Surf seco

Reinado gringo no Brasil

Mick Fanning, WCT Brasil 2006, Praia da Vila, Imbituba (SC)

Na falta de Kelly Slater, brasileiro adota Mick Fanning para idolatrar durante WCT. Foto: Aleko Stergiou.
Não é de hoje que os valores aqui no Brasil são invertidos. Os brasileiros são os maiores fanáticos pelo surf, talvez com tanta intensidade como os australianos .

 

A grande diferença é para quem se torce ou para quem é idolatrado. Na Austrália, a paixão é pelos surfistas australianos.


Slater é respeitado lá, mas eles preferem e vibram muito mais pelos locais, o que não acontece por aqui.

 

Aqui a paixão chega a virar até babação pelos gringos.

 

Quando eu era muleque e ia para o Rio de Janeiro em 1979, 1980, ficava Fred d?Orey, Rosaldo, Coelho, Leal, Gironso, galera do Arpoador da época.

 

Rolavam as triagens do Waimea 5000 no Arpoador, que fazia parte das oito ou nove etapas do circuito mundial IPS.

 

Aprendi com a malandragem carioca que é muito feio ficar nessa de babar ovo de gringo…

 

Malígno, Jeffersson Cardoso e Bitenka faziam os gringos folgados saírem correndo pro hotel… D?orey, Picuruta, Cauli, Valério faziam a mala deles na água…

 

Naquela época inventaram ABOG, citada aqui pelo ex-colunista Julio Adler. A Associação dos Baba-Ovo dos Gringos, aumenta a cada ano, com sócios e sócias de carteirinha, e camisetas com fotos dos gringos nela.

 

Naquele Waimea 5000, havia a febre da patinação. E numa noite um ano depois de Cheyne Horan vencer o campeonato, o paulista Alemão de Pernambuco, loiro igual ao Cheyne, chegou ao ringue e o locutor falou no microfone que havia a presença do australiano…

 

Alemão tirou uma onda e deu autógrafos se passando por Cheyne. Quando descobriram a farsa, ele foi muito mal-visto pela galera do Arpoador. Os casca-grossa ficaram no pé dele. Mas dá pra sacar que a cultura brasileira é a de idolatrar gringo, até mesmo por engano.

 

Os fanáticos da ABOG este ano ficaram decepcionados porque Slater não veio. Também, depois de cumprido o objetivo, ele tinha mais o que fazer, fugir dos ABOGs do Brasil.

 

Os fanáticos desamparados pela falta do Slater rapidinho pensaram: ´Vamos então lamber as bolas do Mick Fanning´…

 

Talvez por isso exista a sigla LMB (lick my balls). É uma sigla da Austrália, talvez inspirada no Brasil…

 

Aqui a sigla rola ao pé da letra, como eu presenciei uma trouxa há uns dois anos na Joaquina. Ela pediu um autógrafo para o Joel Parkinson nas costas.  Cheio de cerveja na cabeça, ele assinou´Lick my ball´s Ass. Joel´.

 

Concordo que o Brasil este ano, ou no decorrer dos últimos anos, não tem tido resultados expressivos, principalmente no WCT, que é o que realmente conta, disputa do título mundial…

 

As ondas são difíceis, o nível é animal e tem outro fator que pesa forte. Parece um fator oculto, mas quem conhece e acompanha as baterias pode já ter percebido.

 

O head-judge, quem realmente coordena as notas, é um australiano. Ele está pesando na dos brasileiros, muitas vezes segurando algumas notas de brasileiros quando finalmente conseguem pegar uma high-score.

 

Não que ele não goste de brasileiros. Ele curte os ?crazy brazilians?, mas como um legitimo e patriota aussie, dá a preferência para os australianos, é claro.

 

Isso já aconteceu há alguns anos com um outro head-judge no poder da ASP, chamado alguma coisa Fooks.

 

Esse cara era juiz na minha época e ele nunca me deu uma nota acima de 6,5, mesmo quando outros me deram 8,5, em Sunset ou na Barra da Tijuca.

 

Naquela época, WCT e Fooks como head-judge, os brasileiros sofreram muito nas notas. Perguntem ao Bronco, que se não me engano foi quem bateu boca e falou as reais. Depois daquilo o cara renunciou…

 

Do jeito que está, os brasileiros não estão passando nem das oitavas. Quando se dão bem, ficam em quinto.

 

Um terceiro lugar é o melhor que conseguimos este ano, uma única vez, e uma vitória parece estar difícil …

 

Este é só um lado, porque a tiração no Hawaii, ou em outros países fora das baterias, também é forte.

 

Somos tratados como terceiro mundo, ou seja, seres inferiores. Perguntem ao Marcelo Nunes se é toda essa facilidade quando ele se aventura mundo afora para representar o Brasil…

 

Se puderem puxar nosso tapete, eles puxam. E ainda vão rir depois, tomando cerveja…
Infelizmente é assim e sempre foi assim. A influência dos Estados Unidos (e da Austrália hoje) no Brasil e no surf, não é de hoje.

 

Imitamos os gringos faz tempo, mas isso nos anos 60… Hoje, ainda pior, as marcas estrangeiras dominam nosso mercado, fazendo os donos de marcas de mais de dez anos venderem a alma para os gringos e caírem pra dentro da empresa deles…

 

O consumidor, quase que 100 % da ABOG, acha o máximo vestir roupas de marca gringa, para se sentir um ´Bruce´ ou um ´Mick´…

 

Só tomem cuidado, porque na real podem estar parecendo um ´Michael´, isso mesmo, um ´Michael Jackson´.

 

Michael Jackson, segundo definição do legend Capilé, é como o oposto do ídolo, aquele que é negro e quer ser branco, que apavora as criancinhas e coisas do tipo…

 

Se existe alguém que foi tratado como rei ou recebeu grandes adiantos quando foi ao Hawaii, Califórnia ou em algum point-break crowd da Austrália, esse alguém é exceção, porque ninguém está nem aí pra um ´fucking brazilian´ quando gastamos nossos suados reais na terra deles.

 

Reflitam um pouco, pensem como é difícil para os brasileiros e pensem duas vezes antes de facilitar tanto para os ´outros´.

 

Havia antigamente uma pixação nos muros que dizia: ´Menos boi pros gringos´. Essa estória de ?Lick My Ball´s? não dá mais pra agüentar.

 

Vamos valorizar o surf tupiniquim, torcer, apoiar e incentivar quem está batalhando por nós.

 

Apesar de serem privilegiados, os tops brasileiros que conseguem fazer o que amam para viver, sabem que  qualquer profissão exige bastante da alma.

 

E eles têm os momentos difíceis, como as derrotas, as injustiças acontecem toda hora, os custos, às vezes a falta de patrocínio, atrasos de vôos e coisas do tipo…

 

Eles estão lá para defender o nome de nosso país, dar a cara pra bater… Eles são os nossos embaixadores do surf … Junto com eles vai a nossa vibe, nossa torcida… É o Brazilian World Atack ? SMF neles, Brasil!

 

Clique aqui para saber mais sobre o movimento SMF (Surfers Moving Forward e dos produtos SMF).

 

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