Na próxima segunda-feira (6/10), a praia do Arpoador será palco do Oakley Rio Surf Pro International, etapa de nível seis estrelas do circuito mundial WQS.
As longas esquerdas serão destruídas por atletas de todo o mundo, entre os dias 6 e 12 de outubro. Considerado um dos melhores locais para a prática do surf no Brasil e palco de grandes eventos, a praia do ?Arpex? faz parte do sonho de todo surfista. Mas você sabe por que as ondas são tão boas nesse pico?
Como em qualquer parte do mundo, o Arpoador tem alguns meses do ano onde as condições para o surf ficam ideais. As ondas vão de fáceis e pequenas a grandes e extremamente perigosas.
Como sabemos o vento, as ondulações e a maré são fatores que influenciam na qualidade das ondas. Mais importante ainda é o fundo, principalmente nas praias onde ele é de areia, devido às correntes que alteram sua formação. E o Arpoador, apesar de ter duas lajes de
pedra, tem o fundo predominantemente de areia.
O engenheiro civil formado na UFRJ, com mestrado em engenharia costeira na COPPE/URFJ, Guilherme Aguiar, surfa há 18 anos e conhece como poucos o ?Arpex?. Na opinião dele, a melhor época vai de maio a julho. Nesses meses as grandes ressacas de Sudoeste levam areia de Ipanema e Leblon ao Arpoador, acumulando-as próximo à pedra, formando fundos excelentes.
?Com esses fundos qualquer ondulação proporciona ondas mais tubulares. A partir do mês de agosto também entram boas ondulações de Leste e, apesar de o fundo não ser tão bom, rolam altas. Quanto mais de Leste mais longa é a onda. Mas fica com menos força, mais cheia e lenta?, comenta Guilherme.
Enquanto as ondulações de sudoeste melhoram o fundo, as pequenas ondulações de Sudeste e Leste, que são as mais freqüentes, contribuem para que ele piore, pois geram uma fraca corrente longitudinal em direção ao Leblon, levando a areia embora do Arpoador. Essas pequenas ondulações também vão lentamente empurrando à praia, aquela areia que havia se depositado junto ao Pontão, após as ressacas de Sudoeste.
Para Guilherme, a condição ideal é com ?ondulação do quadrante Sudeste, período igual ou maior que 11 segundos, altura em torno de 2,5 metros. O melhor é que a ondulação se forme bem distante da costa, para que as ondas cheguem mais organizadas. Se essa condição de onda rolar em um dia com fraco vento norte/nordeste, que é o terral, e o fundo estiver bom, teremos um Arpoador Clássico?, afirma o engenheiro que também preside a associação local, Arpoador Surf Club.
Nos dias bons, existem três lugares diferentes para surfar no ?Arpex?: no inside; no ?Jacaré?, laje de pedra próxima ao Pontão e na ?terceira?, outra laje que fica atrás da pedra do Arpoador. Nos melhores dias a onda vem da ?terceira?, passa pelo ?Jacaré? e termina no inside, chegando a ter aproximadamente 300 metros de comprimento.
Guilherme Aguiar é considerado um dos melhores surfistas quando as ondas estão vindo da ?terceira?.
Segundo ele, a inclinação da laje torna a onda difícil. ?É uma onda que levanta e quebra muito rápido devido à inclinação muito íngreme do fundo, o que por si só já seria difícil. Mas as reflexões vindas das pedras na frente fazem a crista da onda arremessar ainda mais, além de balançá-la, dificultando ainda mais o drop?.
O surf na ?terceira? não é indicado para novatos, porque mesmo conseguindo domar a onda no início, ainda tem a laje ?Jacaré? no caminho, o que pode complicar as coisas. Mesmo com tantos anos de experiência e com viagens acumuladas para diversos lugares, como Hawaii, Guilherme Aguiar já passou por maus momentos surfando essa onda.
?Já estourei o tímpano direito e tive alguns cortes que resultaram em pontos. Meu pior acidente foi na passagem pelo Jacaré, onde fui engolido e jogado sobre as pedras?, conta o surfista.
Muito se diz sobre a qualidade das ondas do Arpoador. Uns dizem que elas não são as mesmas de anos atrás. Verdade ou não, as lajes ?Terceira? e ?Jacaré? continuam no mesmo lugar, podendo te levar ao céu ou ao inferno em segundos.
O destino é por sua conta. O importante é que a máquina de ondas Arpoador continua funcionando, para a alegria da cidade brasileira do surf e, a partir da próxima segunda-feira, para surfistas de todo o mundo.
Carlos Matias é jornalista, organizador do evento Desafio Arpoador de Surf e surfa com pranchas Wetworks.