Botar pra dentro da fechadeira sem contar com as consequências parece brincadeira de criança. Era assim que eu me sentia na semana passada junto aos amigos nas imediações da praia do Bode, Fernando de Noronha (PE).
Maré totalmente seca e com muito pouca água no fundo de areia batida. Uma cabeçada ali já viria com o relatório médico. Foram muitas pranchas quebradas, mas nada de grave aconteceu com a turma. Graças!
A semana do Marands Pro na Cacimba vai ficar pra história. Foi a volta que o surf profissional merece. Cacimba pode estar bom ou ruim, mas sempre tem seus segundos de fama, que faz a fama dos iluminados.
Refiro-me ao Bruno Santos. Todo grande campeão é iluminado. Chegando às finais, o funil aperta e o espremido corre pro abraço. Hizunomê Bettero estava no ritmo. Parecia que mesmo na dificuldade de “Cacimbar” iria vencer, mas a bateria só acaba quando toca a buzina. Nos 20 segundos finais, uma intermediaria na medida entrou pro Bruninho.
Parece que o ex-prodígio nem vinha pra etapa e decidiu marcar o TKT quando viu o swell. Com faro de tubo, correu até uma etapa do pernambucano, onde foi vice atrás de Saulo Junior.
Entre baterias, Bruno era um dos que estavam na belas fechadeiras do Bode. Não foram poucos os momentos belos com drops atrasados que vi. Ali estávamos quase na praia do Americano.
Peguei algumas e Renato Galvão também. O visual era lindo, morro do Pico atrás fazendo a decoração. A brincadeira era diária e quando entrava a esquerda que chamo de Backdoor ao contrario, vish Maria, tome-lhe lapada.
Vi Nathan Brandi botar pra dentro de tudo quanto era jeito. Em uma das grandes que vieram, dropamos quase que juntos. Eu mais atrás, ele mais à frente. A fechadeira proporcionava momento de tubo duplo, para alegria dos vários fotógrafos: Renato Tinoco, Marcelo Freire, André Portugal, Ricardo Borghi, Rildo Iaponã, entre outros.
Ficávamos separados por um raio de uns 6 a 10 metros, mas dava pra trabalhar sem que um atrapalhasse o outro. Henrique Pinguim fez esta foto. Lembro de ter visto o rastro de Nathan à minha frente, mas logo depois apareço sozinho em uma bela foto. Acho que Sebastian Rojas estava posicionado pro Nathan e com certeza o retrato também deve ter ficado magnífico.
Nestes dias, destaque para Alexandre Ferraz, de Recife. Conhecedor do pico, sempre se posicionava bem e fez um material bacana, como por exemplo, Clemente Coutinho. Ali a sintonia é grande, pois sempre trabalham juntos. Em dias de fechadeiras em Noronha, para profissionais que buscam “a foto”, o mar fica uma maravilha.
Quem vê de fora acha que os caras estão doidos, “maior fechadeira”. Mas a real é que quando o clic é feito, rola a sensação de um mar clássico. Vai entender. A temporada noronhense tem sido muito boa. O nível local está alto, como nunca visto.
Os vários anos de Hang Loose contribuíram para o rápido desenvolvimento. Patrick Tamberg demostra muita categoria. Ele já rodou o mundo e espero ver os demais rodando também. Os mais novos seguem como espelho. Noronha já tem até um shaper, Hudson Felipe.
Excelente surfista e, ao meu ver, segue assim também no shape. Durante o evento local, havia várias pranchas feitas sob encomenda para ele. Passei o pente fino e posso dizer que com apenas 100 unidades feitas, Hudson tem muito futuro. O engraçado foi ouvir de um médico que trabalhava temporariamente na ilha, que ao tentar encomendar uma prancha obteve a resposta que no momento não era possível, “só no mês que vem”. Haja trampo para o Hudson, que tem sua logomarca estampando o mapa do arquipélago.
Noronha já tem trânsito. E tal como em varias regiões do Brasil, as leis estão mais severas, incluindo o bafômetro. Sair da Cacimba depois de um dia de surf e encontrar uma geral em frente ao hotel é cômico. Mas é lei, trata-se de uma rodovia com 7 quilômetros.
Muita gente dirige em Noronha sem documento e sem habilitação. Bom rever os conceitos, a multa é alta. Eu estava com tudo em cima, inclusive o fôlego pro bafômetro. Tinha levado uns caldos, tava com os pulmões em dia.
“Que baixinho do sopro forte”, disse o policial, depois de eu soprar sem parar a maquininha, que alias, deu zero-zero. Outros que vinham de uma cervejinha no bar das Gemeas já não tiveram tanta sorte. A multinha era pra mais de mil!
Mas como em Noronha é tudo perto, dá pra sair e voltar a pé, caso tome umas e outras. A novidade na ilha chama-se O Pico. De propriedade dos donos da luxuosa Pousada Teju-Açu, entre outros sócios, o espaço funciona na antiga creperia de Rodolfo, onde também rolava um sushi.
O Pico é uma lojinha original, com diversos acessórios de muito bom gosto, além de exposições de renomados fotógrafos como Klaus Mitteldorf e Clemente Coutinho. Umas das particularidades são as xilogravuras de José Borges, cujo artista deu ao Hang Loose Pro Noronha 2010 uma identidade visual especial.
O Pico conta com petiscos deliciosos, tais como os falafels wraps e maçudos brigadeiros de pistache. No backstage, rola um telão ao ar livre, onde diversos filmes culturais são exibidos. Nas terças e quintas-feiras rola free pop corn.
Acho que todas as pessoas envolvidas no projeto do filme Fabio Fabuloso ficaram mobilizados com todas as exibições do filme nos cimenas, salas comerciais, auditórios, enfim em diversos cantos.
Mas acho que sessões ao ar livre são as mais legais.
Fabio Fabuloso tem o cordel um de seus temas muito bem explorados, podemos apreciar na capa a identidade e também no decorrer da película.
Foi muito divertido e emocionante ver todas aquelas pessoas presentes. Alguns já haviam visto o documentário, mas todos se encantavam com a narração extrovertida de Pedro Cezar, autor do documentário juntamente com Ricardo Bocão e Antônio Ricardo.
Pra mim é sempre uma emoção, pois raramente assisto fora de ocasiões especiais. Fabio Fabuloso foi o maior presente em vida que pude ter, fora meus filhos é claro.
Muitos perguntavam sobre um possível segundo documentário. Sempre respondo que não sei, pois Fabio Fabuloso é uma obra de seus criadores e sensibiliza muita gente.
De qualquer forma, desde 2004, quando estreou, gravo muitas coisas e quem sabe no futuro podem ser muito bem aproveitadas pela mesma equipe. Obrigado, Aninha “Tejú” e a todos os presentes pela emoção e homenagem na sessão do “O Pico”.