Recém-chegado das paradisíacas Ilhas Maldivas, onde venceu o Four Seasons Maldives Surfing Champions 2015, o havaiano Shane Dorian decidiu usar seu perfil nas redes sociais para expor toda a sua indignação com a exploração geotérmica que ocorre no arquipélago.
“Muitas pessoas em Big Island (uma das ilhas do Hawaii) não têm ideia de que a exploração geotérmica está em andamento aqui em Kona no momento. Eles estão tentando encontrar “potencial” para a expansão geotérmica no lado do Kona. Venho tentando aprender tudo o que puder, indo a reuniões públicas e pesquisando o quanto eu posso”, explicou o experiente surfista.
“A usina geotérmica no lado sudeste (Puna) teve muitos problemas graves, incluindo muitas “emissões não controladas” e não impedidas, enquanto toneladas de gases tóxicos e produtos químicos, incluindo sulfeto de hidrogênio e metais pesados, foram lançadas para o ar”, complementou.
No protesto, o havaiano ainda convoca os moradores a uma reunião local, com o intuito de mostrar as autoridades competentes os problemas causados pela exploração.
“Falei com pessoas que estiveram muito doentes durante a maior parte de suas vidas por viverem perto da fábrica. Ninguém sabe se os poços de água estão contaminados ou como as pessoas estão ficando doentes. Se você mora no West Hawaii, e está preocupado com o futuro da nossa água, ar, alimentos, vida marinha, nossos filhos e praticamente tudo o mais que isso vai afetar, por favor, venha para a reunião do Conselho Municipal”, explicou. “Para registrar, eu não sou “anti-geotérmico”. Estou apenas preocupado e a população merece todos os fatos e estar ciente do que exatamente está acontecendo em nossa comunidade”, finaliza.
Entenda o problema*
Só para jogar uma luz sobre o assunto, a energia geotérmica é, basicamente, uma fonte de energia renovável extraída a partir do calor armazenado no interior da Terra, sendo comum em regiões com tectônicas ativas ou sistema vulcânico associado (caso do Hawaii), onde há um acúmulo maior de energia em menor profundidade. Também podem ocorrer, mas com menor frequência, em regiões tectonicamente estáveis, como o Brasil, por exemplo.
A energia geotérmica pode ocorrer a partir de um sistema de água subterrânea quente (50 – 150°C), mais raramente em sistemas por domínio de vapor (150 – 300°C) e em rochas secas e quentes, onde há a possibilidade de explorar o potencial geotérmico artificialmente, introduzindo água por meio de um poço fundo, que ao atingir altas temperaturas retorna em forma de água quente e vapor.
Atualmente, a energia geotérmica é considerada uma das mais benignas fontes de eletricidade e, mesmo com os recursos sendo renováveis e, no caso do Hawaii, por exemplo, serem pra vida toda, pois a fonte de calor é praticamente contínua para o tempo de vida humano, (estamos falando em alguns milhões de anos), para o tempo geológico ele ainda é limitado.
Sobre o impacto no ar, durante a exploração, gases são liberados junto com o vapor e, de um jeito ou de outro, ambos acabam indo parar na atmosfera, tudo devido a descompressão. Além disso, um odor desagradável, a natureza corrosiva e propriedades nocivas dos gases lançados, como o H2S, são preocupantes. Nos casos onde a concentração de H2S é relativamente baixa, o cheiro de ovo podre do gás causa náuseas. Já em concentrações mais altas, pode causar sérios problemas de saúde – e até a morte por paralisia respiratória.
Já os impactos causados na água, devido a natureza mineralizada dos fluidos geotérmicos, aumenta, e muito, a possibilidade de contaminação da água nas proximidades da usina. Não é incomum encontrarem arsênio, mercúrio ou boro em pequenas, mas ambientalmente significantes, quantidades em tais fluidos. A descarga livre desses resíduos líquidos pode resultar na contaminação de rios, lagos, e de todo o ecossistema em torno a usina.
Também é importante ressaltar, que quando uma grande quantidade de fluido é retirada da terra, sempre há a chance de ocorrer subsidência na região da extração. O mais drástico exemplo de desmoronamento numa usina geotérmica está em Wairakei, Nova Zelândia, onde a fenda já mede mais de 7 metros e está crescendo a uma taxa de 0.4 m por ano.
No Brasil
Aqui, ainda são poucos os estudos referentes a utilização de energia geotérmica, devido, principalmente, a comodidade do país quanto às questões energéticas, que tem como base a hidroeletricidade.
A viabilidade da utilização da energia geotérmica no Brasil ainda é discutida, mas há grande expectativa quanto ao desenvolvimento de técnicas que possibilitem ampliar a utilização da energia geotérmica no país, como através da exploração do potencial do Aquífero Guarani e a utilização de bombas de calor geotérmicas.
É, meus amigos, enquanto a natureza fica em segundo plano na guerra pelo dinheiro, energias limpas, renováveis e com menor impacto ambiental, como a solar e eólica, continuam ano após ano sendo ignoradas e, ao que parece, só serão consideradas pelos governantes mundiais quando não houver outra opção.
(*) Saulo Gobbo Menezes, geólogo, colaborou nesta reportagem.
Foto de capa Ader Oliveira