Houve tempos em que era um pouco mais fácil responder à pregunta: “Quem é o melhor surfista do mundo?”. A resposta estava na ponta da língua de todos: o campeão do circuito mundial!
De fato, nas décadas de 70, 80 e até, no máximo, o início dos anos 90, era possível presenciar toda a modernidade e evolução do surf e suas manobras nos campeonatos.
Afinal, quem não se lembra das linhas suaves e técnica atemporal de entubar de Gerry Lopez, em apresentações marcantes nos Pipe Masters dos anos 70; ou da fluidez e dos cutbacks estilosos de Tom Curren nas competiçoes; ou de toda a explosão e ataque à onda que conduziram Tom Carroll ao topo do ranking.
Ocorre que, com a revolucão aérea, inciciada pelos grandes Martin Potter, Christian Fletcher e Matt Archbold, este cenário começou a mudar.
Enquanto milhares de surfistas mundo afora ficavam extasiados com as manobras progressivas e aéreas apresentadas em filmes de surf como a série Waves Warriors, nos campeonatos ainda se via um surf mais conservador, que agradava aos juízes da ASP na época.
Com o decorrer dos anos, as manobras aéreas foram caindo no gosto dos juízes e, atualmente, rendem notas altíssimas quando aplicadas com um grau de dificuldade elevado durante as competições.
A questão, entretanto, é que, mesmo com as manobras progressivas tendo se tornado parte do repertório dos surfistas do WT, o progresso na evolução do free surf continuou a todo vapor, e, normalmente, o que é considerado moderno em uma bateria de campeonato, já não é tão novo nos videos de surf.
Com a evolução das manobras e a elevação do grau de dificuldade, realmente fica muito difícil os atletas do World Tour apresentarem nas competições o que existe de mais moderno no esporte, até porque são manobras que se completam poucas vezes e depois de muitas tentativas frustradas, e podem comprometer o resultado, decepcionar os patrocinadores e tal.
Mas na condição de espectador, confesso que me fascina mais assistir ao backflip de Medina no freesurf do que suas apresentações em campeonatos, que para as competições já são altamente ousadas, mas comparadas ao seu treino, já não são tão modernas.
A verdade é que, hoje em dia, normalmente aquele choque que se tem ao ver pela primeira vez uma manobra alucinante não acontece nas etapas do tour, mas, sim em vídeos de surf, e que vídeos, cujas produções estão cada vez melhores e que conseguem, com louvor, impressionar e deixar boquiabertos surfistas do mundo inteiro, paralizados em frente à TV ou ao computador. Afinal, este não é o objetivo?
Por isso, atualmente, é muito difícil responder à pergunta: “Quem é o melhor surfista do mundo?”. São tantas imagens de manobras inimagináveis sendo aplicadas por surfistas que, muitas vezes, nem são tão bem ranqueados, que é possível mudar de opinião algumas vezes na mesma semana, depois de assistir o futuro do que será o surf competição, nos vídeos de free surf sempre à frente.
Pedro Maurity é advogado, surfista e gosta de escrever