Reinando em terreno rochoso

Renan Rocha, Billabong Pro Teahupoo 2002, Teahupoo, Tahiti

Renan em frente à loja G-Zero, um dos seus patrocinadores. Foto: Nancy Geringer.
O top 45 do WCT Renan Rocha é o novo entrevistado da seção “Perfil” do Waves.

 

Aos 32 anos de idade, Rocha disputa o Circuito Mundial há 12 anos e neste momento está no Hawaii, onde busca um bom resultado no Pipeline Masters, última etapa do WCT, para se manter na elite mundial em 2003.

 

Para isso ele precisa chegar às quartas-de-final do evento para entrar na zona de classificação e se garantir no circuito no ano que vem.

 

Mas ele possui um bom retrospecto em Pipeline. Em 2000 conseguiu um honroso terceiro lugar e, de quebra, foi o primeiro brasileiro a tirar uma nota 10 num evento em Pipe.

 

Como conseqüência, em 2001, o evento foi realizado apenas para surfistas convidados e Renan entrou na lista, entre os oito especialistas estrangeiros no pico. Segundo ele, o segredo é ter “muita vontade para dropar Pipeline”.

 

Renan figura na trigésima segunda colocação no ranking e afirma estar tranqüilo para a decisão. “Minha cabeça está calma. Quero ir lá e surfar bem onda, o resultado no campeonato será uma conseqüência”, diz.

 

 

Onda nota 9,5, no Pipe Masters de 2000. Foto: Juninho.
Quando está no Brasil, o carioca radicado em São Paulo costuma treinar nas ondas do Guarujá e Itamambuca. Para dropar as grandes, Renan se largava pelo mundo em busca de melhores ondas. Com isso surgiu a base para surfar mares como Teahupoo (Tahiti), Pipeline e Uluwatu (Indonésia).

 

Sempre que os campeonatos rolam nesses picos, Rocha aparece como uma das esperanças brasileiras de pódio. “Independente de qualquer coisa, gosto de surfar onda boa. Já fui para a Indonésia, onde fazia apenas uma refeição por dia, mas surfava ondas boas. Era isso que importava”, conta Renan.

 

“Hoje em dia tenho sorte dos campeonatos serem realizados nessas condições, mas não fiz nada premeditado”. Para ele, este é um dos circuitos mais disputados dos últimos tempos. “Com os resultados que obtive, em qualquer outro ano, estaria em sexto no WQS, por exemplo. Esse ano foi bom, só que foi também o mais difícil desde quando estou no Tour”, afirma Renan.

 

Se cair fora da elite mundial, o surfista se diz tranqüilo e no rip para tentar a reclassificação  pelo WQS em 2003. “Vou correr os eventos certos, sem nenhuma pressão”, conta.

 

 

O atleta adrenado durante entrevista depois do Pipe Masters em 2000. Foto: Juninho.
Renan presenciou o nascimento do formato WCT e WQS, lançado em 91. Antes disso, o Tour era disputado por qualquer atleta. Sendo que os únicos privilegiados eram os Top 30, que só estreavam nas duas últimas fases de pré-classificados, antes de às oitavas-de-final.

 

Quando esse formato estreou, Rocha quase desistiu de seguir a vida de surfista profissional. “Justamente nesse ano consegui ficar em 49º, mas com a mudança apenas os 44 primeiros colocados estariam no WCT no ano seguinte”.

 

Somado a isso, ele sentiu na pele as dificuldades em se largar, tendo que se virar com pouca grana, além de ter que aprender a lidar com o notório preconceito que cercava os brasileiros.

 

Nascido em 02 de dezembro de 1970, no Rio de Janeiro, Renan Tavares Rocha mudou-se com a família para São Paulo ainda na infância. Sua mãe, a dona-de-casa Dulce Tavares Rocha, deu o incentivo inicial para que ele se dedicasse às competições. Já o pai, o engenheiro Armando Renan Martins Rocha, o alertava para as dificuldades de seguir carreira como surfista profissional no Brasil.

 

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O surfista usa toda sua experiência para dropar tubos como este em Teahupoo, Tahiti. Foto: Tostee/ASP.

No início da carreira, o atleta sofreu do mal que aflige a maioria dos surfistas da capital: a falta de contato com o mar.  “Minha maior dificuldade era estar sempre em contato com as ondas”, conta.

 

No total, são treze anos disputando eventos profissionais, além de doze temporadas havaianas no currículo. Sua melhor colocação no WCT foi décimo oitavo lugar obtido em 98.

 

Além de experiência e surf forte para dropar os principais picos do mundo, os doze anos na elite já lhe proporcionaram também um pé-de-meia de cerca de US$ 344 mil com premiações de campeonatos, segundo o site da ASP World Tour.

 

Confira a entrevista realizada com o atleta antes dele partir para disputar o WCT e a Tríplice Coroa Havaiana.

 

Quando e como você começou a pegar onda?

 

Na verdade sempre gostei do mar. Quando era pequeno praticava pesca submarina e depois comecei a pegar onda de peito no Posto 5, em Copacabana (RJ). Minha mãe percebeu que eu tinha afinidade com o mar e me deu uma prancha para ver se seria um esportista. Quando peguei a prancha falei: É isso! Parei de praticar todos os esportes que fazia para virar um surfista e me dedicar inteiramente ao esporte.

 

Renan comemora a vitória numa bateria do Rip Curl Pro, realizada neste ano em Bell’s Beach, Austrália. Foto: Pierre Tostee/ASP.
Você enfrentou algum tipo de dificuldade no início?


 Eu nasci no Rio de Janeiro e mudei para São Paulo com oitos anos. Aprendi a surfar em São Paulo, por isso tinha dificuldade de ir à praia. Naquela época não era tão fácil descer a serra porque o surf ainda era muito “cru”. Tinha que ir todo final de semana com minha família para o Rio ou, às vezes, minha mãe me levava para o Guarujá. Minha maior dificuldade era manter o contato com as ondas.

