O'Neill Coldwater Classic

Shaun Tomson não alivia

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Shaun Tomson e o cutback clássico do campeão mundial de 1977. Foto: Divulgação / ASP.

O sul-africano Shaun Tomson, campeão mundial em 1977, foi uma das estrelas que apareceu para prestigiar o O’Neill ColdWater Classic, nona etapa do World Tour, realizada nas geladas ondas de Santa Cruz, Califórnia (EUA). 

 

Durante sua aparição no evento, ele concedeu entrevista exclusiva ao site Waves, quando falou sobre sua relação com a O’Neill, atual momento do surf mundial, ASP e muito mais. 

 

Como começou sua relação com a O’Neill? 


Faz muito tempo (risos). Se não me engano foi em 1975, estava voltando do Hawaii e passei aqui em Santa Cruz para participar de um evento e passar na O’Neill surf-shop,para pegar alguns wetsuits, já que eu amava as roupas de borracha da marca. Foi onde eu conheci Pat O’Neill.

 

Shaun Tomson no Arpoador durante o mundial Master. Foto: © ASP / Cestari.

Ele disse que gostava muito do meu surf e que um dia gostaria de me ter na equipe, mas que naquele momento não tinha como.  Mais tarde, fui o primeiro atleta de nome da O’Neill. Tenho uma relação muito forte com o Jack e o Pat O’Neill e com Santa Cruz. 

 

 

Você foi um dos surfistas que participou a criação do Circuito Mundial. Qual sua opinião sobre o circuito nos dias de hoje? 


Isso é bem interessante para analisar. Os surfistas hoje em dia são excelentes, grandes atletas, houve muita evolução e tudo mais. Mas a penetração do surf fora do mercado segmentado é muito menor do que antigamente.

 

Quando eu era competidor, o surf tinha uma exposição muito maior. Nos grandes eventos, como no Hawaii, grandes emissoras, como NBC e CBS, cobriam os campeonatos. Então, milhões de pessoas tinham acesso e assistiam pela TV. Hoje, talvez umas 350.000 mil pessoas acompanhem o evento pela internet. Foi uma regressão muito grande. 

 

O que aconteceu? Acho que o surf está sendo muito mal divulgado. A ASP está fazendo um péssimo trabalho em relação de promoção. As marcas também estão sendo horríveis nesse aspecto. Elas nunca pensaram em fazer o surf crescer como esporte, mas apenas vender. Esse é um dos motivos por elas estarem passando por um momento difícil.  

 

Elas nunca pensaram em levar o esporte em si para o grande público. Quando conseguirem fazer isso, provavelmente as marcas voltarão a crescer. Se o surf chegar ao grande mercado, isso será melhor para todos, marcas, atletas, surfistas em geral. Só assim o surf terá mais poder.  

 

O que você mudaria no surf se fosse o presidente da ASP? 


A primeira coisa que eu faria seria tornar as competições mais fáceis e mais interessantes. Esse formato atual é muito difícil para os leigos entenderem. Este formato que a ASP está usando é ridículo. Essa é a palavra, ridículo! Baterias de dois homens, três, round onde ninguém perde. Isso é patético. Como alguém perde duas baterias no mesmo evento e ainda pode ser campeão? 

 

Isso não existe em nenhum outro esporte. Se o Roger Federer perde a primeira partida em um campeonato de tênis, ele está eliminado. As pessoas que se interessam por competições, gostam porque sempre tem um ganhador e um perdedor.

 

Não existe isso de perder e depois ganhar, como acontece hoje no surf. Ganhe ou volte para a casa. Os campeonatos são muitos longos, temos torná-los mais compactos. O sistema tem que ser simplificado. Por exemplo, um atleta que compete os 100 metros rasos nas Olimpíadas, ele treina durante quatro anos e se ele não aproveitar a chance, em menos de 10 segundos ele está eliminado. 

 

Outra coisa que precisar ser mudada é como o surf está sendo promovido, a ASP está fazendo um trabalho horrível neste sentido. Isto tem que ser feito em conjunto com todo mundo que está envolvido, como surfistas, marcas, mídias etc. Precisamos promover melhor o surf, o primeiro passo é tornar o surf mais interessante para as pessoas. Temos que criar ídolos para o grande público. 

 

Promovam Kelly, Joel, Mick, Gabriel e muitos outros, façam ele virar heróis. A NBA, por exemplo, é a maior liga de basquete do mundo, não só por ter os melhores jogadores, mas sim por fazer um excelente trabalho em cima deles.

 

Hoje nós temos atletas incríveis que podem fazer todos os truques em cima de uma prancha. Temos que aproveitar isso. Resumindo, se eu fosse o presidente da ASP, de imediato eu mudaria o formato das competições, promoveria muito melhor o esporte e o incrível lifestyle do surf, para conseguir atingir o grande publico e tornar o surf cada vez mais forte. 

 

Qual sua opinião sobre os brasileiros no tour atualmente? Você acha que o Brasil está perto de ter seu primeiro campeão mundial? 


É incrível poder acompanhar o que a nova geração brasileira está fazendo, eles estão realmente surfando muito. Acho que o Adriano de Souza e o Gabriel Medina têm grandes chances de serem campeões mundiais nos próximos anos.

 

Ambos são muito talentosos, são excelentes competidores e têm muita vontade de ganhar. É incrível a paixão que todos brasileiros demonstram nas competições. Muito em breve veremos um brasileiro campeão mundial, isso será muito bom para o esporte em geral.  

 

Você tem muitos fãs no Brasil. Fale sobre sua relação com o país. 


Eu realmente amo o Brasil. Tenho muitos amigos brasileiros e tive ótimas experiências no país. Só para ter uma idéia, foi em Florianópolis que pedi a mão da minha mulher em casamento.

 

Sempre gostei dos surfistas brasileiros, desde Ricardo Bocão, Otavio Pacheco, depois Fábio Gouveia, Flávio Padaratz. E agora essa atual geração.