Direto do Front

Raio-x da Gold Coast

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Heitor Alves mostrou personalidade no Quiksilver Pro 2008. Foto: Robertson / ASP Covered Images.

A etapa de abertura do circuito mundial é sempre umas das mais interessantes. Quem se manteve motivado nas férias? Como os novatos vão se portar? Quem evoluiu e quem está ficando desmotivado?


São algumas das perguntas na minha cabeça, enquanto grudo os olhos na telinha e tento desvendar os mistérios do WCT e fazer minhas previsões para a temporada.
 
Antes de o campeonato começar, dois fatos me chamaram a atenção. O primeiro é que nenhum brasileiro do WCT disputou a etapa de Fernando de Noronha do WQS.

 

Para mim, um sinal de que todos estão concentrados em se manter na elite pelo WCT e chegaram antes à Australia para treinar.


Rodrigo Dornelles tem tudo para dar a volta por cima em Bell´s Beach. Foto: Leandro Tuiuiu.

O segundo foi de que os brasileiros levaram quase metade das premiações no banquete da ASP. Os títulos mundiais do longboard e pro junior são altamente cobiçados e devem ser motivo de orgulho para todos nós. Para mim, um sinal de que estamos chegando lá, pouco a pouco, com muita batalha e merecimento.
 
O campeonato rolou no beach break de Duranbah e em ondas de 1 metro no point de Snapper Rocks, a Disneylandia do surf. Como o nosso time tem cinco regulares, as condições estavam bem propícias aos nossos patrícios.

 

Um dos pontos positivos foi a ótima locução em inglês, com Pottz dando show de conhecimento técnico, mostrando, inclusive com gráficos, o grau de dificuldade de cada manobra. Excelente!

 

Tive o prazer também de assistir a Slater e Carroll fazerem uma tabelinha de comentários na primeira fase. Muito impressionante a categoria dos dois. Kelly é tão casca-grossa que até criticou a nota dos juízes para uma onda do seu compatriota e companheiro de equipe Dane Reynolds. É muita personalidade!
 
Bem, vamos ao desempenho dos brasileiros!
 
Jihad Khodr – O pior brasileiro nesta primeira etapa. Tá faltando personalidade ao campeão nacional. Tem de botar pressão e não ter dúvidas na cabeça. Chega dessa historinha de injustiçado, tem de surfar com mais garra e vontade. Tem talento para se levantar, mas tem de passar a encarar cada bateria do WCT como a sua última, e dar tudo de si.
 
Rodrigo Dornelles –
Merecia melhor sorte. Surfou bem na primeira fase, só para ver Slater vencê-lo, merecidamente, na última onda. Na repescagem, contra Ben Bourgeois, a mesma coisa, sendo vencido na última onda por um surfista com bem menos power do que ele. Sempre surfa bem em Bell’s e vai dar a volta por cima lá.
 
Neco Padaratz – Surfou com a raça e técnica apurada de sempre. Mais uma vez falhou na escolha de ondas e perdeu na terceira fase para um paciente Leo Neves.
 
Heitor Alves – Excelente a estréia do cearense voador na elite. Mostrou muita personalidade, vencendo sua primeira bateria e surfando bem contra um Slater endiabrado. O seu potencial do WCT vai ser medido pelo desempenho em Teahupoo e Fiji. Se mostrar coragem e técnica ali, pode terminar o ano no top 10. Sinceramente, acredito muito no potencial de Heitor pela seriedade que vem demonstrando na sua meteórica carreira. Futuro campeão mundial? Não este ano, mas tem de construir seu castelo dentro dos tubos de esquerda do circuito mundial.
 
Leo Neves – Surfou com a técnica, power e competitividade de um veterano. Minha aposta para melhor brasileiro no circuito este ano. Porém, tem de guardar o melhor para o duelo com os tops. Foi mau julgado contra Mick Fanning, mas faltou velocidade e tem de ter consciência de que, contra os queridinhos, vai ter seu surf colocado no microscópio.
 
Adriano de Souza – Aos 21 anos, Mineiro está pronto para o top 5. Foi garfado contra Slater. O 9.67 de Kelly foi muito (pelo menos dois pontos) pior que o dele. Gostei da personalidade do juiz brasileiro que deu 10 para Adriano. Porém, no fim da bateria caiu na onda da virada e perdeu a oportunidade de fazer os juízes engolirem suas canetas. Uma pena! Ele e todos os brasileiros que almejam o título têm de se espelhar no francês Jeremy Flores. Entrou no top 8 este ano e já aproveitou o caminho livre até as quartas para conseguir um terceiro lugar. Cá entre nós, Mineirinho surfa muito mais do que ele.
 
O campeonato favoreceu aos regulares, que dominaram 14 das 16 vagas nas oitavas. Cedo ainda para apontar favoritos ao título este ano. Os de sempre – Mick, Joel, Andy e Taj.

 

Correndo por fora, os novatos Jordy e Dane com chances iguais. Jordy é mais técnico e competitivo, mas ainda tem de provar competência nos tubos para a esquerda. Reynolds é metido a Tom Curren, meio free surfer desligado, mas entuba muito de backside. Acredito que um dos dois vai brigar pelo título já este ano.
 
Quanto a Kelly Slater, apesar das seguidas declarações de aposentadoria durante as transmissões, estou com a intuição de que ele vai competir em Bell’s e lutar com tudo pelo nono título mundial. Aos 35 anos, ainda é o melhor surfista do mundo.