 

Quantos anos tinha quando começou?


Tinha 12 anos quando minha mãe me deu a primeira prancha.

 

Você sempre teve apoio de seus pais?


Tive mais apoio de minha mãe. Ela é daquelas pessoas que incentivam a fazer o que tem vontade. Me levava à praia. Meu pai já pensava mais no futuro. Ele conversava, falava que se fosse surfista, ele não iria me patrocinar, que eu não ia ganhar dinheiro com isso. Mas, como ele é esportista nunca proibiu. Apenas me prevenia sobre o futuro. Minha mãe era quem incentivava, bancava, fazia as loucuras.

 

Quando iniciou sua carreira nas competições?


Com pouco mais de 12 anos. Eu ainda era Mirim e disputei meu primeiro campeonato no Arpoador (RJ), em que cheguei à semi-final. Na

Renan detona com seu backside afiado. Foto: Pierre Tostee/ASP.
época, fui vencido pelo Juninho, maior talento da área. Quando perdi essa bateria, me dei conta que poderia ter um futuro no esporte. Que podia continuar…

 

Quando sentiu que realmente seria surfista profissional?


Com 15 anos, pois comecei a disputar o Circuito

Municipal de Ubatuba e eventos promovidos pela Associação de Surf de Ubatuba, com surfistas como o Costinha, Mariano Tucat, entre outros. Nessa época, comecei realmente a competir, conhecer o pessoal de Ubatuba.

 

 

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Renan e o brother Fábio Gouveia. Foto: Site Fábio Gouveia.

Fale um pouco sobre sua trajetória como surfista Amador.


Foi engraçado porque quando comecei a ir para Ubatuba, meu amigo Enéas, fabricava as pranchas Surfari. Ele me viu competir e deu uma força. Foi meu guru no início da carreira. Me levava para os campeonatos quando eu não tinha como ir, dava toques nas competições. Aí fiz minha primeira viagem internacional para o Peru e, quando voltei, comecei a ter uma visão mais ampla dos eventos. Comecei a viajar e fui para o intercâmbio Brasil X Estados Unidos, em Florianópolis (SC), onde venci a categoria Júnior. Quando tinha 17 anos, o Diniz Iozzi era o técnico da equipe Rip Wave, a melhor da época no Brasil. Ele me convidou para fazer parte da equipe e me deu uma ajuda  profissional na carreira. Quando isso aconteceu, o esporte começou a crescer e eu percebi que realmente viveria do surf. A maior batalha era fazer o estilo de vida do surfista entrar na sociedade, sermos respeitados. Essa era nossa maior briga. Acabei indo direto para a categoria Amador, pulei a fase Mirim, Júnior etc.

 

Como estava sua vida nessa época?


O Pardal direcionou minha carreira e aos 18 anos fui morar na Austrália, porque o surf brasileiro ainda era muito novo. Bem ou mal, os australianos comandam até hoje e eu pude conhecer a geração que disputa comigo o Circuito  Mundial. Aprendi inglês, surfei ondas diferentes e, principalmente, perdi o medo dos gringos. Eles eram um bicho de sete

Rocha em Saquarema, Rio de Janeiro. Foto: Ricardo Macario.
cabeças. Quando voltei, disputei uma vaga para o Mundial Amador, mas perdi por WO, pois tinha acabado de sofrer uma cirurgia de apendicite. Daí em diante me profissionalizei.

 

Como foram os primeiros anos no Circuito Mundial?


No primeiro ano quase parei de surfar. Eu tinha o patrocínio da Billabong e ganhava uma mixaria. Com esse dinheiro, tinha que viver, pagar contas e correr o Circuito Mundial. Fui para a Europa e disputei a perna européia, sendo que não passei uma bateria. Era muito difícil para um brasileiro conquistar espaço. Era tudo mais difícil. Até questionei se conseguiria fazer parte da elite.

 

Como era o formato do Circuito Mundial nessa época?


Ainda não era dividido entre WCT e WQS. Eu entrava desde o início, tinha que passar toda triagem, passar os 44 (pré-classificados) e só depois caia com os Tops. Aí começava o campeonato. Imagina naquela época os brasileiros sem nada. Os atletas com maior destaque eram o Fábio Gouveia, que tinha sido campeão Mundial Amador, e o Teco, porque morou nos Estados Unidos um tempo e já conhecia os americanos.

 

Você passou por muitas roubadas nessa época?


Era tudo novo. Precisávamos de patrocínio e conhecimento, que não existia. Hoje em dia, se você quer informação sobre determinado pico, consegue ver a onda quebrando na internet. Não tinha isso. Não tinha nada. Eram três ou quatro surfistas mais viajados, que competiam como o Marcelo Bôscoli, Renato

Rocha feliz da vida quando fechou patrocinío com a surfwear francesa Oxbow. Foto: Nancy Geringer.
Phebo e mais alguns outros. Nós estávamos começando, desbravando, abrindo a trilha. Não sabíamos qual prancha levar, o que fazer, com quem reclamar, onde ficar, o que comer. Tudo era novidade.

 

 Os brasileiros procuravam se unir para superar essas dificuldades?


Eu ainda era um moleque e tinha os surfistas mais velhos, como o Picuruta, Pardal. Eles me levavam. Depois, a medida que o circuito foi ficando cada vez mais profissional, os atletas foram ganhando conhecimento. Foi uma coisa  natural da nossa cultura. Brasileiro gosta de ficar com brasileiro, não consegue se entrosar com os gringos. Por isso passávamos mais tempo juntos.

