Oakley Rio Surf Pro

Segredos do Arpoador

Praia do Arpoador (RJ) recebe elite mundial para as disputas do Oakley Rio Surf Pro International 2008

Praia do Arpoador (RJ) recebe grandes nomes para as disputas do Oakley Rio Surf Pro International 2008. Foto: Arquivo pessoal Guilherme Aguiar.

Na próxima segunda-feira (6/10), a praia do Arpoador será palco do Oakley Rio Surf Pro International, etapa de nível seis estrelas do circuito mundial WQS.

 

As longas esquerdas serão destruídas por atletas de todo o mundo, entre os dias 6 e 12 de outubro. Considerado um dos melhores locais para a prática do surf no Brasil e palco de grandes eventos, a praia do ?Arpex? faz parte do sonho de todo surfista. Mas você sabe por que as ondas são tão boas nesse pico?

 

Como em qualquer parte do mundo, o Arpoador tem alguns meses do ano onde as condições para o surf ficam ideais. As ondas vão de fáceis e pequenas a grandes e extremamente perigosas.

 

Como sabemos o vento, as ondulações e a maré são fatores que influenciam na qualidade das ondas. Mais importante ainda é o fundo, principalmente nas praias onde ele é de areia, devido às correntes que alteram sua formação. E o Arpoador, apesar de ter duas lajes de

Lajes do Arpoador são bastante traiçoeiras e indicadas para surfistas experientes. Foto: Arquivo pessoal Guilherme Aguiar.

pedra, tem o fundo predominantemente de areia.

 

O engenheiro civil formado na UFRJ, com mestrado em engenharia costeira na COPPE/URFJ, Guilherme Aguiar, surfa há 18 anos e conhece como poucos o ?Arpex?. Na opinião dele, a melhor época vai de maio a julho. Nesses meses as grandes ressacas de Sudoeste levam areia de Ipanema e Leblon ao Arpoador, acumulando-as próximo à pedra, formando fundos excelentes.

 

?Com esses fundos qualquer ondulação proporciona ondas mais tubulares. A partir do mês de agosto também entram boas ondulações de Leste e, apesar de o fundo não ser tão bom, rolam altas. Quanto mais de Leste mais longa é a onda. Mas fica com menos força, mais cheia e lenta?, comenta Guilherme.

 

Enquanto as ondulações de sudoeste melhoram o fundo, as pequenas ondulações de Sudeste e Leste, que são as mais freqüentes, contribuem para que ele piore, pois geram uma fraca corrente longitudinal em direção ao Leblon, levando a areia embora do Arpoador. Essas pequenas ondulações também vão lentamente empurrando à praia, aquela areia que havia se depositado junto ao Pontão, após as ressacas de Sudoeste.

 

Para Guilherme, a condição ideal é com ?ondulação do quadrante Sudeste, período igual ou maior que 11 segundos, altura em torno de 2,5 metros. O melhor é que a ondulação se forme bem distante da costa, para que as ondas cheguem mais organizadas. Se essa condição de onda rolar em um dia com fraco vento norte/nordeste, que é o terral, e o fundo estiver bom, teremos um Arpoador Clássico?, afirma o engenheiro que também preside a associação local, Arpoador Surf Club.

 

Nos dias bons, existem três lugares diferentes para surfar no ?Arpex?: no inside; no ?Jacaré?, laje de pedra próxima ao Pontão e na ?terceira?, outra laje que fica atrás da pedra do Arpoador. Nos melhores dias a onda vem da ?terceira?, passa pelo ?Jacaré? e termina no inside, chegando a ter aproximadamente 300 metros de comprimento.

 

Guilherme Aguiar é considerado um dos melhores surfistas quando as ondas estão vindo da ?terceira?.

Segundo ele, a inclinação da laje torna a onda difícil. ?É uma onda que levanta e quebra muito rápido devido à inclinação muito íngreme do fundo, o que por si só já seria difícil. Mas as reflexões vindas das pedras na frente fazem a crista da onda arremessar ainda mais, além de balançá-la, dificultando ainda mais o drop?.

 

O surf na ?terceira? não é indicado para novatos, porque mesmo conseguindo domar a onda no início, ainda tem a laje ?Jacaré? no caminho, o que pode complicar as coisas. Mesmo com tantos anos de experiência e com viagens acumuladas para diversos lugares, como Hawaii, Guilherme Aguiar já passou por maus momentos surfando essa onda.

 

?Já estourei o tímpano direito e tive alguns cortes que resultaram em pontos. Meu pior acidente foi na passagem pelo Jacaré, onde fui engolido e jogado sobre as pedras?, conta o surfista.

 

Muito se diz sobre a qualidade das ondas do Arpoador. Uns dizem que elas não são as mesmas de anos atrás. Verdade ou não, as lajes ?Terceira? e ?Jacaré? continuam no mesmo lugar, podendo te levar ao céu ou ao inferno em segundos.

 

O destino é por sua conta. O importante é que a máquina de ondas Arpoador continua funcionando, para a alegria da cidade brasileira do surf e, a partir da próxima segunda-feira, para surfistas de todo o mundo.

 

Carlos Matias é jornalista, organizador do evento Desafio Arpoador de Surf e surfa com pranchas Wetworks.

 

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