Era um sábado de sol, eu lembro bem, e rolava um mar de gala, com ondas perfeitas, para delírio dos competidores, do público que chegava a praia e também, é claro, de toda a organização. O surfe internacional estava de volta ao Brasil, em condições épicas, após um hiato de 4 anos, já que o último mundial havia sido o Waymea 5000, em 82, no Rio de Janeiro.
Chegávamos à praia todos os dias cedinho pra não perder absolutamente nada. Nem as baterias, muito menos toda ação no freesurfe. Uma batida do Mark Richards, um tubo do Hans Hedeman, um cutback do Occy, ou até uma conexão, uma troca de borda, até a beira do Macaulay era alvo de comentários. Tínhamos fome de informação. Do nosso lado, Tinguinha, Picuruta, Cauli e o então amador Sergio Noronha, também arrepiaram.
Era uma época que o surfe não estava na TV, o telefone era discado e a palavra internet nem existia. Num tempo em que tudo acontecia de forma muito mais lenta e as informações nos chegavam atrasadas apenas através das revistas FLUIR, Visual, Inside e Costa Sul.
Foram dias seguidos de sol, em plena primavera de setembro, e altas ondas (por pelo menos 4 dias), trânsito infernal na Lagoa da Conceição com carros circulando com 10, 12 pranchas nos racks, os encontros nos finais de tarde no Doll na Vidal Ramos no centro da cidade pra colocar as novidades em dia, as festas no bar Arataca, sem falar nas baladas inacreditáveis na boate Chandon, onde o australiano Tom Carroll e o peruano Magoo de La Rosa tocavam o terror na pista, até às 6:00 da manhã, embalados por She Sell Sanctuary do The Cult.
Até hoje se fala em rodas de amigos da sessão clássica do fim de semana na Guarda do Embaú (SC) ou até mesmo da performance do Carroll, num Santinho de “responsa” e das loucuras que foram os bastidores daqueles dias por toda cidade, que simplesmente parou para acompanhar a movimentação nas areias da Joaquina.
O fato é que o Hang Loose Pro Contest 86, foi, sem querer, a maior revolução do surfe profissional brasileiro. Ali, o Brasil se apresentou ao mundo e tudo mudou, definitivamente, pra melhor.
Basta fechar os olhos e consigo relembrar nitidamente todos esses momentos, que vão ficar guardados pra sempre em minhas lembranças. Foram dias memoráveis, de aprendizado e evolução, em todos os sentidos, por isso, esse evento é tão celebrado até hoje, pois marcou toda uma geração.
Naqueles dias de Hang Loose Pro Contest de 86 eu era um moleque, cheio de sonhos e planos, e percebi que também poderia, de alguma maneira, viver ligado ao surfe. No ano seguinte, já então com 18 anos, trabalhava na Rádio Antena 1, e cobria o evento, com um imenso sorriso no rosto.
E lá se vão 30 anos. Nesse tempo mudei de emissora, hoje estou na Jovem Pan FM, onde apresento diariamente o Boletim Nas Ondas da Pan com as informações do tempo e do mar e continuo envolvido com o surfe.
Ao lembrar a data, 6 de setembro, busquei na minha coleção de revistas antigas as edições especiais da cobertura do evento. Foi uma verdadeira viagem que me fez voltar no tempo e sorrir novamente.