 

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O atleta arrepia em Mundaka, Espanha. Foto: Pierre Tostee / ASP World Tour.
Você praticamente viu nascer esse novo formato do Tour, dividido entre os circuitos WCT e WQS ?


Eu fiz parte do nascimento da associação, dos debates. Claro que naquela época eu era um moleque e a minha influência não era tão importante como é hoje. Mas vi tudo acontecer. Na época estranhei um pouco, porque eu queria subir degrau por degrau. Aí eles resolveram aplicar as mudanças e eu tinha que acabar entre os 44, mas fiquei em 49º.  Aí perdi um ano de novo, para retornar a elite. Tive que correr o WQS de novo e para entrar no ano seguinte para o WCT.

 

Como foi o impacto dessas mudanças na cabeça dos surfistas?


No começo o pessoal achava bom, mas também tinha o lado ruim. Antes havia mais campeonatos e menos dinheiro. Por exemplo, rolavam 300 campeonatos, mas a premiação não era tão boa. Fora isso, havia o Trials que também premiava, ou seja, rolava um evento paralelo ao principal. Mesmo se você perdesse no main event, ainda tinha outro campeonato para disputar. Então, você tinha duas chances, mais a expression session. Depois que mudou, a premiação cresceu e o número de campeonatos diminuiu, porque todo mundo queria ficar mais tempo em casa, ter a chance de passar o Natal com a família. Antigamente, o Circuito ia de janeiro a fevereiro e você não parava em casa. O Natal era no Hawaii e o Ano Novo na Austrália.

 

Pode-se dizer que você foi um dos privilegiados com as mudanças mais recentes do Circuito Mundial, com a inclusão de picos com ondas grandes e fortes?


Esquadrão brazuca ataca no WCT. Foto: Pierre Tostee/ASP.
Eles mudaram os locais também para dificultar o ingresso dos brasileiros à elite. A verdade é essa. Entraram excelentes surfistas como o Fábio Silva, que chegavam nas ondas grandes e não conseguiam ter um desenvolvimento como os australianos e americanos. Eles pensaram que para se defender, teriam que aumentar a pontuação nos point breaks, pois os brasileiros são excelentes surfistas em beach breaks. E mais, eles quiseram previlegiar um patrocinador que consiga fazer uma etapa em onda boa. Como prêmio, o surfista ganha 20% a mais na premiação. Isso faz com que Kelly Slater, Sunny Garcia, todos os grandes nomes do esporte estejam presentes. No Brasil eles não vieram, porque não é uma etapa “prime”. Com isso, os “nomes” do circuito acabam não querendo competir nesses eventos sem pontuação extra. Fizeram isso para brecar os brasileiros com essa combinação de patrocínio.

 

Essa mudança afetou os brasileiros que disputam o Tour?


Hoje em dia, dos brasileiros que estão na elite, metade sabe surfar qualquer onda e a outra metade é considerada “moleque”. Ou seja, tem que melhorar em ondas boas. Mas isso não é culpa dos gringos. Eles fizeram isso, mas os brasileiros também podem melhorar. Para isso, tem que viajar, investir, não ficar só no Brasil.

 

Você acredita que o Circuito está nos moldes ideais para os surfistas?


Eu acho que a fórmula está perfeita. Tem apenas um ou dois campeonatos que precisam ser trocados. Um inclusive é o do Brasil, que ainda precisa ser acertado.

 

Por quê?

 

Renan Rocha foi um dos vitoriosos na primeira fase do Figueira Pro, realizado neste ano em Portugal. Foto: Ellis/ASP.

Devido às ondas. Hoje, o circuito pode ser considerado de sonho. Se olhar friamente, o

Brasil está num lugar e com uma data que ainda precisa ser acertada. Por exemplo, eu gostaria que o WCT fosse em Noronha, mas teria que ser em fevereiro. A ASP não quer começar o Circuito no Brasil. Querem fazer em junho. No meio do ano tem o Rio de Janeiro, que às vezes acaba sendo prejudicado pelas condições do mar. Poderia ser em Florianópolis, mas aí perde em mídia. Esses acertos ainda precisam serem feitos, mas de resto está excelente. Mundaka também tem que dar uma melhorada, pois não quebra quatro ou cinco dias seguidos e com certeza alguns surfistas saem prejudicados por ter que surfar na maré cheia. Isso é outra coisa que precisam corrigir para ficar bom.

 

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Vai uma banana aí? Foto: Site Fábio Gouveia.
E o valor da premiação?


Antigamente, em duas semanas, tínhamos dois campeonatos. Hoje, temos um. Aí você fala que a premiação aumentou. Mas os custos também aumentaram. No final das contas você acaba ganhando o mesmo que conseguia antes.

 

Você tem amigos estrangeiros no Tour?


Amigos nenhum, tenho conhecidos.

 

 Entre os brasileiros, com quais atletas você se dá melhor?


Me dou bem com todos, mas gosto de viajar com os caras da minha geração.
Eles me entendem!

 

Como foi o seu aperfeiçoamento em ondas grandes?


Sempre gostei de onda boa. Na época que morei na Austrália, fui para a Indonésia e passei quarenta dias lá. Fazia uma refeição por dia, mas pegava onda boa. No Hawaii, ficava dois meses para aprender a surfar. Hoje em dia, um moleque não quer perder o verão no Brasil para ficar ralando fora do país. Eles ficam 15 dias e voltam. Eu quis isso para mim e a conseqüência foi aprender a surfar onda boa. Hoje, o circuito rola nesses mares, mas não fiz premeditado, fiz de coração e acabei colhendo alguns frutos. A nova geração também tem que fazer isso. Desde pequeno tem que investir e não ficar no Brasil na vida boa. Eu também não sabia surfar essas ondas, o Peterson (Rosa) também não, nem o Fabinho (Gouveia).

