Espêice Fia

Sonho ou pesadelo?

Fábio Gouveia - Pipe Masters 2002

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Em clima de decisão, Fabio Gouveia escreve sobre sonho em Pipeline. Foto: Ellis / WSL.

Sonhando que estava na bateria em Pipeline, um dos adversários era o John John.
 
Bateria rolando e daqui a pouco pego um tubão para Pipe. Estava com minha 7 pés e uma 6 ‘3 amarrada em outra cordinha, no pé esquerdo. Não me pergunte como isso poderia ser, mas eu era meu próprio “caddie” (pessoa que auxilia surfistas em baterias com prancha reserva). Imagina surfar com outra prancha servindo para uma reserva e ao mesmo tempo sendo uma âncora?

Pois bem, depois do tubão que rendera 8.50, me encontrava voltando ao outside quando uma série se aproximou. John John vinha remando (não lembro do terceiro atleta na bateria que era de 3 surfistas) e eu remava forte pra consegui varar e não tomar na cabeça, mas, por uma fração de segundo, a prancha que estava amarrada emborcou e me segurou. Pesadelo, levei na cabeça e acabei sendo arrastado até quase o inside. A prancha reserva quebrou e continuava amarrada, mesmo sendo a parte do bico.

Que doideira (lembre-se que era sonho)! E eu remava e não saía do canto e por um segundo pensei “Bom, vou soltar o estrepe e alguém pega na beira e guarda no beach marshall, afinal o leash é um Dakine novo, é bom! Nesse momento sou arrastado e quando me toco estou bem ao fundo, após o Ehukai Beach Park. Ainda é noite, consigo ver meu posicionamento por causa das luzes das casas e do próprio palanque. Nossa, não vou chegar a tempo e…. acordei! Acordei de um sonho entrando em outro! E neste momento já me encontrava andando em direção ao beach marshall, e quem encontro é o ex-head judge Perry Hatchett (o head era pra estar na torre de juízes, não na área de beach marshall).

“Hey Fabio, your heat is in the water (sua bateria está na água}”! E eu falei “Como assim? São 6 da manhã e ainda está escuro!”. “Mas faltam ainda 20 minutos, pega a prancha e entra”, diz ele. E eu pergunto “Que tamanho está o mar?” (no sonho primário o mar estava 6 a 8). “De 2 a 3 pés”, responde. E eu falo “Nossa, só estou com minha 7 pés aqui!”. “Não tem problema, arrumamos uma prancha pequena pra você aqui”, responde Perry.

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Pipeline é palco da grande decisão do título mundial. Foto: Bruno Lemos / Liquid Eye.

E nessa um surfista japonês é a primeira opção quando já está passando parafina em uma maroleira. Neste momento eu penso “Legal, mas não posso surfar sem os logotipos dos meus patrocinadores!”. “Esperem aí, meu filho Ian está hospedado em uma casa aqui ao lado, ele tem uma prancha minha pequena” (detalhe é que eu e meu filho somos patrocinados pela mesma marca).

A praia já lotada, conversa vai, conversa vem e nessa saí correndo pra pegar a prancha, afinal não queria entrar atrasado e ainda sem as logos dos meus patrocinadores. No momento em que ia subindo pela estrutura na área do evento (a estrutura era logo atrás do palanque, em um terreno baldio, e não no Ehukai, como realmente é), uma outra pessoa me chama e fala ”Fabio, essa repórter quer falar contigo!”. E a repórter era a Faith (trabalha há muitos anos na Triple Crown, mas não é repórter).

E nessa já subo pensando no que eu poderia falar pra ela, quando começo a escutar cantos de pássaros. E estes seguem cada vez mais altos e… acordei! Agora acordei de verdade, 06:06 da manhã. Tiro aquela água do joelho e penso “Rapaz, quer saber, vou é escrever sobre esse sonho. Que coisa interessante, fazia tempo que não tinha um sonho doido. E fiquei foi amarradão, pois é bom lembrar que fiz parte desse circo e agora torço por ele, torço pelos brasileiros que seguem nele e agora, mais do que nunca, torcemos com gosto, gosto da vitória, gosto de finalmente já termos um título.

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