No último dia 8 de agosto, em Garopaba (SC), lançamos o Mormaii Big Wave Challenge, evento chancelado pela WSL (World Surf League) com período de espera até o dia 30 de novembro no Farol de Santa Marta, Laguna (SC).
Dois dias após o lançamento do evento na mídia, um swell gigantesco apareceu nos gráficos de previsões. Fabiano Tissot me ligou avisando do tamanho do swell, fui logo verificar na internet e vi que se tratava de um das maiores ondulações dos últimos seis anos.
Desde agosto de 2011 não tínhamos um gráfico com ondas tão grandes. Swell de leste / sudeste, com 4,5 metros e períodos entre 14 a 15 segundos. O último que surfamos com essa direção na praia do Cardoso, as ondas passaram dos 6 metros.
Sabíamos que o bicho ia pegar e que esse poderia ser o swell do evento. Mas não tínhamos como iniciar a competição com apenas dois dias depois da abertura do período de espera. Precisaríamos de no mínimo quatro dias para montar toda estrutura e chamar os atletas, já que boa parte deles mora fora do país.
No mesmo dia no lançamento do evento, me reuni com Fred Leite e Reinaldo Langer e armamos uma estratégia inédita. Como não teríamos como dar o start do evento, decidimos juntamente com a Mormaii montar uma logística com a equipe Atow-inj (Associação de Tow-in de Jaguaruna) e Astfsm (Associação de Tow-in do Farol de Santa Marta) para fazer a cobertura do swell ao vivo pela internet.
Conversamos também o site Waves e sugerimos então fazer a cobertura ao vivo pelo Facebook da Mormaii e pelo próprio site para dar ainda mais visibilidade.
Foi uma correria imensa, pois agilizar tudo isso em dois dias não foi nada fácil. Mas o tiro foi certeiro, deixamos tudo pronto, organizado, e o swell vingou de um jeito que o ficará para a história do big surf brasileiro. Nunca ninguém havia transmitido um swell gigante no Brasil ao vivo. Mais de 500 mil pessoas acompanharam a sessão pela internet.
Acordamos cedo, montamos a estrutura, e abastecemos os jets-skis, que seriam fundamentais para o sucesso da session. Quando olhamos o mar lá de cima da Pousada Baiuka já vimos que o mar estava realmente fora do controle. A galera começou a chegar em peso na base. Tudo pronto tudo organizado lá fomos nós para outside.
Montamos uma estratégia com vários jets priorizando a segurança de todos que se arriscavam naquelas condições. Fábio Gouveia, Marco Polo, Fabiano Tissot, Marcus Peruchi e Lucas Cohen se jogaram na remada. O resto da galera eu, Baiuka, Sapão, Vitor, Aragão, Catiça, Ulyssea, Felipe, Samuca, Paulista, Carlão, Pepeu, Capilé, Saulo, Galdino e mais uma galera se jogamos nas bombas no tow-in.
Lá fora as condições estavam bem difíceis para remar. Força da água, correnteza e ondas com muito volume. Baiuka não havia surfado um mar desse tamanho ainda no Cardosão, e no primeiro momento estava um pouco nervoso pela situação. Foi me largar numa onda que não era a certa e logo me dei mal. Torci os dois joelhos, um pé e rasguei as duas virilhas. Troquei uma idéia forte com ele a la Capilé, e logo ele começou a entrar no jogo.
Surfei algumas bombas mesmo machucado, pois um swell desses no Brasil não rola sempre. Logo assumi o jet e Baiuka foi pro cabo. Nisso Tissot já vem despencado numa morra gigante e tomando um caldo daqueles. O homem desapareceu. Paulista que estava no resgate, foi pegar ele quase lá na areia.
Na primeira onda do Baiuka, tentei fazer uma abordagem diferente ao atacar a onda, vindo de ‘slig shot’ do canto para o meio, a estratégia deu certo e o joguei ele numa morra bizarra, uma das maiores do dia chegando aos 7 metros de face. Quando fui resgatá-lo, vi Marcus Peruchi ser engolido por uma montanha d’água.
A beira da praia estava cheia, a cada onda surfada um uivo de grito de toda galera que estava lá presente. Logo depois fui puxar o local de Laguna, Pepeu, que surfou duas ondas muito boas, uma mesmo muito grande e com muito estilo.
Na beira da praia a equipe do Fred Leite, que por acaso pra mim é uma das melhores que conheço, estava reunida e registrando toda a sessão e realizando a sessão ao vivo.
Na sequência da sessão puxei Fábio Gouveia, que já tinha surfado várias bombas na remada. Gouveia arrasou no tow-in com seu estilo agressivo de sempre cavando e virando sempre no limite mais crítico da onda.
Quando fui resgatar o Fabinho no final de uma onda, vi Marcos Polo e Vinicius dos Santos descendo uma bomba na remada, que lembrava Mavericks. Sapão e Galdino ficaram revezando suas sessões com vários amigos ali presentes. Lucas Cohen que veio diretamente do Uruguai a convite da Atow-inj, surfou várias bombas e saiu do Cardoso com a cabeça feita.
No passar do dia íamos nos revezando dentro d’água, saía um, entrava outro e assim foi dia todo. João Capilé chegou no meio do dia e surfou boas ondas sendo puxado por Tissot. No final da queda o último a surfar foi Carlão, que trabalha na Mormaii. Fomos lá pra fora e naquela hora estávamos só nós dentro d’água. Ambiente sinistro e as séries estavam bombando, inacreditável.
Entrou uma série gigante, e falei pro Carlão que era essa a sua onda. Na hora ele quase que não foi, mas insisti tanto que o cabra da peste botou pra baixo. Pensa na morra, com certeza a maior onda da sua vida.
“Esse dia ficará marcado pra sempre, foi impressionante ver o que essa galera fez dentro d’água, e a união entre a Atow-inj e a Astfsm foi fundamental para que essa sessão fosse realizada”, relatou Reinaldo Langer, presidente da Astfsm.
Vamos parar por aqui, porque se for detalhar tudo mesmo daria pra escrever um livro. O dia foi especial e ficou pra história. Agradecimentos a Mormaii e a todos envolvidos: Wavedata, Fred Leite, Astfsm, Atowinj, Baiuka Pousada, Comércio Local, Angelo Ribeiro, Go Home, Rafa Shot, Frasncisco Oliveira, Rodrigo Zili, Fecasurf (Federação Catarinense de Surf) e WSL.