 

Essa vaca de Renan quebrou sua prancha, mas ele pegou outra e voltou no maior gás para o outside, em Pipe. Foto: Ricardo Macario.
 Qual foi sua reação quando a ASP anunciou a mudança dos lugares dos eventos, para locais clássicos e que você sabia que se dava bem, além de gostar de surfar?


Na verdade nem me preocupei com a notícia. Só fiquei feliz porque sabia que ia estar lá de qualquer jeito. Só que ia surfar 30 minutos com mais um cara. É um sonho. Além de competidor, sou surfista de alma. É sonho pensar em surfar meia hora Pipeline sozinho. Ter tempo para me posicionar da melhor maneira dentro d’água, sem ter que pensar em alguém ao lado azucrinando.

 

Como você lida com o localismo em lugares como o Hawaii?


Neste ano mesmo, o localismo está punk para os brasileiros. Vários entraram na porrada e há muitos na lista. Eu me escondo e não surfo mais as ondas famosas. Chega de briga por causa de onda. É muito ego. Dane-se, vou surfar uma onda pior sem crowd. Eles que se matem.

 

Você já passou por alguma situação chata como uma briga por esse motivo?


Passei e nem quero lembrar. Passado já foi, hoje é hoje e amanhã não existe.

 

Como você se prepara fisicamente para enfrentar ondas como Teahupoo e Pipeline ?


No começo era na raça, na vontade. Não tinha nada de preparação, nem vitaminas. Nada. Há algum tempo o surf cresceu, começou a ficar mais sério e profissionais como nutricionistas, doutores, preparadores físicos começaram a trabalhar com o esporte buscando viver disso também. Só comecei a me preparar mesmo de

Rocha e Guilherme Herdy de olho no mar. Foto: Site Fábio Gouveia.
quatro anos para cá, com o pessoal do Instituto Marazul. Faço acompanhamento com nutricionista, médico e preparador físico. Antes era na raça e vontade de ir lá pegar onda boa.

 

 De que maneira esse acompanhamento refletiu no seu surf?


Se eu tivesse o conhecimento que tenho hoje, com meus 16, 17 anos… É muita coisa! Parece que não, mas quando você é jovem tem um vigor físico excepcional. Agora, imagina esse vigor, aliado ao conhecimento, prancha adequada e corpo adequado. É o sonho de consumo de qualquer surfista profissional. Mas naquela época isso não existia.

 

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Renan bota para dentro no Pipe Masters 2001. Foto: Ricardo Macario.
Como você lida com o fuso horário e a alimentação em outros países?


Como treino com a equipe do Instituto Marazul e o preparador fisico Fredy Jacob, eles me deixam sempre prontos para esses obstáculos. Antigamente era na raça, hoje vejo que perdi muito com o amadorismo do início da carreira.

 

No início de sua carreira você comentou que seu técnico era o Diniz Iozzi. Você não tem mais um técnico?


O Pardal foi meu único técnico. Depois que trabalhei com ele, eu mesmo fui me acertando. Hoje em dia, não tenho até porque acredito que sei mais do que um técnico poderia me ensinar. Às vezes, preciso de uma pessoa para agüentar minhas pancadas, porque quando você perde quer descontar em alguém. No momento em que você está lá é para ganhar, depois eu acho que o técnico é fundamental para acalmar e mostrar os  erros.

 

Em 2001 você participou do Pipe Master entre os oito convidados estrangeiros especialistas no pico. Como você recebeu a notícia da sua participação e a inclusão nessa categoria?


Não vibrei porque imaginei que eles não convidariam brasileiros. Se convidassem, pensei que seria eu, o Guilherme (Herdy), ou o Calunga (Aldemir). Mas como ali é um jogo político e, definitivamente, não gosto de fazer política. Pensei que se tiver que ser, seria.

Rocha ao lado do quiver de pranchas da loja G-Zero. Foto: Nancy Geringer.
No momento em que me convidaram, imaginei que minha performance no ano anterior (quando o evento incluiu todos os Top-44 do WCT e Renan acabou na terceira colocação), confirmou que eu sei surfar Pipe e como mérito estava sendo convidado. Me deram o prêmio de poder surfar Pipe, representar o Brasil entre os melhores surfistas nesse pico. Isso foi mais gratificante do que ganhar o evento, pois mostrou o reconhecimento de pessoas que fazem e conhecem o esporte. Estar entre Tom Carroll, Derek Ho, Kelly Slater, CJ Hoobgod foi um previlégio que não tem preço. Só achei que eles poderiam ter convidado mais dois brasileiros, o Herdy e o Calunga pelo menos.

 

Como foi sua participação nesse evento?

 

Fui até as quartas-de-final. Foi uma bateria disputada, peguei uma das melhores ondas da bateria, mas fui marcado no pico e não consegui pegar mais nenhuma para chegar à semi-final.

 

E no ano anterior, quando você finalizou em terceiro lugar e ainda arrancou um 10 unânime dos juízes?


 Esse campeonato foi diferente de todos os outros. Não por ser o Pipe Masters. Foi uma vibração diferente, pois estava com meus amigos Piu e Enéas. A maneira como  tudo começou. Eu estava no Brasil e comecei a organizar a viagem e decidi leva-los. Pessoas que nunca imaginei me incentivaram, falando que eu tinha peso e sabia surfar a onda.

Com esta onda nota 10 em Pipeline em 2000, Renan Rocha adquiriu status de Pipe Master. Foto: Pierre Tostee/ASP.
O Cristiano Guimarães foi um deles. Eu senti uma vibração muito boa. Quando o campeonato foi acontecendo… eu sempre sonhei em surfar  Pipeline com ondas de 6 a 10 pés e vento terral. Os três dias de evento rolaram assim. Não estava preocupado com o campeonato, mas em surfar bem a onda, me posicionar bem, ter uma prancha boa. Associei tudo isso ao evento. Só não ganhei porque era para ser do Rob Machado. Se você fizer uma retrospectiva fria, era a vez dele ganhar. O Machado já tinha batido na trave em outros anos e esse Pipe Masters era dele. Na semi, ele virou a bateria que disputava contra mim, numa onda difícil de ser completada. Ele pegou a onda e no último segundo saiu do tubo, tirando a nota que precisava. Foi merecido, era a vez dele.

