Quando a equipe definitivamente ficou pronta, com a confirmação dos nomes dos atletas, pude observar que realmente se tratava de uma delegação brasileira, com representatividade de todo o país.
Do Rio Grande do Sul vieram Sabrina Munhoz, vice-campeã brasileira 2002, e a bodyboarder Joselaine Amorin, também campeão brasileira no ano passado.
Já de Santa Catarina, a equipe foi formada por Jussemir Júnior (Open), Marcelo Coutinho (Open) e Willian Cardoso (Júnior) e o head judge Jordão Bailo Júnior.
Do Paraná foram o árbitro Gustavo Missurelli, o tradutor Iso Thá e eu, como chefe da delegação.
Entre os paulistas estavam Marcos Bukão, diretor de provas, Mauro Rabellé, árbitro, e Silvério e Oscar (sistema de computação).
O Estado do Rio de Janeiro contribuiu com o técnico Marcos Conde e os atletas Leandro Bastos (Júnior), Roberto Dias (Júnior) e Felipe Perusin, campeão brasileiro amador de bodyboard 2002.
Do Espírito Santo participou a campeã brasileira 2002, Yries Pereira. Os representantes da Bahia foram Denis Tihara (Open) e Maurício Pedreira (Longboard), além do técnico Adalvo Argolo e dos torcedores Zezinho, Caio e Felipe.
Os cearenses Martins Bernardo (Júnior), Márcio Farney (Open) e o bodyboarder campeão brasileiro Profissional Roberto Bruno completaram a equipe.
Essa diversidade foi fundamental para o sucesso de nossa equipe. Marcamos o encontro às 4 horas da manhã do dia 16/03 no embarque em São Paulo. Os primeiros desafios foram tentar livrar o pagamento da taxa das pranchas (US$ 25 por prancha – cada um estava com 3 pranchas no mínimo!) e convencer a gerente da empresa aérea a deixar o Roberto Bruno embarcar sem o bilhete que ele tinha esquecido em Fortaleza.
Eles cobraram as pranchas por volume e não por unidade e deixaram o Bruno embarcar pagando uma “pequena” taxa de US$ 100!
Voamos para Lima e trocamos de avião para chegar em Guayaquil, cinco horas e meia depois. O Equador é um país pobre, cuja economia foi dolarizada há dois anos, fazendo com que o custo de vida ficasse cinco vezes maior.
Tudo lá custa 1 dólar, no mínimo, e o país tem nos pescados e na banana os principais produtos de exportação.
Antes da dolarização, o camarão era produzido em grande escala e o Equador chegou a ser o maior produtor do mundo.
Ao desembarcarmos, sentimos o forte calor de 40 graus da região e recebemos a triste notícia do Patrício, representante da Federação Equatoriana de Surf, que nos aguardava no aeroporto, que a “carretera para Salinas estava cerrada”.
Como no Equador as férias escolares vão de fevereiro a maio, a volta das praias aos domingos é tumultuada e a estrada fica aberta somente para quem regressa à Guayaquil.
Resultado: conhecemos o Shopping e fizemos um city-tour antes de ir para Salinas, nosso destino final. Chegamos lá às 23 horas e fomos ao Hotel Calypsso I, onde nos esperavam a Maile Aguerre, vice presidente da ISA e da PASA, o Bukão e o Marcos Conde, que já estavam lá ministrando cursos.
Apesar de cansados, a equipe toda estava alegre e ansiosa para o dia amanhecer e conhecer o pico do campeonato.
Às 6 horas do dia seguinte, acordei e preparei a entrega dos uniformes canarinhos.
Depois do café da manhã, o Conde realizou a primeira reunião com toda a equipe, distribuímos os uniformes e fomos para a Playa Del Fae fazer o reconhecimento do mar.
Salinas é o balneário mais freqüentado pelos moradores de Guayaquil e está localizada numa península, sendo o ponto mais oriental da América do Sul, além de ser estratégico na defesa do país.
A praia escolhida para a competição fica em área militar, da Forza Aerea Ecuatoriana, e somente pessoas autorizadas tem acesso às praias da região: FAE e Chocolatera.
