Torcedor fanático

Slater quebra tudo

Kelly Slater, Rip Curl Pro 2010, Johanna Beach, Austrália

Kelly Slater prova que surpresa é com ele mesmo. Foto: © ASP/ Steve Robertson.
Adriano de Souza vai bem na Austrália: brasileiro não quer ficar para trás no Tour 2010. Foto: © ASP/ Kirstin Scholtz.

Engraçado ver Kelly Slater correndo por fora em uma briga de circuito mundial. Quando muito se falava em Mick Fanning e Taj Burrow (um acabou enfrentando o outro na semifinal), lá foi Slater novamente mostrar que até manco não dá mancada.

Claro que não se pode desacreditar de um cara que tem nove títulos mundiais. Em qualquer tipo de mar Slater pode surpreender e provou que surpresa é com ele mesmo. Os brasileiros também foram relativamente bem, demonstraram superação, maturidade e muita competitividade.

O que parece que não muda nunca é a avalanche de mudanças que a ASP faz a cada ano. Não existe mais uma sequência de circuitos em que já se saibam as regras do começo ao fim, seja no formato dos campeonatos, seja no julgamento, seja na pontuação. Ultimamente é uma novidade atrás da outra.

Este emaranhado de remendos que fazem com que os próprios atletas se atrapalhem até na resposta em que precisam dar nas ondas.

O brasileiro mais prejudicado com tudo isso, sem dúvida alguma está sendo Neco Padaratz. O cara entrou no mar na etapa da Gold Coast surfando de um jeito e chegou em Bells surfando de outro completamente diferente. Tentou de todas as formas adequar seu estilo e manobras ao que está sendo ‘pedido’. Mesmo assim não funcionou.

Nitidamente suas notas parecem ser achatadas e desvalorizadas, mesmo quando surfou mais próximo ao atual critério de julgamento. Sua bateria contra Parko (em que Neco fora derrotado) foi a maior prova de como as coisas andam bem estranhas por trás do palanque.

A segunda onda boa de Neco foi surfada quase que ao mesmo tempo do que a segunda onda boa de Parko. A nota de Neco saiu com mais de três minutos de atraso com relação a nota do australiano.

 

Qual o motivo de tudo isso? Será que os juízes conversaram entre si para saber qual nota deveriam dar? Será que estraçalhar uma onda com batidas, rasgadas e finalizar com um aéreo vale somente 6.77, enquanto Parko, muito fluido, é verdade, aplica uma rasgada, um cutback e uma batida na junção e leva 7.83?

Quem acompanha o Torcedor Fanático, sabe que nunca fui de contestar julgamentos, nem de puxar a sardinha pra esse ou aquele atleta, mas, peraí, se são critérios, que sejam claros e justos.

Com todo respeito, a imparcialidade dos narradores brasileiros precisa ser revista também, pois parece que nem eles sabem ao certo o que está sendo usado hoje para classificar as ondas, principalmente as boas e excelentes. Tanto é que pouco se arriscam a palpitar com propriedade antes das notas serem divulgadas.

Marco Polo evoluiu demais nesta segunda etapa, surfou com mais personalidade, garra e lutou com todas as forças (mais força do que jeito) para tentar seguir em frente. Porém, Marco tem um déficit semelhante ao que apontei em Bernardo Pigmeu quando disputava os campeonatos do falecido WCT: não está no mesmo grau desta elite.

Infelizmente temos que admitir isso. Seu carisma, inteligência e competitividade são louváveis, surfa muito, claro! Mas falta muita água pra fora da onda, falta muito aéreo alto, falta um pouco de velocidade e talvez até um pouco de sorte na hora de pegar adversários mais próximos de seu nível, para que possa avançar alguns rounds.

Talvez ainda surpreenda, principalmente na próxima etapa aqui no Brasil. Torcemos e acreditamos muito!

Jadson, em amadurecimento meteórico, também é outro que tenta ter uma média de resultados positivos, mas não está sendo nada fácil. Meu temor é que sua sina seja ser sempre uma promessa, cheia de altos e baixos, como foi Heitor Alves.

Mas vamos ser otimistas! Surfou muito bem! Ainda tem o pecado de quicar a prancha na base da onda, tanto de back quanto de frontside. Mas quando se projeta contra o lip de backside tem uma das patadas mais estilosas e precisas de todos os goofy-footers em ação no WT.

Na bateria em que deu adeus ao campeonato, diante de Bobby Martinez, perdeu por escolher as ondas erradas e ficar acanhado em sua melhor onda, e quando todos esperavam que mandaria seu grande trunfo, o aéreo estratosférico, ele preferiu uma batida.

Mineiro começou em Bells provando que está a fim de ratificar que não vai ficar para trás, ao contrário, veio para mostrar que não tem mais arroz com feijão em seu repertório, não tem mais bicho-papão em seu caminho e que o arriscado virou sinônimo de rotina.

No primeiro round pareceu que surfou sozinho, amassou seus adversários. No terceiro round massacrou Brett Simpson. Nas oitavas-de-final precisou da última onda para afundar Patacchia.

E quando parecia que o caminho da semi estaria por vir, justamente em Johanna, onde quebravam direitas medianas, “a cara” de Adriano, veio Taj, fez um arroz com feijão, virou um bicho-papão e Mineiro não passou de 4.87 em seu somatório. Qual foi, Mineiro, esqueceu o surf em Torquay?

Bom, sobre a bateria final, nem tenho nada a dizer, quem não viu ao vivo, faça o favor de ver pelo site mais uma série de proezas que só o maior fora-de-série de todos pode realizar. Imperdível e um “x-cala boca” com bastante pimenta nos olhos de quem ainda desacredita em limites superados.

Agora é Brasil e ninguém quer perder essa! Aloha dudes!

 

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