 

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Renan e Gouveia à caça das ondas.  Foto: Site Fábio Gouveia.
E a onda nota dez?


Foi histórica porque era uma bateria contra o Shane Beschen, que gosta de tirar onda dos brasileiros. Ele gosta de olhar para nós e dizer que ganha da gente nessas condições de mar. A bateria foi lá e cá. Ele tinha a prioridade e pegou uma onda que me deixou precisando de uma nota 8. Faltavam três minutos e vi a série vindo. Desliguei o relógio e pensei que se tivesse que vir… Quando a onda veio, fui remando, fui que fui. Minha alma mandou ir e tirei aquele 10 unânime dos juízes. Eu precisava de um oito e sabia que só um tubo muito bom poderia me dar uma nota excelente. Não imaginei o 10. Só que na outra bateria havia pego uma onda melhor e me deram 9,5.

 

Como o fato de ter sido o primeiro brasileiro a tirar uma nota 10 num evento em Pipeline repercutiu na sua carreira?


Talvez na minha carreira não muito. Mas deu para mostrar que surfamos de igual para igual em qualquer situação

 

Você acredita que a partir desse momento os gringos começaram a te olhar com “outros olhos”?


 Eles olham desde outras performances. O Peterson também  teve bons momentos em Pipe, Sunset e Tahiti. Hoje em dia eles não podem mais nos brecar. Tem uns seis brasileiros que surfam bem em qualquer condição.

 

Mais alguns metros para a milhagem de Renan em Pipe. Foto: Ricardo Macario.
 Pode-se dizer que os brasileiros surfam de igual para igual contra os gringos?


Qualquer um. E nova geração também. Só não vai surfar quem não quiser pegar onda boa. Não tem mais essa.

 

De que maneira planeja sua tática numa bateria?


Depende de muita coisa, inclusive do concorrente. Não tenho regra, crio elas na água. No momento.

 

Você sente algum tipo de preconceito por parte dos gringos?


Eles são racistas. Na época em que comecei a correr o circuito, tínhamos o melhor julgamento, pois estavam entre os juízes da ASP o Xandi Fontes, o Rominho (Rômulo Fonseca) e o Renato Hickel. Para os brasileiros, ainda não era o ideal, mas foi melhor do que em todos anos posteriores em que estou no WCT. Uma vez um amigo meu, o Marcelo Bôscoli, disse que era melhor com eles e seria pior sem. Eu duvidei.

 

 Você reclamou bastante dos julgamento na etapa do Circuito Mundial realizada neste ano em Saquarema. O que aconteceu?

 

O problema dos juízes brasileiros é que eles acham que não podem julgar bem seus compatriotas porque pode parecer que estão puxando sardinha e, com isso, correm o risco de perder o emprego. Infelizmente, é isso que acontece. Tanto é que na etapa em Saquarema, os juízes que achataram minhas notas foram os brasileiros. Acredito que essas pessoas não tem personalidade, pois não tem coragem de afirmar qual foi a nota real e se deixam influenciar.

 

Quando o quadro de juízes da ASP contava com os três brasileiros, os atletas daqui eram menos prejudicados?


Antigamente, com esses três juízes bons, os brasileiros eram menos roubados. Era mais justo. Hoje em dia, está muito difícil. Os brasileiros têm que ganhar disparado, porque senão não vencem. Eles te deixam numa posição na bateria que você sempre está atrás e sempre precisa de uma nota excelente. Para você tirar uma nota excelente em 30 minutos, precisa de uma onda muito boa que muitas vezes não vem. Se você precisa de uma nota 7,5 vai ter que pegar uma onda excelente.

Da esquerda para a direita: Os amigos Piu Pereira, Renan, Teco Padaratz e Fábio Gouveia. Foto: Site Fábio Gouveia.
Se você pegar uma onda igual a dos gringos e surfar igual, os juízes não dão o que você precisa. Você calcula meio ponto a mais para um gringo, e menos meio para mim. O resultado é um ponto a menos. O julgamento é muito subjetivo e eles ferram a gente na matemática, nos deixando numa situação em que não conseguimos virar a bateria. Hoje só posso afirmar que isso é racismo. Costumo dizer o seguinte: imagina um bolo que era dos americanos e australianos e de repente chega uma raça, uma nação diferente. Não falamos baixo, não andamos “certinhos”. Nos Estados Unidos, quando chega um mexicano, os americanos olham diferente. Agora imagina o Circuito Mundial, dominado por americanos e australianos. De repente, chegam dez brasileiros loucos. Eles querem nos brecar, falam nos bastidores. Não aceitam a gente.

 

 

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Renan se prepara para entrar no expresso. Foto: ASP World Tour.
 Vocês já discutiram esse problema com a cúpula da ASP? Ou essa é uma postura também adotada pela entidade?


Esse postura é adotada pelos dirigentes. Eles também têm culpa nisso e eu também tenho por aceitar o que acontece.

 

Qual seria a solução?


Acho que só conseguiremos eliminar essa pressão com atitudes em grupo. Eu faço meu papel reclamando, mas estou sendo punido, o Peterson também. Mas não é só a gente. Precisamos da mídia, da torcida, dos patrocinadores e do respeito dos juízes. Eles têm (juízes e mídia internacional) que entender que não dá mais para nos brecar.

 

 Como é o lance da ASP, em que os votos favorecem a todos, menos os surfistas?