O pico é uma esquerda longa, com fundo de pedras, água quente e cristalina. Tem uma ilhota, classificada como reserva ecológica, onde vivem leões marinhos imensos e a fauna marinha é exuberante, com muitos peixes coloridos e corais maravilhosos.
Para variar, os brasileiros chegaram e dominaram o pico que estava bem crowd.
Neste primeiro dia de reconhecimento das ondas e do local, conhecemos a estrutura do campeonato e começamos a nos entrosar com nossos amigos pan-americanos.
Estavam inscritos 11 países: Brasil, Equador, Peru, Chile, Venezuela, Panamá, Costa Rica, Guadalupe, Barbados, Jamaica e Estados Unidos.
Todas delegações estavam no mesmo hotel e a ida e volta para a praia era feitas de ônibus (não posso colocar aqui a tradução para espanhol deste meio de transporte, que foi a sensação da viagem entre todas as delegações!) colocados à disposição pela organização do campeonato de meia em meia hora.
A equipe brasileira se reuniu todas as noites no quarto de nossas meninas para ouvir as orientações dos técnicos e discussões do grupo.
Todos, sem exceção, assumiram o espírito de equipe e os uniformes canarinhos eram vistos por todos como sinal de organização, respeito e alegria.
Na terça feira (18/03), a equipe brasileira pintou os cabelos de verde e amarelo para desfilar na “malecon” (beira-mar) de Salinas até a Prefeitura, onde rolou a solenidade de abertura do evento e a confraternização entre as delegações.
No dia seguinte, começaram as baterias dos VI Jogos Pan-americanos. Os brasileiros, como de costume, chegaram cedo à praia, contagiando com sua simpatia e descontração até os sisudos norte-americanos, nossos vizinhos de barraca.
A competição foi dividida em dois palanques, sendo que o Conde comandou a equipe no principal; e o Adalvo no secundário, no meio da praia (um beach break bem devagar!).
Os dois primeiros dias de competição foram assim e a partir do terceiro as baterias se realizaram no pico das esquerdas.
Um cliff em frente às ondas, formava uma arquibancada natural e o Marcos realizava seu trabalho ali, num canto das pedras.
A partir do meio dia, com o sol pegando pesado e caindo na nossa frente, o trabalho ficava mais exaustivo, mas nunca desmotivante.
No sábado, o show de surf da equipe brasileira
garantiu o tetra-campeonato Pan-americano por equipes. Ninguém mais conseguiria nos alcançar!
Festa brasileira em solo equatoriano!
Robertinho Dias e Denis Tihara comandaram a coreografia do “funk da vitória”, fazendo com que o público presente levantasse para aplaudir a equipe brasileira. Com o tetra já garantido, o domingo ficou reservado para as finais.
Com duas medalhas de ouro (Joselaine Amorin e Leandro Bastos), uma de prata (Felipe Perusin) e cinco de bronze (Roberto Bruno, Márcio Farney, Jussemir Junior, Willian Cardoso e Yries Pereira), a equipe brasileira encerrou magistralmente sua participação no evento.
Além de ter obtido uma excelente colocação no campeonato, Willian Cardoso foi sorteado para o exame antidoping e, só depois de muita “Biela helada” o catarinense conseguiu ceder o material.
À noite, a festa foi intensa e os brasileiros tocaram horror nas panamenhas, equatorianas, peruanas, venezuelanas e quem estivesse pela frente!
No dia seguinte, no retorno à Guayaquil, nova roubada: o micro-ônibus fundiu o motor e, graças à presença de espírito do motorista, que conseguiu parar um ônibus de linha e tirar os passageiros de dentro para dar lugar à nossa delegação, não perdemos o vôo de volta para o Brasil.
Gostaria de ressaltar a efetiva participação do grupo que, que com um patriotismo sem igual, e com a responsabilidade de trazer para o Brasil o tetra, não mediu esforços para concretizar este objetivo. Estão de parabéns a comissão técnica, torcida baiana e, principalmente, nossos valorosos atletas brasileiros. O Brasil é tetra!