Ricardo Taveira

Quarta-feira intensa no Hawaii

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O dia 13 de novembro ficou marcado como o início da temporada de ondas grandes no North Shore e também como um dia trágico por conta do desaparecimento de um surfista de ondas grandes e residente de Oahu.

 

Como de costume, os sites de meteorologia já falavam sobre esse swell com muita antecipação, e todos concordavam que as ondas estariam grandes. O pico da ondulação seria na parte da manhã da quarta feira, dia 13, fazendo com que os verdadeiros big riders já estivessem prontos para cair assim que o dia amanheceu.

 

Às 7h30, no horário que cheguei à praia, já havia um crowd no outside de Waimea, mas foi ao redor das 9h que começou a chegar gente de verdade. 

 

O swell estava bem de norte, com séries entre 12 a 18 pés havaianos. Bruno Silva me disse que às 7h entrou uma série beirando os 20 pés e que ameaçou de fechar a baía. O mar estava grande!

 

Como de costume, o crowd estava tranquilo e todo mundo pegava onda. Os surfistas mais insanos, com fome de bombas, sentavam mais para o fundo, onde o drop é mais cavado e a onda explode nas costas. Já os mais “normais” sentavam no pico onde é possível fazer o drop na parte crítica e continuar surfando a onda com segurança até o canal. O mestre Clyde Aikau, com 62 anos, era o que melhor se posicionava.

 

A nova geração havaiana de surfistas de ondas grandes estava presente em forma de gangue, todos liderados por Koa Rothman, que por sinal pegava as maiores das séries e não estava nem aí se completasse as ondas, o moleque simplesmente se joga. Os veteranos locais, como Makua, Kala, Kalani Chapman, Flynn Novak, também pegavam altas ondas e dividiam o “Deep Peak” com a molecada. 

 

Os guerreiros de Waimea (mais normais) dividiam o pico do outside. Os brasileiros presentes na água foram os de sempre: Daniel Skaf, Bruno Silva, Alemão, Alessandro Costa, Felipe, Buzzy, Cesinha e o filho Kona, e mais alguns que entraram depois. 

 

O que me chamou atenção foi a atitude do cinegrafista brasileiro Kako Lopes, que se posicionava debaixo do pico para pegar os melhores ângulos. O fotógrafo brasileiro Leonardo Dale registrou tudo do lado de fora.

 

Ao redor das 9h30, estava conversando com a Emily, a surfista mais guerreira de Waimea. Ela me disse que um amigo do trabalho que dividia o line-up com a gente tentou convencê-la a remar até o outside de Alligator’s, pois havia muita gente planejando surfar lá, já que a direção do swell estava ótima pro pico. Ela só não foi pois ainda estava gripada e não queria remar tanto, mas ele acabou indo. O surfista disse a ela que tentou entrar no mar de manhã em Alligator’s, mas as séries não davam trégua, e não conseguiu passar a arrebentação. Decidiu então entrar por Waimea, e remar até o outside de Alligator’s. Anos atrás, Todd Chesser, um surfista local, faleceu fazendo o mesmo trajeto.

 

Ao redor do meio dia, quando eu dirigia para o trabalho de cabeça feita, passei por Alligator’s e vi carros de bombeiros, ambulância e a guarda costeira com jet skis na água e helicóptero sobrevoando o pico. Sabia que algo de errado tinha acontecido, mas só fui ter certeza realmente quando cheguei em casa à noite e vi a notícia que Kirk Passmore, um surfista jovem e experiente em ondas grandes, estava desaparecido após ter tomado uma vaca em uma onda grande, ter sido varrido até o inside e tomado a série toda na cabeça. 

 

Havia jet-skis na água na hora do acidente, e um deles tentou resgatá-lo, mas com a entrada de mais uma série e pelo fato do surfista estar fraco e desorientado, possivelmente por conta da ruptura dos tímpanos, não conseguiram completar o resgate e tiveram que assistir o surfista passar três ondas de baixo d’água e não subir mais. Sua prancha foi encontrada partida ao meio, mas o surfista continua desaparecido enquanto escrevo essa matéria, 30 horas após o incidente. Os helicópteros e jet-skis continuam as buscas, mas todos já sabem que nessa hora eles estão realmente atrás do corpo do Kirk, sem chances de encontrá-lo vivo.

 

Algumas pessoas disseram que o Kirk era o único surfista do pico surfando sem um colete flutuador. Se estivesse vestindo um, talvez ele tivesse flutuado na hora que apagou.

 

Na sessão de surf na manhã do mesmo dia, estava conversando com o Kala no outside de Waimea. Ele me disse que um dos motivos principais de ele usar o colete é exatamente para que, no caso de ele apagar em um acidente, seu corpo boie e ele seja encontrado na superfície.

 

R.I.P. Kirk Passmore.

 

Ricardo Taveira é surfista, mergulhador profissional, cinegrafista subaquático e propietário da Hawaii Eco Divers & Surf Adventures, empresa de mergulho, surf e ecoturismo no North Shore de Oahu. 


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