Parecia sonho. Teahupoo praticamente sem ninguém, mar de 2 a 2,5 metros e, às vezes, umas que passavam dos 3 metros; vento terral moderado, séries freqüentes e Sol.
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Tudo estava quase perfeito, até surgir Mr. Kelly Slater. Isso mesmo, “o cara”!!! E com ele, cinco barcos, quatro jets – todos eles equipados com o que há de melhor em termos de fotografia e cinema – e alguns locais famosos como Raimana, que comandava a situação.
Eu já tinha escultado um boato, no dia em que cheguei ao Tahiti, de que Kelly estava por chegar, mas não dei muita importância, pois achava que era meio impossível, pois já na semana seguinte ele tinha de ir a Califórnia para competir no WCT e achei que ia se focar mais
nas marolas de Trestles. Engano meu, o cara veio ao Tahiti para treinar e se divertir trabalhando.
Aquele grupo de profissionais junto com ele tinha uma explicação: eles estavam gravando um novo filme em 3D para a Quiksilver e tinham dado o tiro certo na semana certa.
Ao observar o mar daquela maneira, Kelly não hesitou e tratou de cair logo na água. Enquanto a equipe se preparava, Raimana posicionou seu barco na cara do gol, praticamente dentro do fim do tubo, só pra sentir a baforada (risos). Brincadeira, lógico que era para deixar a equipe o mais próximo possível do tubo e a baforada era só conseqüência.
Bom, praticamente todos saíram para ver aquele show que estava apenas começando, e foi assim durante cinco dias, variando entre uma caída ou outra.
Raimana também deu seu show. Primeiro foi com o barco, depois surfando de tow-in. No stand-up, o cara com certeza é o melhor; além de se colocar no outiside e escolher as melhores ondas para o Kelly, tipo assim “Next!!! Go Kelly!”. Você acha que alguém remava?
E ainda segurava o cinegrafista na hora das tomadas na água, com um equipamento de US$ 1 milhão. A caixa que protegia a câmera era tão grande e pesada que precisava de três pessoas para mantê-la no lugar certo na bancada, e o responsável pelo posicionamento era ele, Raimana, que de pé-de-pato ficava tirando os três da zona de impacto.
Mas, estava óbvio que Kelly não precisava de ninguém naquela situação. Ele dominva o pico com naturalidade e disposição. Porém, o que mais me chamou atenção foi sua técnica de dropar aquele tipo de onda. Nós, normais, geralmente esperamos a onda no outside, escolhemos e, no momento que achamos certo, remamos com todas nossas forças e tentamos adquirir uma certa velocidade na onda para poder entrar com um certa tranqüilidade.
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O cara é diferente. Ele fica no inside, ou seja, uns 15 a 20 metros mais ao raso. Aí, quando escolhe a onda, ele ataca do raso para o fundo, rema forte o mais para dentro possível da onda e escala. Quando chega ao topo, vira 180 graus para o lado do tubo e já dropa despencando com a mão na borda, dentro do tubo.
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Logo que tudo se normaliza dentro do tubo (pelo menos pra ele ), aí ele solta a mão, ganha velocidade se for preciso, dá tchau, manda beijo, etc (risos). Impressionante!!!
Não foi a primeira vez que vi isso. Lembro de Mark Foo em Waimeia, no dia em que a baía fechou e ele era o último homem a ser resgatado pelo helicóptero. O cara deu uma dessa!
Enquanto todos esperavam que ele estivesse fugindo para passar a maior série do dia, Foo chegou lá no topo, virou para baixo e desceu a ladeira pelo menos até a metade, até cair e tomar um caldo feio e ser resgatado pelo helicóptero como herói. Mas isso foi em Waimeia, onde teoricamente a rampa é menos inclinada do que Teahupoo.
No ano passado, também vi pela transmissão ao vivo que alguns dos melhores do mundo já utilizavam essa técnica para dropar a onda já dentro do tubo, mas ao vivo realmente você pode ver o grau de dificuldade que é essa manobra.
Foi uma semana maravilhosa na casa do Marama, outro local amigo dos brasileiros que nos recebeu muito bem, como sempre faz. Eu e meu companheiro de tow-in, o Issan, pudemos aprender muito, surfar e nos divertir com o melhor do mundo. Sabe aquele negócio do lugar certo na hora certa, pois foi isso que aconteceu.
Quem também estava arrepiando era Fabiano Tissot, que já está instalado na ilha há quase dois meses, sem data para voltar. O garoto mostrou muita raça e determinação para aperfeçoar e surfar de igual pra igual entre os melhores naquele tipo de onda, pegou altos tubos e de prancha Zecão, pois já tinha quebrado todas suas pranchas e revezava comigo até tomar posse quando vir embora.
E o baiano Heloy Júnior, outro garoto da nova geração que com certeza vai dar trabalho, principalmente em ondas de verdade, pois mostrou muita vontade e coragem, dropando sempre atrasado e com segurança.
Lembro de uma, em especial, que o cara dropou atrasado, praticamente caindo, que até enganou o Kelly, que dropou e ao notar não sabe como o baiano lá dentro do tubo, perdeu a concentração e caiu rolando junto com Heloy e depois do caldo com o baiano, Kelly percebeu que sua prancha estava partida, sem o bico.
Pediu desculpas ao garoto e acenou ao barco pra pegar outra prancha, que veio rapidamente para não parar o ritmo que era simplesmente frenético. Tubo atrás de tubo e de todas as maneiras possíveis e impossiveis.
Também fiquei impressionado com a disposição do Kelly. Ele passsava praticamente o dia todo na água e tomava altos caldos também; sempre levantava tranqüilo e remando forte para sair da zona do agrião.
Realmente me sinto um surfista de sorte por poder presenciar tudo isso acontecendo a menos de 10 metros e, às vezes, a um palmo de distância do extraterrestre Kelly Slater em ação. Obrigado Senhor!