Tow-in em Maresias

Sangue e glória

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Rodrigo Coxinha cata uma grande em Maresias na última terça-feira. Foto: Anselmo Venansi / avpictures.com.br.

Toda a galera que monitora a internet em busca de novas ondulações chegando ao nosso litoral, gosta de ver quando a bóia começa a dar sinais de período alto – começa a ficar interessante quando fica entre 13 e 15 segundos. Esse período estava anunciado nos gráficos para a última terça-feira, 26 de junho.

 

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A altura das ondas também era bem animadora e o vento também era outro fator, indicando o Leste, ideal pra Maresias. Enfim, todos os fatores indicavam condições épicas.

 

Assim, todos os envolvidos e apreciadores do big surf começaram a se agitar. Telefonemas, chamadas de rádio e muita expectativa pra ver se a bomba iria vingar mesmo, ou seria só mais uma lenda.

 

É incrível a energia e a vibração que antecede um dia de big waves como este. Todos na fissura pela adrenalina preparam os equipamentos, fazem as últimas revisões nos jets e partem em busca do sonho de pegar as ondas da vida.

 

Eu sai de São Paulo ainda era madrugada, tendo em mente chegar a Maresias e ver ao vivo as condições que a internet indicava. Cheguei à praia às 7 da manha e o primeiro visual não foi muito animador.

 

O vento ainda não havia virado pra Leste como previsto. Porém, aos poucos os habitués do tow-in de Maresias foram chegando e, em menos de meia hora, várias duplas já estavam na praia prontas pra encarar as morras, que naquele momento fechavam geral.

 

Lá pelas 9 horas, o tamanho das ondas era tipo uns 2 metros, com algumas maiores fechando. O vento passou a virar pra Leste quando a maré começou a encher. E esses detalhes fizeram o mar começar a tomar as proporções esperadas.

 

Nos últimos anos tive o privilégio de ver por meio da minha lente nomes de peso do big surf brasileiro nas águas de Maresias. Mas aquela foi a primeira vez que vi vários ao mesmo tempo. Foi também a primeira vez que vi tantos jet virados na água. A bruxa estava solta.

 

Não foi um dia como o esperado por todos, certamente. Porém, houve momentos incríveis, períodos em que o vento soprava Leste.

 

Sempre que se fala de tamanho de onda aqui no Brasil, muitos costumam dizer que aqui não tem onda acima de 8 pés.

 

Eu sou suspeito pra falar disso, por isso escutei de um surfista do porte do Rodrigo Resende, que a onda que ele vê na tela do meu computador tem 10 pés havaianos e a historia muda de contexto, neste caso, uma bomba de esquerda.

 

No vídeo, parecia ate ter 8 pés plus. Mas na hora que você olha a foto, que aproxima e dá uma qualidade muito mais apurada, a sensação de tamanho e de poder da bomba muda todos os pré-conceitos que o vídeo traz. Ele não conseguiu botar pra dentro do tubo, mas foi um monstro.

 

Minutos depois, o fato que marcou a session foi o incidente com Carlos Burle. Ele e Eraldo haviam esperado o melhor momento do mar pra cair. Mas numa onda muito rápida Burle acabou se contundindo.

 

Ele estava pronto pra ir para África (Dungeons) e o incidente deve ter deixado-o bem triste. Felizmente, a lesão não foi tão grave, mas pelo vídeo dá pra ter noção do que aconteceu realmente.

 

O pé de trás escapou quando o lip pegou nas costas dele e o pé ficou preso à alça da frente. A prancha deu um giro de 360 graus com o pé preso. Foi horrível a cena dele sendo arrastado pra fora d’água pelo Eraldo.

 

Em parceria com Sylvio Mancusi, Haroldo Ambrosio também mostrou que os dois não estão de brincadeira e deram um show de surf. Vi pelo menos dois tubos de cada um deles. Impressionante. Fazia tempo que não via os dois juntos fazendo parceria e aparentemente funcionou muito bem a dupla.

 

Danilo Couto não conseguiu se dar muito bem, pois todas as ondas boas que pegou acabaram fechando, sem dar a possibilidade dele pegar o tubão que estava esperando. Mas, numa esquerda de tamanho, ele deu umas três rasgadas no limite e levantou água a uns 10 metros acima do lip.

 

Dois outros incidentes aconteceram naquele dia. Panda levou uma pancada na região do lábio superior e acabou tendo que sair da água, correndo diretamente para o pronto-socorro de Boissucanga.

 

Outro que deixou sangue na areia foi Danilo Couto, que levou uma pranchada na canela e sofreu um leve corte. Felizmente não foi um corte muito profundo e ele continuou surfando, mesmo tendo sido alertado pelo doutor Alfredo Bahia que teria sido melhor ter ido até o pronto socorro levar uns pontinhos.

 

A dupla Alemão de Maresias e Coxinha funcionou muito bem. Alemão não curtiu muito o mar e preferiu só ficar puxando. Ele havia caído na remada no período da manha e me disse que conseguira pegar uma onda boa.

 

Mas o mar estava muito grande e fechando demais. Daí, decidiu só ficar puxando Coxinha, chegado do Tahiti com fome de surf. Ele pegou um dos tubos de esquerda mais lindos do dia. Infelizmente, morreu dentro, mas foi sensacional.

 

No final de tarde, Xan pegou uma morra pra direita (white water) cavernosa, gigante e assustadora. No fim da onda, ele despencou e caiu na base. Mas conseguiu controlar a prancha e não morreu dentro do buraco. Também foi uma das cenas mais chocantes do dia.

 

Todos os frequentadores de Maresias marcaram presença na session. Por isso foi inevitável o crowd de jets, pois havia alguns dias que a previsão dava que o swell seria o maior do ano.
 
Felizmente, mesmo com vários incidentes, todos pegaram altas ondas, na maioria das vezes fechando tudo, mas foi um dia pra não ser esquecido em Maresias.

 

Para alguns, foi um dia de gloria. Para outros, um dia sangrento. Mas a vida é sempre assim. Enquanto aguns comemoram, outros sentem o amargo gosto de não ter sido tão felizes. E como já dizia a velha lenda, o show deve continuar.

 

Vocês podem conferir os melhores momentos da session de tow-in do último dia 26 na próxima edição da revista Alma Surf. Aqui no Waves.Terra, está o aperitivo pra abrir o apetite.