As ondas que quebraram em Maresias durante a primeira etapa do circuito paulista amador, no último final de semana, reacenderam a velha polêmica que envolve a cultura existente no surf brasileiro sobre a maneira correta de medir o tamanho das ondas.
Para os surfistas, é quase uma heresia admitir que uma onda no Brasil ultrapasse a barreira dos três metros, e falar em quatro metros é garantir cadeira cativa no clube dos mentirosos.
Para Marcos Bukão, experiente locutor e diretor de provas da Federação Paulista de Surf, (FPS) Confederação Brasileira de Surf (CBS) e International Surfing Association (ISA), o assunto é claro e não tem segredos.
“Vamos analisar, só por diversão, uma montagem da foto do Almir (Salazar) em Maresias. Levando em conta que o Almir tenha cerca de 1,70m, e mesmo um pouco abaixado na prancha teria no mínimo 1,60m. A onda é quase quatro vezes maior que ele da base ao lip, o que daria impensáveis 5,60m. Mas se alguém falar em mais de três metros e meio está cheio de razão”, explica Bukão.
Dizem que a primeira namorada e a primeira onda surfada no Hawaii a gente não esquece jamais. Para falar a verdade, não lembro mais de como se chamava minha primeira namorada, mas daquela direita em Haleiwa eu não esqueço nunca mais.
Lembro perfeitamente da ansiedade da remada, da adrenalina do drop e da vontade de gritar: “Não acredito!! Estou surfando no Hawaii!!”. Lembro também de quando, já fora d’água, ao comentar sobre a emoção de descer ondas como aquelas, ter ouvido o comentário: “Sim, realmente hoje está demais, seis pés clean”.
Seis pés?? Remexendo na memória os distantes dias da Faculdade de Engenharia encontrei a lembrança de que um pé equivale a aproximadamente 30,48 cm.
Fazendo as contas concluí que as ondas naquele dia tinham um pouquinho mais que 1,80m. Alguma coisa ali não batia. Eu me lembro perfeitamente (afinal a primeira onda no Hawaii a gente nunca esquece) de que quando completei o drop a onda era bem maior que eu.
Ora, se tenho 1,84m e a onda era bem maior que eu, como ela poderia ter 6 pés? Olhei para o pé de alguns havaianos que estavam por ali. Eram pés normais. Nenhum pé que calçasse 52 ou 54, logo, a conclusão de que o pé havaiano é maior não cola. “As ondas são medidas por trás”, me explicaram. Aí então é que não entendi mais nada. Ondas medidas por trás? A questão é a seguinte: a gente dropa a onda pela frente ou por trás? Quando levamos um caldo, a massa d’água que nos despenca na cabeça é a parte da frente ou a de trás?
Gostaria de perguntar pro Tony Fleury, pro Clemente Coutinho, pro Flávio Vidigal ou para qualquer especialista em fotos de surf se eles costumam ficar esperando a onda passar pra fotografar por trás… Vamos pensar da seguinte maneira: a quem interessa diminuir o tamanho de uma onda? Em princípio a ninguém. Muito pelo contrário, se fosse para errar, que fosse para mais, nunca para menos.
O pescador não exagera o tamanho do peixe? O Don Juan não exagera a beleza de sua amada? O carioca não diz que o Rio é o lugar mais bonito do mundo? Todos procuram valorizar seu produto. Por que só surfistas o minimizam? Perdi a conta das vezes em que jornalistas me pedem informações sobre as condições do mar. Mares excelentes para a prática do surf, com os atletas dando um show nas suas baterias recebem um medíocre “um metro e meio”.
Uma pessoa comum que leia ou ouça a notícia de um campeonato com ondas de um metro e meio vai imaginar ondas bem menores do que realmente são. E com isso talvez o evento esteja perdendo boa parcela de público. Há pouco tempo, durante uma etapa do SuperSurf em Itamambuca, Ubatuba, houve uma unanimidade em se aceitar que as ondas atingiram os dois metros de altura (já repararam como existe um certo preconceito em aceitar ondas que ultrapassem os dois metros?).
Novamente fazendo comparações de escala, estava fazendo a locução de uma bateria em que o Renan Rocha desceu uma direita onde o lip tinha pelo menos o dobro da altura dele. Todos sabemos que o Renan é um cara alto, próximo de 1,80m. Como uma onda com o dobro da altura do Renan poderia ter dois metros? Com certeza muitos de nós já ouvimos chatos que adoram parecer gringo falar: “Brother, peguei um mar de cinco pés overhead”. Ou seja, ondas de 1,50m, ultrapassando a altura da cabeça.
A não ser que o cara seja um grommet daqueles bem baixinhos, foi dita uma grande besteira. Então, por favor, me expliquem… Por que essa mania de medir a onda pelo ponto de vista de quem amarelou, de quem puxou o bico? Afinal, são esses que costumam ver a onda por trás.