Espêice Fia

Quê que é isso

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“Mineiro evoluiu em muitos quesitos em seus dez anos de Tour. Mais forte corporalmente, traça uma linha acima de seu estilo” comenta Fabinho. Foto: Divulgação / WSL

 

Fico só imaginando algum episódio do Zana Hickel narrando a bateria final do Margies Pro, na qual Adriano de Souza venceu John John “Juvenal” Florence em final eletrizante. “Lá vem Mineirinho, bate por baixo do lip na junção e tem mais um títuloooo! O que que é issooooo!”. É de dar risadas, mas, melhor que isso, nos enche de orgulho.

Aliás, toda essa rapaziada da geração Tempestade Brasileira vem nos proporcionando o ápice do que há muito tempo esperávamos. Foram anos de previsões e incertezas que culminaram com esse começo de ano arrasador.

Mas, não bastasse o inédito título do Medida, começamos com tudo o ano de 2015 e agora Mineiro assume a liderança do ranking. Liderança que lhe dá mais bagagem e raça proveniente de uma enorme força de vontade. Vai ser difícil nego mudar a história neste ano. Mas claro, nem tudo é simples e o surf também é uma caixa de surpresas.

Acabou de começar o ano e com certeza o ligeiro break entre Austrália e Brasil vai fazer muitos dos Tops pararem para refletir e trabalhar.

Falando em caixa de surpresas, Medina foi o que confirmou isso. Quem diria que seu início de ano seria desta forma, em banho-maria? Alguns repórteres na semana passada chegaram a me consultar sobre o caso e eu disse que acho de certa forma natural. Medina continua surfando bem, mas outros também vêm e continuam no gás.

Meu relato é de que pelo menos nesse começo de ano pra ele vai justamente ser trabalhado neste “little break”. No mínimo os resultados abaixo do seu potencial irão se reverter em bagagem acumulada.

Tirando aquela bateria do Pipe Masters, quando Filipe Toledo ficou atônito com a movimentação do título de Medina, o jovem talento de Ubatuba já dava sinais de sua evolução, culminando com a bela performance na Goldie e em Bells.

Emparelhado com Fanning na liderança após aquele evento, em The Box foi a vez de Mineiro mostrar suas garras que vinham numa crescente. Recuperando de contusões e treinando forte em Floripa no começo do ano. Surfei com Adriano em um dia ensolarado e com altas ondas. Seu semblante era radiante, mas dias depois ocorreu o fato do Ricardinho. Parece que o fato de ajudar na luta por justiça alimenta sua vontade, a perda do amigo o incentivara e puxava seus limites.

Conheço pouco Adriano pessoalmente, não tive a oportunidade de fazer trips com ele, mas sua postura arredia sempre me chamou atenção desde sua entrada no circuito nacional entre 2003 e 2005 (por aí). Sempre muito elétrico e com postura intimidadora, logo estaria perturbando o careca Slater, que também no fundo admira “De Souza” por sua postura.

Aliás, reclamações provenientes do Kelly e de outros justamente era o que estava por vir, mais um “Brazzo” tirando fatias do bolo. Nenhum outro surfista no Brasil até hoje foi tão aplicado em busca das ondas de qualidade no planeta visando uma melhor performance nos eventos. Certa vez me peguei pensando “caramba, Mineirinho não para!”. Sua casa realmente é o mundo.

Parecia só parar por contusões, que neste último caso, foi o que talvez tenha o feito voltar tão forte. Lembram de Medina no ano passado na etapa inaugural, saído de contusão? Pois bem, venceu em Superbanks. Normalmente é isso, muito foco e comprometimento na recuperação visando a volta. No primeiro momento é difícil, mas logo após se traduz em recompensa.

Mineiro evoluiu em muitos quesitos em seus dez anos de Tour. Mais forte corporalmente, traça uma linha acima de seu estilo. Seus bottons estão famosos e se ainda balança um pouco a prancha, a linha traçada retornando do lip é suave e cheia de energia, característica de seu surfe.

Este evento de Margaret foi um divisor de águas. As performances em The Box foram coisa de cinema. Tanto os drops e tubos completados, como também as vacas, que foram sinistras. Com certeza a ASP, ôps, a WSL, vai querer incorporar algum outra laje pra direita pra balancear a fama de que os regulares entubam em demasia em relação aos goofies.

Direitas ou esquerdas, cavadas e quadradas, cheias e volumosas, Adriano prova que está pronto para o título. O cara dificilmente erra e sua confiança o coloca onde está.

Os repórteres que me consultaram esses dias perguntaram sobre a possível pressão que a etapa no Brasil faria para nossos surfistas. Bom, nunca senti que o fato de estar em frente ao nosso público de torcedores pudesse ser um empecilho, aliás, as areias do Postinho, na Barra da Tijuca, com aquela multidão de Maracanã, só vão empurrar a tempestade pra cima deles.

Com todo o respeito aos monstros sagrados do surf estrangeiro, tomo a licença para usar o jargão do garotinho paranaense: Taca le pau Brazilian Storm! Taca le pau, taca le pau…

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.