Enfim, em casa, no quentinho, curtindo um som, tomando um chimarrão. A chuva e o frio continuam. O dia sábado foi sinistro. Acordei cedo, olhei para o mar e, de cara, vi da minha janela a laje da Jagua espumando.
Reação espontânea: já fui correndo agilizar as paradas pra trip. Estava chovendo e a temporatura era de 9 graus na beira da praia. Fiz alguns contatos e logo fomos encarar mais uma session na laje.
Sei que certamente não era o swell exato do evento da laje, o desafio de ondas grandes, justamente porque a ondulação não atingiu o tamanho mínimo esperado, mas sabia que iríamos pegar boas ondas.
Ao chegar lá fora, logo nos deparamos com uma esquerda animal rodando em cima das pedras, dando para perceber que as condições estavam sinistras: água trincando, frio pra caramba, ondas de 8 a 12 pés em cima da pedra e uma corrente que dificultou muito o registro de algumas ondas e o posicionamento do surfista no pico.
Fomos com dois jets e encaramos as ondas na remada e de Stand Up. Conheço Alexandre Takeo, o Magrinho, há pouco tempo, mas tiro o chapéu para o cara. O moleque é casca-grossa mesmo.
Como o mar estava com muita corrente, Takeo não conseguiu pegar muitas ondas, mas teve muita coragem e raça, pois passou por momentos insanos na água, situações em que eu olhava e dizia “Nossa, se ele fosse nessa, certamente morreria”. Escapou de vários caldos e tomou algumas na cabeça, mas provou mais uma vez que é um dos melhores “supistas” do Brasil.
A trip foi tensa. Com o passar do tempo, a chuva engrossou e a cerração caiu em peso. Não conseguíamos nem mais ver a praia. Eu fiquei por boa parte no resgate, juntamente com Carlos Piri, que, mesmo doentão, foi com a gente e ajudou no apoio.
Tenho dois amigos que sempre me encheram o saco implorando pra leva-los juntos para curtir a laje. Ambos são pai e filho: Marcos Giraldi, fotógrafo, e Alexandre Giraldi, surfista. Fiquei por 10 anos prometendo que um dia levo, um dia levo, um dia levo (risos) e infelizmente esse dia havia chegado. Surgiu a oportunidade e foram juntos para conhecer a maior onda do Brasil. Ficaram chocados com o que viram de perto, um espetáculo à parte da natureza.
“Sempre tive esse sonho de conhecer a laje e de surfá-la. Achei que era só ter a oportunidade e chegar lá e descer as bombas, mas quebrei a cara e vi que aquela onda é especial. Além de tudo é muito desafiadora. Resumindo: não é onda pra qualquer um. Tem de ter muito conhecimento e estar bem preparado, senão você pode pagar caro”, afirmou Alexandre logo após tentar um drop e vir arremessado na bancada”.
O destaque da vez foi Marcos Moraes, que, logo depois de vários caldos, conseguiu vir lá de trás numa nega velha daquelas. Eu olhei e pensei na mesma hora “Putz, está aí a onda do Greenish 2013 (risos)!”.
Poxa, infelizmente não filmamos, só fotografamos. Uma pena, mas reclamar do quê, se surfamos ondas internacionais em pleno território brasileiro, no quintal de casa.
A volta foi a pior parte. Não víamos nada, não sabíamos se estávamos indo para a costa ou para o alto-mar, situação extrema. Navegamos, navegamos e nada, daí paramos, observamos a direção da ondulação, confiamos nela e seguimos junto ao destino que ela traçava.
Nossa, depois de quase uma hora navegando sem rumo, avistamos a praia, só que fomos parar 20 quilômetros distante do nosso rumo de saída, daí tivemos que navegar lateralmente até chegar ao local exato. No caminho, ainda presenciamos uma baleia enorme com filhote dando espetáculo do nosso lado, algo incrível mesmo. Parecia que estava comemorando a nossa chegada, uma obra divina de Deus todo poderoso.
No final, só tivemos que agradecer. Surfamos altas ondas, ficamos perdidos, vimos baleias, passamos frio e, enfim, chegamos sãos e salvos para contar toda a trip. Aloha e até a próxima !!!