Saboia

Infelizmente, se não aparecer alguém no Brasil que lute pelo esporte, que corra atrás de bons patrocinadores para fazer um circuito decente, o esporte vai entrar em extinção. Lembro da Evelin Levy, uma ex-bodyboarder que fez de tudo pelo esporte e foi um grande sucesso.

 

Depois que ela saiu fora, nunca mais apareceu ninguém influente para atuar nessa área.

 

Vejo o caso da Petrobras, que está fazendo um supercircuito de surf feminino, o que é sem dúvidas muito legal para o esporte.

 

Claudia Saboia rema feliz no outside do North Shore. Foto: Bruno Lemos / Lemosimage.com.
Mas, para o bodyboard, como não existe esse incentivo, as meninas tendem então a optar pelo surf, pois têm muito mais chances de ganhar dinheiro e fama. Se tivéssemos um circuito desse nível de bodyboard seria apenas uma questão de escolha.

 

Ferrari Se as marcas não abrirem os olhos, o esporte, que já está falido, vai acabar.


O que vocês poderiam dizer a uma garota que quer começar a surfar e está na dúvida entre a prancha e o bodyboard?

 

Saboia Poderia dizer o que aconteceu comigo. Comecei a surfar de prancha e não vou negar que é difícil no começo. Eram comuns os hematomas e tinha muito receio de pegar onda acima de 1 metro. Vivia frustrada por não ser radical como os caras. Foi quando vi um bodyboard pela primeira vez. Optei pelo bodyboard, pois me identifiquei logo na primeira tentativa. Além de ser um esporte também radical, é mais feminino, mais seguro e o uso do pé-de-pato te deixa com pernas saradas.

 

Ferrari Eu recomendaria surfar se ela estiver pensando em grana. Mas, se ela quiser mesmo ser radical, surfar ondas grandes, pegar tubos lá dentro e voar alto, ?go boogie?.


Deixem um recado para os internautas do Waves.

 

Saboia Em primeiro lugar queria fazer um apelo à mídia especializada, tirando o site Waves, onde ainda tem um espaço para o bodyboard, porque todas as revistas começaram a boicotar. Elas já fizeram muita grana com a gente no passado e já está mais do que na hora de poder retribuir e dar uma força ao esporte, nem que sejam lançadas edições especiais. Sem retorno não tem patrocínio. Para as bodyboarders, muita união e luta. Corram atrás e não desanimem jamais, pois vale a pena.

 

Ferrari Acho que o mais importante é gostar do que está fazendo, não interessa se é moda ou não. Às vezes falta originalidade em modinha. Uma personalidade forte faz o que quer e não interessa se os outros acham “cool” ou não. Ela faz porque gosta e porque se diverte.

 

Clique aqui para conhecer o site de Claudia Ferrari.

 

 

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