Ri melhor quem ri por último

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Rodrigo Trajano coberto pela cortina na Cacimba. Foto: Anselmo Venansi.
Terça-feira, 10 de fevereiro. Este foi o último dia da minha estada em Fernando de Noronha e ficou marcado na minha memória e também na de todos aqueles que fizeram parte daquela manhã – certamente a melhor session de surf que vi no arquipélago nesta temporada 2004.


Após 14 dias na ilha e depois de ter feito a cobertura do Hang Loose para o Programa Zona de Impacto da Sportv, já estava de malas prontas e preparado para voltar à minha realidade paulistana de vida.

 

Não imaginava que Netuno tinha preparado uma surpresa pra lá de agradável, com ondas de até 2,5 metros tubulares na Cacimba do Padre.

 

Acordei com um aperto no peito, pois sabia que em poucas horas o sonho de estar no paraíso estaria acabado.

 

O choque com a realidade me dava vontade de voltar a dormir, mas levantei e fui direto ao quarto dos moleques (Danylo Grillo, Bernardo Pigmeu e Marcondes Rocha). Eles também já estavam fazendo as malas, pois voltariam no mesmo vôo para Recife.

 

Odirley Coutinho no tubo de backside. Foto: Anselmo Venansi.

Não sei porque, mas a vontade de dar o último check no surf era grande e fiquei pilhando a molecada.

 

O Marcondes foi o primeiro que se dispôs a me acompanhar até a Cacimba. A verdade é que já eram 9 horas da manhã e o avião partiria depois do almoço. Mesmo assim, valia dar a última queda.

 

Para a surpresa geral, quando cheguei na Cacimba, fiquei surpreso em ver que as condições estavam perfeitas!

 

O Alemão de Maresias falou que o mar estava alucinante e que estava indo para a água. Preparei meu equipamento e em menos de cinco minutos estava pronto para filmar de dentro d’água uma das melhores sessions de surf que tive o prazer de participar.

 

Coloquei na cabeça do Alemão um capacete com uma câmera acoplada e entrei com outra câmera na mão. O Alemão pegou três ondas com a câmera no capacete e eu consegui filmar no ângulo contrário a ele.

 

Costinha curte o visual em pé dentro do tubo. Foto: Anselmo Venansi.

De repente o Alemão teve a câmera arrancada do capacete quando foi furar uma onda de responsa.

 

Saímos da água na captura da câmera e logo em seguida conseguimos encontra-la, um pouco mais para o lado direito da praia.

 

Depois do susto e da câmera recuperada, voltamos para água, pois a session só estava  começando. Voltei para o pico e tive o prazer de filmar altos tubos.

 

Entre os surfistas presentes, cito os que mais me impressionaram pela destreza e domínio dos tubos: Rodrigo Trajano, Aldemir Calunga, Marcondes Rocha, Alemão de Maresias, Eric Miyakawa, Danylo Grillo, Ruy Costa, Andre Gioranelli, Odirlei Coutinho, Alexandre Costinha, Vitor Farias, Bernardo Pigmeu, Ricardo Azevedo, entre outros. Seguramente estou esquecendo de citar outros atletas que também estavam na água…

 

Aldemir Calunga possui inúmeras temporadas em Noronha e conhece bem o caminho do tubo. Foto: Anselmo Venansi.
As pessoas não imaginam quais são as dificuldades que fotógrafos e cinegrafistas aquáticos enfrentam para registrar os melhores momentos de uma sessão de surf.

 

São profissionais que arriscam suas vidas em condições extremas, correndo risco de se chocar contra uma prancha ou surfista, fundo de corais afiados, tubarões famintos e também afogamento.

 

Certamente todos os perrengues e perigos da profissão são rapidamente esquecidos no momento mágico dentro do tubo e, no meu caso, na frente do surfista.

 

É um momento tão especial, tão mágico… Milésimos de segundos que por incrível que pareçam passam em câmera lenta.

 

É incrível, mas todas as vezes que fui premiado com um tubo de verdade nunca mais me esqueci. Tudo passa muito lentamente e todos os detalhes ficaram gravados na mente, como numa foto congelada para sempre no papel.

Cachorrão registrou os melhores momentos da temporada no último dia de sua estada em Noronha. Foto: Anselmo Venansi.

 

Naquela manhã de terça-feira, todos os perigos, os perrengues e dificuldades foram deixados de lado para darem lugar às emoções e alegria só apreciadas por aqueles que ousam cair no mar e se jogar dentro dos tubos azuis.

 

Foram três horas de surf sem parar nem para beber água. Saímos correndo da água direto para o hotel e do hotel direto para o aeroporto. A alegria era tanta que todos presentes naquele vôo Noronha/Recife sentiram minha excitação e alegria por ter sido contemplado com tantos tubos em um mesmo dia.

 

Agora, sentado na frente da minha ilha de edição, posso admirar a beleza das imagens que meus olhos presenciaram durante milésimos de segundo e que me fazem lembrar de como é bom estar em contato com a natureza e viver no mundo do surf.

 

Obrigado, senhor!                                

 

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