Money Talks!

 

No ano passado, o Victor Ribas perdeu uma bateria nas ilhas Maldivas e atirou algumas pedras nos juízes, sendo posteriormente punido pela ASP. Como você vê atitudes como essa? Os surfistas estrangeiros são punidos de maneira semelhante aos brasileiros?

 

Cada um é cada um. Claro que eles nunca vão punir o Sunny igual eles puniram o Victor. Nesse caso, depende da personalidade de cada um na ASP e não da nacionalidade.

 

Recentemente, a revista norte-americana Surfing promoveu um jantar entre os atletas brasileiros e o staff da publicação para aumentar o contato entre ambas as partes. O que você achou dessa atitude e como está o reconhecimento da mídia estrangeira 

Galera de Tops reunida para um churrasco. Da esquerda para a direita: Rodrigo Dornelles, Peterson Rosa, Paulo Costa, da Fluir, Fábio Gouveia e esposa, Paulo Moura e namorada, Renan. Foto: Site Fábio Gouveia.
especializada?


Isso foi uma tremenda palhaçada. Eles vieram me convidar, dizendo que queriam me conhecer…  Já estou me aposentando e agora eles querem me conhecer?! Se ele quisesse me conhecer (Renan refere-se a Peter Townend, publisher da revista) ia na praia me ver surfar, convidava para fazer uma matéria em Mentawaii. Isso sim é conhecer. Agora, chamar para ir numa churrascaria tomar caipirinha… Me recuso a ir. Isso é política, jabá e não está certo. Conhecer é fazer uma matéria mostrando quem é quem, uma surf trip. Mostrar nossos méritos. Não precisa dar jabá, quero apenas que eles sejam justos.

 

 As revistas norte-americanas e australianas continuam não cedendo espaço para os brasileiros?


Já brigamos muito e estávamos tentando ganhar espaço na marra. Mas aconteceu uma coisa muito grave: O nosso mercado foi invadido pelas marcas internacionais. Com isso, eles não têm mais nenhuma obrigação em colocar brasileiros nessas publicações. E no Brasil não temos mais como pressionar. Tanto é que as marcas hoje não fazem nenhum trabalho com os brasileiros. Eles colocam dois ou três atletas somente para agradar, mas se analisarmos profundamente, os moleques estão parasitando. Tem campeonato da própria marca na Austrália, que a licenciada no Brasil não manda os atletas para  competir no Trials. Os moleques ficam sem respaldo dessas marcas. Tem uma revista nova, mas não lembro o nome, que deu um espaço legal para os brasileiros. Agora, vamos ver se acontece de novo. Não adianta sair de três em três anos.

 

Você não vê com bons olhos que os gringos tenham voltados suas atenções para o Brasil e  comprado as marcas que antes estavam  licenciadas? O que implica essa mudança?

Renan costuma dropar as grandes em Pipe. Foto: Ricardo Macario.

Esse fato acabou com o surf brasileiro e resultou em pouco dinheiro interno para investir em campeonatos de base e profissionais, menos dinheiro para os atletas porque toda a grana vai para os gringos, que estão cagando para nós. Consequência também são menos anúncios nas revistas, menos dinheiro para os fotógrafos brasileiros. Todo mundo saiu perdendo. Por isso temos que dá valor para as poucas marcas brasileiras que ainda existem, como a Hang Loose, que tem um dono, Álfio Lagnado, que apóia totalmente o esporte.

 

 

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Renan prefere a companhia de atletas da sua geração, como Gouveia, para viajar. Foto: Site Fábio Gouveia.
Você acredita que os brasileiros têm chances de conquistar mais espaço futuramente?


O que me deixa mais triste é que não vamos conseguir esse espaço. Mas aí até dou razão para eles. A Surfing é americana, então, eles colocam americanos. Para que colocar brasileiros? Acho justo. As revistas australianas botam australianos. Agora você chega no Brasil e todo mundo acha legal colocar os gringos. Ai você pensa: nos EUA saem os americanos, na Austrália, os australianos. Porque no Brasil só aparece metade dos brasileiros? O surf brasileiro só vai mudar daqui há duas gerações.

 

Você falou isso na edição de aniversário da revista Fluir, que lançou a questão “o Brasil é o país do surfe”?


Isso só vai mudar para os meus filhos, os do Fabinho. Tem que falar do Andy Irons. Mas não pode esquecer o Marcelo Nunes, o Renan, o Neco. Lá eles não falam que o Neco ganhou. Eles dizem o Andy Irons perdeu, e só por isso o Neco ganhou.

 

O Circuito Mundial está na reta final. Como está sua situação?


Hoje estaria fora do WCT. Mas, ao mesmo tempo minha situação não está crítica. Eu preciso passar algumas baterias. Esse ano foi bom, só que foi também o mais difícil desde quando estou no Tour.

 

Por quê?


 

O brasileiro já conhece bem Pipe por dentro. Foto: Ricardo Macario.
Todos os atletas deste ano são excelentes surfistas em todas as condições. Tem que estar nas cabeças para se dar bem. Com os resultados que obtive, se fosse em qualquer outro ano, estaria em sexto lugar no WQS. Mas, juntaram todas as gerações e todos pegam muito bem.

 

Como está sua cabeça para estes eventos finais?


 Está calma. Estou bem treinado, com equipamento. Não estou sofrendo nenhum tipo de pressão porque não tenho que provar mais nada para ninguém. Só quero ir lá e surfar bem essas ondas novamente. Se isso acontecer, vou ficar feliz.

 

Pensando assim, se garantir no Tour seria uma conseqüência?


Isso. Quero ir lá e dominar Pipeline, Sunset e Haleiwa. Porque são ondas desafiadoras. Se eu conseguir, vou me garantir entre os Tops. Senão vou ficar tranqüilo.

