Litoral Norte SP

Secret funciona

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A previsão acertou mais uma vez e altas ondas quebraram em todo o Litoral Norte paulista no último sábado. Desde cedo, duplas de tow in se revezavam no outside de Maresias, bodyboarders atirados tiravam tubos incríveis na Paúba e big riders destemidos dropavam bombas assustadoras em Camburi.

Depois de checar e fotografar as condições nos picos citados decidi dar uma passada “no secret”. Meio sem querer e com um pouco de sorte, acertei em cheio. Era a velha receita das revistas de surf para conseguir boas fotos: lugar certo e hora exata. Primeiro que cheguei no momento bom da maré e do vento, segundo que o sol saiu e a luz – que era pouca nas primeiras horas – ficou excelente e terceiro, encontrei um local com disposição e técnica para encarar aquelas condições.

Conheci o Ronaldinho já faz mais de dez anos. Eu ainda era adolescente, ele já era viajado e mais velho, recém-chegado do Hawai encarava qualquer Camburi, com canal ou sem, 2 ou 3 metros, ele estava lá. Para mim, uma espécie de ídolo, para a comunidade do surf em São Sebastião, uma espécie de lenda. Só para nortear, foi o único a cair de pranchinha em Paúba durante a ressaca da Páscoa. É o típico big rider. Humilde na essência, gente fina com todos e um bárbaro dentro da água.

"E aí, Lucas! Altas hein, veio fazer umas fotos?", perguntou. "Fala broder! Opa, estamos aí, vai cair?", falei. "Vou", disse-me.

Era tudo o que eu queria ouvir. Acertamos um ângulo, desejamos boa sorte um para o outro, demos um salve no bombeiro de plantão e lá foi ele. Difícil se posicionar naquele mar, mas a experiência do cara no pico sempre faz a diferença. Não demorou muito e o show começou. Em parte pelo espetáculo do mar e pelos tubos, em parte pela atitude e técnica de um surfista destemido.

Ronaldinho pegou algumas das melhores ondas que já vi no Litoral Norte de São Paulo. De repente, uma pegou ele, em cheio. Ele demorou um pouco para subir. Eu olhei para o bombeiro, que já estava esperto e assim como eu, procurava o Ronaldo naquele mar de espuma. Poucos segundos depois, ele subiu. A cordinha havia estourado. Uma série assustadora vinha varrendo, não tinha jeito de correr.

Momentos de preocupação. Afinal, tomar três ou quatro ondas de mais de 2 metros, uma atrás da outra, com menos de 10 segundos de intervalo, não é brincadeira. Ele não só tomou as ondas na cabeça com tranqüilidade, como na última da série, dropou de peito, tipo tirando um sarro, como a gente “normal” faz quando perde a prancha num mar de 1 metrinho. 

Enfim, são mares como este e surfistas como o Ronaldo que fizeram a história e a cultura de nosso esporte. Que elevaram o surf a um patamar inimaginável, que nortearam mentes jovens e inspiraram gerações. Eu sei, existem dezenas, talvez centenas deles espalhados pelo litoral brasileiro. A todos, um grande e respeitoso abraço. Enquanto vocês estiverem na água, eu estarei na disposição. Para registrar e semear na história do jornalismo de surf do Brasil, os dias e surfistas que são – ou que vão virar – lendas.    

 

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