Espêice Fia

Rái Êite 100 Tripé

Fábio Gouveia, Fernando de Noronha (PE)

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Comprei minha primeira filmadora na minha segunda temporada havaiana, no final de 1989. Desde então, várias câmeras foram passando em minhas mãos desde aquela VHSC, que já era um exelente equipamento para vídeos amadores na época.

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Depois vieram as Video 8, Hi8 (Rái Êite), Mini DV e agora as HD. A faciliade com que vacilos fossem cometidos na época das fitas eram presentes. Quem nunca gravou, viu a imagem e não deixou no ponto para a filmagem seguinte? Aaaaaaaaah, algumas vezes aconteceu, né mesmo?

Bom, eu também já vacilei várias vezes. Algumas por eu mesmo não ter deixado a fita no ponto ou então alguém que viu a imagem e tambem não o fez. E nas HD, mesma coisa, deu mole e acaba deletando a imagem. Claro, com profissionais também pode acontecer, mas com amadores de primeira viagem, nossa! mais normal.

Com meu programa Rái Êite 100 Tripé há cerca de cinco anos no Canal Woohoo, volta e meia recorro a arquivos antigos e surpresas desagradáveis são quase sempre uma costante, ou seja, fitas mofadas e material arquivado quase que perdido.

Outro dia peguei emprestado um vídeo Hi8 com o fotógrafo e videomaker profissional Flávio Vidigal, pois achar um destes para comprar já virou relíquia. Foram dias passando imagens de fitas antigas para Mini DV para poder capturar para o computador e editar algumas coisas para fazer programas retrôs.

O resultado foi que para TV as imagens ficaram com qualidade indesejável. Mas para internet, tranquilo, os arquivos funcionariam numa boa, sem nenhum compromisso. Quando fui revendo o material da fita em questão, uma triste constatação: havia gravado por cima do evento de Gradjagan em 1995, uma trip para Ilhas Reunião. 

Pelo menos alguma coisa deu para salvar e aqui segue o material editado em duas partes, algumas de minhas baterias daquele evento em 95, como tambem um passeio à cachoeira de Trois Bassins, próxima à Saint Leu, onda e palco do evento.

O vídeo começa com nossa partida em algum aeroporto, e no check-in Ricardo Tatuí, Peterson Rosa, Piu Pereira e o americano Chris Brown fazendo caretas na cena. Brown era a promessa anterior à Kelly Slater. Surfava muito, obteve bons resultados, mas nunca destacou-se tal como a mídia norte-americana previa.

Em seguida aparece a turma em um buzão, já na Ilhas Reunião e à caminho do hotel VVF, onde a maioria dos surfistas se hospedavam. Como de costume, na época viajava bastante com minha esposa e filhos. Na ocasião Elka estava grávida de nossa filha Ilana e mesmo assim estava sempre cuidando da família e gravando baterias. Aliás, a maioria dos arquivos que tenho de água são graças a ela.

O tempo em que passo editando estes videos é um passeio no tempo. Vendo Igor e Ian pequeninos, aprontando no tour, gera uma felicidade enorme. Ainda bem que enquanto possível, viajei com a familia. Foi muitíssimo importante para mim como para o crescimento e desenvolvimento deles.

O trabalho era grande, e se talvez pudesse em algumas horas tirar o foco, ao mesmo tempo gerava uma força de vontade extra. Viajar no tour é viajar também com uma segunda família, pois os amigos competidores, juízes (esses cada vez menos) e pessoas em geral envolvidas na associação estão e estavam sempre juntas.

Nessa os brasileiros, como de costume, sempre estavam mais agarrados. Teco e Piu sempre foram meus parceiros mais colados, logo depois vieram Victor Ribas, Peterson Rosa, Renan Rocha, enfim, toda a turma que entrava e saía durante os anos de WCT. E companherismo era a palavra chave da turma. Nesse evento na Ilhas Reunião, para se ter uma ideia, o fuso horário era bem chato e chegávamos com enorme cansaço à ilha. E quase sempre sem prancha ou quando chegavam, estavam quase (ou todas) quebradas.

Na primeira bateria do dia de estreia, estava escalado para surfar com Piu Pereira e o ex-campeão mundial Barton Lynch. Pregado do cansaço, não teria acordado caso Piu não tivesse batido na porta de nosso quarto. Eu também não teria feito diferente, mas esse era um real companheiro.

Altas ondas em Saint Leu e acabei vencendo a bateria. Na caminhada de volta ao hotel, Piu leva bronca de Renan, que manobrando nosso carro para irmos a um passeio turístico, relata que ele havia dado mole por não ter seguido adiante em uma onda que abriu interirinha. Assim eram as ondas no pico, muito longas e de difícil leitura, pois ao chegar na seção do inside ela dobrava de tamanho.

Aliás, essa foi uma das melhores ondas que já surfei e acho que quem teve a oportunidade de surfar ali compartilha essa opinião.

O passeio na cachoeira de Trois Bassins é imperdível. Que bela obra da natureza. Aliás, toda ilha é. Principalmente para nós, as ondas. Com filhos pequenos, não desgrudava da câmera. Queria gravar tudo, até porque, depois era uma forma de mante-los entretidos vendo as imagens. E na hora de editar um vídeo desses é onde eu me lasco, pois fico com muita pena de cortar as coisas e com isso demoro horas. Isso sem contar quando sai algum erro e perco coisas que já havia editado. Ê trabalheira!

Hoje em dia adoro o programa do Everaldo Pato, Nalu pelo Mundo. Sempre ficamos lembrando de nossa época quando viajávamos encangados com as crianças. Repito, era trampo, mas também a melhor coisa do mundo, pois família é tudo.

Voltando à cachoeira, nos deem um desconto, nossas “sungas” estavam o “ó do borogodó”! Mas aliviem, na época era moda. Quero dizer, moda não era, mas brasileiros tinham o costume de usar. Nem todos os surfistas tinham, mas algumas vezes acabavamos usando, como usamos algumas vezes até hoje, mesmo não combinando com surfistas!

Aliás, isso era uma coisa cômica para os gringos, pois sempre que aparecíamos de sunga na praia, o caras ficavam exclamando: “speedo”. Voltando ao pico, mais umas duas baterias minhas, uma contra o havaiano John Shimooka (onde Jojó de Olivença dá uma palhinha na locução) e o norte-americano Jeff Booth. Passei ambas e perdi para Munga Barry, ficando em quinto. O vencedor da prova foi Matt Hoy.

Não me lembrava de nada, pois ainda não cheguei ao desfecho do evento nas fitas. Recorri como algumas vezes de costume ao Datasurfe. Êita santo remédio! Parabêns e obrigados aos idealizadores. Só pra dar um toque, como as coisas aqui são do “tempo em que os bichos falavam”, o Shimooka hoje faz locução de alguns eventos do WT e Munga, da última vez que vi, estava de diretor de prova do WT de Jeffrey’s Bay. Já Jeff Booth, nunca mais o vi. Também faz tempo que não piso na Califórnia.

Dizem que para internet as coisas devem ser compactas, pois o negócio anda à jato e ninguém tem muita paciência, tempo, etc. Mas se você chegou até aqui, certamente poderá ter tempo, paciência ou curiosidade de ver os dois vídeos. Ambos são meio pessoais, no entanto foram o caso destes, pois muitos outros ao longo do tempo poderão surgir com muitas coisas diferentes.

Mas é aquela coisa, como são parte de minha vida, na maioria das vezes eu e minha família estaremos em questão. E é família de surf brasileira, onde muitas outras nos atuais dias de hoje, são.

Foto de capa Alberto Sodré

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