 

Há quanto tempo você faz pranchas com o Joca Secco?


Faço pranchas com o Joca há mais de 8 anos. Minha amizade com ele é superior a qualquer prancha mágica. Aliás, ele já me fez várias e até hoje me dá tudo que preciso para ser um Top-44.

 

Você ainda tem gás para numa eventual saída tentar a reclassificação novamente pelo WQS?


Tenho. Vou correr os campeonatos certos. Estou bem fisicamente e mentalmente também.

 

Desde 97 os brasileiros são os campeões do WQS. Neste ano, foi diferente e os

Renan Rocha durante entrevista para rede de TV local no Hawaii. Foto: Ricardo Macario.
australianos  dominaram. Como você vê essa quebra da hegemonia verde-amarela? Você acredita que isso  demonstra a competitividade em que o circuito está atualmente?


Foi exatamente isso. A competitividade aumentou e não tivemos tantas etapas do WQS no Brasil, como nos outros anos. Acho isso positivo. Quando os brasileiros eram campeões, a mídia não dava valor. Era normal um brasileiro ganhar o WQS. Não é normal… o cara é campeão mundial. É triste porque o Brasil sempre dominou. Espero que agora a mídia resolva incentivar essas pessoas. Ninguém sabe o que acontece durante o circuito.

 

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Renan Rocha no Pipeline Masters 2000. Foto: Juninho.

O Neco Padaratz afirmou numa entrevista que são dez brasileiros contra o mundo no Circuito Mundial. Como é isso?


Dez solitários guerreiros contra o mundo. Somos contra juízes, organizadores e mídia. É tudo mais difícil para nós. Não temos um conforto mental para criarmos uma energia positiva em nossa volta. Os gringos têm um tratamento diferente, mais conforto. Não quero dizer que precisamos de conforto, comodidades, para sermos campeões mundiais. Mas vai juntando, chega no final, o resultado é um campeão mundial.
 
Como assim?


Na última perna brasileira fiquei triste. Dez pessoas no palanque e nenhuma era competidor. Todos querendo peruar, querendo pulseirinha…dizer que é vip. Tem muita periquitagem e pouco para o atleta, para o esporte. Nada é para a essência do surf, para a base do atleta e o fortalecimento da imagem do esporte. Você já viu algum surfista estrelar alguma campanha publicitária? Nenhuma. Todo dia aparecem pranchas em várias campanhas. É o carro que comporta diversas pranchas, a caminhonete que aguenta ir atrás das melhores ondas… O surf está sempre na mídia. Mas os caras não botam um Teco Padaratz para estrelar uma publicidade dessas e ainda querer dizer que surfista é burro.

 

Renan disputa há 12 anos no Circuito Mundial. Foto: ASP World Tour.

 Ainda existe esse tipo de preconceito, de menosprezar a inteligência dos surfistas?


Existe. Tem surfista burro, inteligente, bonito e feio. Isso é culpa da mídia especializada, somada aos nossos cartolas e patrocinadores que só querem sugar. Esse é o resultado. Isso tem que mudar.

 

Como?


Cartolas podemos tirar e a mídia também. A mídia só vai cair quando um Teco Padaratz parar, ou o Guilherme Herdy. Tem muita gente que caiu de papagaio e não tem nada a ver com o esporte. Tem dono de revista que vai para a praia e não me conhece. Isso porque eu sou velho. Imagina os mais novos como o Raoni Monteiro, o Bernardo Pigmeu…

 

Falando em cartolas, no início de novembro teve a eleição para eleger a nova diretoria da Associação Brasileira de Surf Profissional (Abrasp). Você apoiou alguma chapa?


Punk! Tenho minha opinião formada e as únicas pessoas que apoio nesse meio são o Pedro Müller, Tinguinha e o Piu Pereira.

 

Os três surfistas profissionais?


Só. Eles viveram e vão querer passar e fazer o bem para o esporte. Eu não sei qual chapa apoiar e não me interessa. Só quero que façam alguma coisa boa. Isso não quer dizer nem melhor nem pior do que está aí. Eu acho que nenhum vai ter peito para fazer

Rocha em Haleiwa, Hawaii. Foto: ASP World Tour.

porque teria que ser muito radical. Isso acaba criando medo, que faz com que as pessoas não continuem, não apostem.

 

O que você acha do Circuito Brasileiro Profissional, o SuperSurf?


A Abril deu o maior mole do mundo. Ela tem o melhor produto, tem tudo… mas não soube usar 10% do potencial. Ninguém soube passar isso para a empresa. As pessoas que estão na organização fazem isso há vinte anos. Como é que uma Abril, que tem o surf brasileiro nas mãos, não fez uma coisa diferente. Nem pior, nem melhor. Eu digo diferente.

 

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Renan dropa de bunge jump. Foto: ASP World Tour.
Diferente como?


Não vou dar minhas idéias. Já falei para eles: querem idéias, paguem. Já fiz de tudo e hoje não tenho nada. Não digo que minhas idéias são melhores, ou piores, mas são diferentes. Se vai ser bom… só colocando em prática. O que é ruim a gente tira, e o bom aproveita.

 

Os surfistas estão receosos essas mudanças na estrutura da Abrasp?


O surf não precisa tirar as pessoas. Apenas remanejar, para que elas não tenham certo tipo de poderes. O Brasil é muito grande e é perigoso concentrar as forças apenas no Sul. E o Nordeste? Se concentra no Nordeste esquece do Sul. É complicado…Pôxa, hoje em dia o surf paulista está morto!

 

Numa matéria você questionou o fato de existirem tantos circuitos universitários e nenhum paulista profissional. O que acha que está errado?


