Espêice Fia

Semana clássica

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E a previsão que citei no texto anterior acabou se confirmando. Ou melhor, até se antecipou e durou mais que o esperado. Quem esteve em Noronha na última semana do mês de março foi saudado com muita onda. Desde o último dia 18 na ilha, esperava ansioso a etapa do Brasileiro Master da CBS, que rolou neste último fim de semana (28 e 29/3).

Na sexta-feira (27), foi a vez do circuito pernambucano, com validade também para o ranking nordestino. Patrick Tamberg ratificou sua ótima fase, vencendo Junior Lagosta na final e abrindo o ano de 2015 na frente no regional. Competição à parte, a quinta-feira havia sido mágica. Isso depois de o mar ter batido os 8 pés no começo da semana. Mas, no pico do swell, as ondas se encontraram difíceis e um pouco mexidas, levando o big rider Alexandre Ferraz a machucar seu ouvido em um impacto.

Mesmo balançado, foi bom pra botar pranchas maiores na água e sentir o power da onda da Cacimba do Padre, pois, quando a bicha quebra na cabeça e o sujeito é mantido no fundo, abrem-se as “titelas”. No maior dia, surfei com uma 6’10” apenas pra testar. Vinha lá da laje da Cacimba e a brincadeira era ótima. Ian, com uma 5’10”, achou que estava solta. E não era pra ficar? Tanto ele quanto Lucas Silveira e Junior Lagosta pegaram boas, bem como o bombeiro e também big rider de Saquarema, Marcos Monteiro. Aliás, Marcos vem sendo presença nas últimas temporadas, desde que participou do “Nas Ondas de Noronha”, programa da Globo, em 2009.

No meio da semana, fortes chuvas atingiram o arquipélago. Logo foram três dias em um caos. Os aviões não puderam aterrissar na ilha. Aliás, os da Gol eram o únicos que enfrentavam a pista curta e molhada. Reza a lenda que, no fim do ano passado, um avião da Azul teve um momento de risco em aquaplanagem e desde então a companhia vem tendo mais cautela. Tumultos à parte, que a segurança prevaleça, pois desgraça não dá pra remediar. Foram muitos compromissos perdidos e turistas (que não chegaram à ilha) que deixaram de lado o passeio pra uma outra oportunidade.

Ian, que ia sair para disputar o evento catarinense – também válido pelo Brasileiro Pro – ficou “entalado”, sem conseguir sair da ilha. A surfista Claudia Gonçalves e o ator / surfista Paulo Vilhena também ficaram “entalados” por três dias. E era sempre aquela história: quem tinha compromisso se ferrava e quem não tinha se deliciava, pois rolava diária e alimentação grátis, nada mal para os altos padrões de custo na ilha.

Em meio a tudo isso, um forte vendaval chegou a cerca de 120 quilômetros por hora, destelhando casas, derrubando árvores e cortando a energia em alguns bairros. Mas, depois da tempestade vem a bonança e rolou um dia na praia do Bode simplesmente clássico. O dia começou com o sol raiando e as ondas melhorando e subindo. Surfei por duas horas antes do café e logo depois, das 11 às 16. Só saí da água depois que o avião da Gol apareceu na mira do morro dos Dois Irmãos. Era a patroa chegando. Corre, menino!

Esse dia foi o mais puro show de tubos. Destaque para Romero Rodrigues, Junior Rocha, Alvaro Bacana, Fabricio Junior, o local Valderez e Lucas Silveira, que, diga-se de passagem, deve ter feito uma das melhores fotos da temporada através da olho de peixe de Henrique Pinguim. Os demais fotógrafos presentes – Clemente Coutinho, Cosme Johnny, Rildo Iaponã e Alan Rangel – captavam também as imagens. Já Marcelo Freire, pilhado e maravilhado com as condições, não aguentou ficar só fotografando e pegou seu long pra dropar aqueles rolos compressores. Mas, o que era anunciado se concretizou, pois, ao dropar uma esquerda grande, sua prancha não resistiu e deu cria, partindo em dois pedaços. Bom, ali não era definitivamente um mar pra um longboard. Mas valeu a tentativa e Marcelo tava mais em êxtase com as condições do que preocupado com a prancha.

Outros caras que também pegaram boas foram Mauricio Bandeira e os bodyboarders locais Eron e Isaías. Os caras tinham o faro dos tubos. À noite, soube que muitos surfistas haviam chegado ao pico para o fim de tarde, entre eles Eduardo Fernandes, Jojó e Joca Junior. E quando estava no aeroporto esperando a patroa, me passava por surf repórter. “Galera, pega a prancha que está clássico”, dizia. “Nem perde tempo!”. Era um tal de nego sair doido atrás de táxi ou qualquer tipo de carona.

Fazer eventos em Noronha não é fácil, mas no fim de semana ficou tudo ok para a realização do Brasileiro Master. É bem verdade que a turma não tem tido sorte com os mares, pois tudo quanto foi de onda potente e boa durante a semana, acabou “miando” para os masters. É verdade também que pelo menos estava melhorzinho que no ano passado, quando as condições estavam longe de lembrar o que a Cacimba costuma oferecer.

No entanto, as disputas foram igualmente acirradas, pois na mesma medida em que rola a confraternização, rolam também algumas alterações de ânimos. Faz parte, uma vez competidor, a áurea permanece encubada. Destaque para Claudio Marroquim, vencendo pela segunda vez no ano a categoria Grand Kahuna (acima de 50 anos), já que havia vencido também em Maracaípe, na etapa inaugural. Mickey Hoffmann, Adalvo Argolo e Fernandes Filho completaram o pódio.

Na Kahuna, o potiguar Joca Junior virou no finalzinho e fiquei em segundo, relembrando nossas disputas quando ainda amadores no Performance Surf Club, clube de surfe onde treinávamos no Rio Grande do Norte. Nesta, Jojó foi terceiro e Sergio Noronha o quarto.

Na Grand Master, Rogério Dantas venceu Romero Rodrigues também no finalzinho. Jojó, que corre duas categorias, foi o terceiro, seguido pelo local noronhense ”negão” Caia de Souza.

Na Master, o bicho pegou. Aliás, Pedro Lima, também em ótima fase, venceu a segunda no ano e segue líder absoluto no ranking. Danilo Costa ficou em segundo e Rogério Dantas – que também corre duas categorias – foi o terceiro, com Roni Ronaldo em quarto.

Na hora da premiação, uma grata surpresa. Além da já anunciada etapa no Maranhão, o circuito seguirá também para o Maracanã do Surf, ou seja, a praia de Itaúna, em Saquarema (RJ). Desta forma, os atletas que se classificarem para o Mundial da ISA, que irá rolar nas Canárias, no fim do ano, estarão melhores treinados, pois não são todas as oportunidades em que temos ondas com Noronha e “Saquá” no cardápio.

Resultados
 
Master
 
1 Pedro Lima
2 Danilo Costa
3 Rogério Dantas
4 Roni Ronaldo
 
Grand Master
 
1 Rogério Dantas
2 Romero Rodrigues
3 Jojó De Olivença
4 Caia de Souza
 
Kahuna
 
1 Joca Júnior
2 Fábio Gouveia
3 Jojó de Olivença
4 Sérgio Noronha
 
Grand Kahuna
 
1 Cláudio Marroquim
2 Mickey Hoffmann
3 Adalvo Argolo
4 Fernandes Filho

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.