Mormaii 88

Silveira histórico

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O lendário campeonato da Mormaii de 7 a 14 de agosto de 1988 reuniu os melhores surfistas brasileiros da época e ficou para a história, pelo cenário paradisíaco e uma ondulação de 4 metros na praia do Silveira, em Garopaba (SC).

Ondas perfeitas com este tamanho são raras no Brasil, ainda por cima coincidindo com uma etapa do Circuito Brasileiro de Surf Profissional. Este evento épico aconteceu em 1988, durante o inverno no Sul do país.

Era o segundo ano do Circuito Brasileiro de Surf Profissional realizado pela Abrasp (Associação Brasileira de Surf Profissional). No calendário de 1988, constava uma prova inédita, em Garopaba, com patrocínio da Mormaii, cujo slogan era “a sua marca na água”.

Agora, no final do mês de novembro, enquanto avistava as ondas de 1,5 metro de dentro do carro, Morongo fez uma análise de quem conhece o pico melhor que a palma da mão: “Se o vento ficar de Sul forte, as ondas vão rolar perfeitas hoje”, disse o fundador da Mormaii. E não deu outra: em algumas horas, o vento Sul soprou e o swell de Leste acertou em cheio, naquele point break de direitas, que há 23 anos sediou o campeonato histórico, televisionado para todo o Brasil, no Jornal Nacional e no Esporte Espetacular.

Morongo frequenta aquela praia desde os anos 70. Surfa em qualquer condição, de meio a 4 metros. Ele afirmou que nunca viu ondas tão grandes e perfeitas, como aquelas que foram surfadas no Mormaii 88.

O motivo de tanta qualidade foi porque uma frente fria estacionada no meio do oceano Atlântico, entre o Brasil e a África, gerou um swell limpo, por todo o período do campeonato. “Já surfei ondas do mesmo tamanho outras vezes na Silveira, mas não se comparam com as linhas tão perfeitas  que vieram daquela vez”, explicou Morongo.

Segundo ele, a condição era diferente, pois as ondas que surgiram na ocasião viajaram vários quilômetros pelo mar, até atingirem o fundo de pedras na praia da Silveira. “Era como um swell no North Shore do Hawaii, formado na região do Pólo Norte, e que chega alinhado na costa, com bom período entre as séries”.

Em 1988, o surf brasileiro vivia um momento de explosão. A Mormaii tinha criado no final dos anos 70 os primeiros wetsuits de surf do Brasil. Queria promover a competição no local onde a marca nasceu e onde o uso de roupas de neoprene tornava-se necessário.

Pode-se dizer que a sociedade entre a Mormaii, Netuno e São Pedro foi perfeita. Além das ondas grandes, o vento Sul soprou forte e trouxe muito frio para o litoral. Para quem não sabe, o vento Sul é terral na praia da Silveira, deixando as ondas lisas.

Morongo não imaginava que fosse rolar um swell de proporções havaianas, justo no campeonato da Mormaii. Era um sonho se materializando, ou melhor, se liquefazendo. Mas se era o sonho para uns, também foi um pesadelo para outros.

Uma das cenas mais sinistras transmitidas na Rede Globo no Jornal Nacional foi do Teco Padaratz. Ainda garoto, ele entrou no mar pelas pedras, no único acesso possível para se chegar ao outside. Ao se deitar na prancha para remar, sua cordinha enroscou no fundo. Ele não conseguiu se soltar nem teve tempo de voltar para onde saltou. Quando a série entrou foi um show de horror. Ondas enormes poderiam tê-lo matado, mas ele consegui se soltar e ir
para a praia, depois de muito sacrifício e pavor.

Outros competidores sequer se molharam. Ficavam nas pedras ensaiando uma entrada, enquanto o tempo da bateria passava e as séries não cessavam. Durante todo o evento, houve protestos por parte de alguns competidores para o evento ser cancelado.

“Nossa preocupação era muito grande com os surfistas”, revela Roberto Perdigão, um dos organizadores do Circuito Brasileiro. “Graças a Deus todos se salvaram e o evento foi um espetáculo. O programa Esporte Espetacular com as cenas editadas do campeonato foi um dos que mais chamaram a atenção, entre todos os demais transmitidos naquele ano do circuito”.

Segundo Perdigão, o evento era móvel. Estava programado para ser realizado na Silveira e no fim deu tudo certo, apesar da estrutura improvisada, “mas era esse o verdadeiro espírito do surf na época, com esse lado bem rústico. Não havia uma maneira de como fazer melhor”, explica. Ele refere-se a uma tenda armada pela Mormaii na praia, onde ficavam juízes, repórteres, comissão técnica e atletas.

Para os que conseguiram pegar as ondas, aquele foi um campeonato que consagrou a valentia e transformou alguns nomes em mitos do surf. A decisão final ficou entre Paulo Matos e Rodrigo Resende. Paulo defendia o título de primeiro campeão do Circuito Brasileiro da Abrasp.

Também conhecido como The Monster, Resende tinha 19 anos e havia conquistado a terceira colocação no Mundial Amador, em Porto Rico. Ele surfou várias baterias, saindo da Triagem até chegar à final do evento principal, pois não era pré-classificado no ranking da Abrasp.  “Foi meu primeiro campeonato profissional e aquelas foram as maiores ondas que eu havia surfado no Brasil”, diz Resende.

“Desde a entrada pelas pedras até a remada no outside, era muita adrenalina”, declara. “A única coisa triste foi que o mar baixou muito rápido na final e eu fiquei esperando uma onda que nunca veio”, diz o vice-campeão.

Para o vencedor Paulo Matos, que surfou as direitas de backside, foi um dos eventos mais marcantes na sua carreira. Ele conta que durante uma sessão de treinos, levou o pior caldo da sua vida, quando tentava pular das pedras. “Lembro bem do Parafa e do irmão dele, que durante o campeonato avisavam qual era o momento certo para os surfistas entrarem no mar”, revela Paulo Matos, que derrotou o big rider Taiu Bueno, nas quartas-de-final, e Adalvo Argolo na semifinal.

Desde então, a Mormaii patrocinou uma série de competições de esportes de ação. A maioria delas disputadas em condições clássicas. Entre os mais recentes estão os campeonatos da Mormaii na Laje da Jagua, em Santa Catarina, em 2006 e 2011. Com janela de espera, as etapas tiveram swells de 5 metros para o tow-in.

Vale lembrar também do Mundial de Windsurf nas ondas, em Ibiraquera, com vento forte e ondas perfeitas. E ainda as etapas do Stand Up Paddle World Tour, em 2010 e 2011, com ótimas condições, tanto em Ibiraquera (2010) quanto em Maresias (2011).

Estes e outros campeonatos também ficam para a história desta marca pioneira no surf, mas até hoje, o Mormaii 88 continua o mais lendário. Agora, está aqui, devidamente documentado e ilustrado com as fotos sensacionais de Alberto Sodré.

Um agradecimento especial a todos os que colaboraram para o êxito do Mormaii 88 e aos atletas, que, desde então, mostraram ao mundo que no Brasil também rolam ondas grandes para o surf.

Resultado do Mormaii Surf 1988

1 Paulo Matos (SP)
2 Rodrigo Resende (RJ)
3 Adalvo Argolo (BA)
3 Cauli Rodrigues (RJ)
5 Felipe Dantas (RN)
5 Otaviano Bueno (SP)
5 Renato Phebo (RJ)
5 César Baltazar (RJ)

Fonte Revista Mormaii