Como pode uma pessoa dizer que não tem dinheiro para patrocinar o surf em São Paulo. Como assim? Nos eventos universitários, os valores pagos aos juízes, incluindo som, palanque e acomodação são iguais ao de um evento profissional. A diferença é premiação? Mas se o cara dá uma passagem internacional é o mesmo valor de um prêmio para o primeiro colocado. Está tudo errado. O dinheiro do Brasil está em São Paulo e os empresários dizem que não tem condições de realizar um circuito.

 

Renan Rocha rabisca a parede em Sunset. Foto: Pierre Tostee/ASP World Tour.
Qual é o problema do mercado brasileiro?


No surf americano, eles se unem para discutir com surfista, investidor e organizador. Todos se unem a favor do surf americano, para que eles tenham bons surfistas, um bom mercado. Aqui isso não rola. A mídia não dá suporte. Caiu um monte de pára-quedistas, que não tem o feeling, que não sabem nada. Tem cara que tem 23 lojas e não põe nada no surf. Não temos ídolos. Tem muito dono de marca que nem vai à praia…

 

Essa questão da falta de ídolos no Brasil. Quem são os responsáveis por essa falta de referência e o que precisa ser feito para mudar isso?


A principio é a mídia. Se ela cobrar e fizer o trabalho bem feito, um garoto, quando for num balcão de surf shop vai saber quem é o Renan Rocha, o Neco, ou um modelo qualquer. Aí esse lojista vai se ligar que tem que ter atletas bons. É um ciclo que estamos todos pagando. Hoje em dia, tem circuito universitário, confronto universitário, vários campeonatos para universitários. Um atleta universitário cai do meu lado na água e fica botando banca e a mídia supervaloriza. Então, eles que vão lá salvar a pátria, que eu vou ficar aqui no Brasil pegando minhas ondinhas. Para resolver, basta que as pessoas estejam nos lugares certos. Tem que ter essência, feeling.

 

Você tem vontade de trabalhar na mídia, pois escreve diversas matérias para revistas?


Tenho vontade de fazer o surf brasileiro alcançar o estágio que ele realmente merece. Na mídia, na televisão, numa marca… Temos muitos surfistas que precisam ser polidos e os atletas têm que se unirem ainda mais.

 

Você acha que o surf virou uma moda e muita gente tenta pegar carona nessa onda?


Renan e Fabinho após uma session de surf. Foto: Site Fábio Gouveia.

O problema é que o surfista é o que menos interessa. Hoje em dia, campeonato é para as gatinhas, para quem quer aparecer.

 

 

Você é um cara, digamos, boa pinta, bonito. Como lida com o assédio nos eventos? A mulherada realmente cai matando?


Se você tiver aberto para aventuras ou para conhecer pessoas, com certeza vai conseguir o que quer nos eventos. Mas, já vivi todo esse tititi, estou tranqüilo comigo e tenho uma pessoa muito especial ao meu lado.

 

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Em Saquarema, Renan reclamou do julgamento. Foto: Ricardo Macario.
Você é praticante de jiu jitsu. Parte do respeito que tem pode ter sido conquistado pelo seu lado faixa preta?


Pratiquei jiu-jtsu porque é um esporte alucinante e feito por brasileiros. A doutrina dos lutadores me ajudou bastante em relação à concentração para as baterias, mas nunca fui lutador e sim um praticante de um esporte alternativo para mim. O respeito a gente ganha pelo caráter e por colocar para baixo nas grandes, e não lutando contra as pessoas.

 

 Qual foi o maior sufoco que você já passou dentro do mar?


Já passei alguns, mas Pipe um dia quase me deixou surdo. Fui surfar outer reef com Piu, Alexandre Herdy e o Romeu Bruno. Logo no começo do descobrimento dos outer reef. Poderíamos ter nos dado mal, mas a vida é bela e estamos aqui para contar a história.

 

Você viaja o mundo há mais de 10 anos. Já passou por diversos países, entrou em contato com diversas culturas. Como é isso?


Obrigado Senhor!. Fiz a melhor faculdade: a da vida. A curiosidade faz com que você evolua e seu “eu” passa a olhar certas situações de uma outra maneira.

 

Qual é o melhor pico para você?


Gosto de ondas tubulares para a esquerda que quebram de 4 a 10 pés. Por isso me adapto bem em Pipe, Teahupoo, Macarronis e Ulu’s.

 

Renan Rocha no Hawaii. Foto: Juninho.
Quanto você já acumulou de premiação no Tour e o que fez com a grana?


Tenho o suficiente para viver bem porque faço meu trabalho bem feito e mereço ser pago por isso. Sou profissional e como profissional tenho que ganhar pelo meu trabalho.

 

 Você está satisfeito com trajetória no Circuito Mundial?


Estou realizado e muito satisfeito.

 

Você acredita que têm chances para conquistar o título futuramente?


Não tenho mais condições de ter o título mundial, mas tenho condições de incomodar por um bom tempo.

 

Quais nomes você aposta como destaques nos próximos anos?


Não vou citar nomes porque posso esquecer de alguém. Mas a nova geração está muito forte e completa.

 

Qual foi a maior emoção na sua carreira?


Com certeza o campeonato de Pipeline, em que tirei a onda nota 10. Juntou tudo o que estava passando na minha vida pessoal, as ondas, o jeito que surfei no evento. Pipe foi o momento mais marcante para mim.

 

Quem são seus ídolos no esporte?


Uma das distrações de Renan são os malabares. Foto: Site Fábio Gouveia.
 Todos que elevam o limite sem querer ser o melhor e sim pelo prazer de fazer o que dá para fazer.

 

Você procurou se espelhar em alguém para compor seu estilo?


Nunca. Estilo é uma coisa própria, se você copiar, não tem estilo. Aí você acaba sendo um enlatado.

 

Como você vê seu futuro no esporte?


Boa pergunta. Ultimamente tenho me perguntado a mesma coisa e não consegui encon

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