
A facilidade de aprendizado do SUP pode causar uma falsa sensação de segurança a quem dá suas primeiras remadas. Atividade, porém, está sujeita à variações climáticas e das águas. Sendo assim, a segurança deve ser sempre levada a sério. Foto: arquivo
Por Thaís Viveiro
Remar até ilhas, navegar de praia em praia, sentir a imensidão do mar e a paz de espírito quan- do não se vê mais terra são alguns dos grandes fascínios do stand up paddle para seus praticantes. No entanto, não é só de glamour que são feitas as remadas em mar aberto. Conhecimento, cautela e bom senso devem fazer parte da bagagem dos rema- dores que se aventuram mar afora.“É um ambiente que envolve condição climática, navegação de terceiros e rotas de barcos, então o remador tem que se preocupar com esse contexto geral da remada. O que pode ser uma coisa bem simples, em muito pouco tempo, pode se tornar algo perigoso. Você sempre vai se colocar em risco, então tem que estar preparado para isso o melhor possível”, afirma Magno Matozo, diretor de provas da Confederação Brasil de Stand Up Paddle.
Para Ivan Floater, presidente da CBSUP, a segurança co- meça pelo conhecimento. “As pessoas até se preocupam com segurança, mas às vezes elas não têm noção dos ris- cos que podem correr porque não têm um conhecimento profundo do ambiente aquático”, diz Ivan.
DE OLHO NO MAR

De acordo com Romeu Bruno, remador de SUP desde 2004, o vento é um dos principais complicadores em pas- seios em mar aberto. “Já salvei muita gente que foi pega de surpresa pelo vento”, conta Romeu, que trabalhou como salva-vidas por 12 anos no Hawaii. O erro mais comum que o supista observa é o praticante sair para a remada a favor do vento, sem notar a sua força, e, na hora de voltar, não dar conta de remar contra o vento.
Para evitar surpresas, é importante verificar as previsões e observar a velocidade do vento, direção e as mudanças previstas para as próximas horas. Um vento com mais de 10 nós (18 km/h), por exemplo, já é arriscado para pratican- tes principiantes ou intermediários. “Ficar atento à questão de variação de vento é fundamental para você não acabar numa roubada”, ressalta Romeu. Caso não escape ao ven- to contra e tenha dificuldades para avançar, ele aconselha deitar na prancha e remar nessa posição. Em alguns luga- res, a remada pode ser também bastante influenciada pela maré. É o caso de rios, canais pequenos ou locais em que a variação da maré é muito grande, como no Nordeste do país. Nesses lugares, se você sai em uma maré cheia e volta quando a maré está vazando, você pode não conseguir re- tornar pelo caminho que previu. Portanto, quando for remar em algum local com essas características, consultar a tábua da maré pode te poupar de alguns sufocos.
Romeu indica também checar a ondulação. “Se você sai de Ilhabela, por exemplo, para ir a Maresias e pegar um swell de sul, a ondulação está contra você. Vai ser muito mais difícil remar.” Depois de um tempo de remada e quando o cansaço começa a bater, a ondulação derruba até re- madores mais experientes. “Com a ondulação, você acaba caindo lá fora. Por melhor que seja, você começa a errar por causa do cansaço e pode acabar se machucando”, alerta Romeu.
A análise da ondulação vai ainda um pouco além: no caso de planejar chegar até uma outra praia, é importante calcular qual será a situação no seu destino. Você pode sair de uma área protegida, sem ondulação, mas chegar em uma praia com ondas de 2 ou 3 metros. Além das condições da natureza, deve-se levar em conta outras embarcações que podem aparecer pelo caminho, evitando locais que são rota de navios ou onde há marina de jet ski. “Isso tudo tem que ser evitado. Atravessar o Canal de Santos, por exemplo, é muito arriscado”, diz Romeu. Para se informar sobre o movimento na região em que pretende remar, normalmente basta consultar o pessoal local. No caso de ainda assim encontrar uma embarcação, a dica é remar paralelo a ela e retomar a sua rota somente depois que ela passar.
AOS 2:38 MIN VOCÊ ENTENDERÁ PORQUE O LEASH É INDISPENSÁVEL:
DE OLHO NO REMADOR
Conhecer e respeitar seus limites físicos é igualmente importante para remadas mais longas. A fadiga, segundo Romeu Bruno, é muito recorrente entre os praticantes de stand up paddle. O remador conta que já presenciou muitos casos de pessoas que remam mar afora e não conseguem retornar por conta da exaustão. “Hidratação e alimentação são fundamentais”, acrescenta. “O cara pode ter uma insolação e desmaiar se vai fazer uma remada mais longa e não está hidratado. Se for fazer um percurso de mais de uma hora em mar aberto, e bom levar barrinha, água, protetor solar e tal”.

Equipamento de segurança também não deve faltar. O leash é considerado essencial para qualquer remador. Caso o praticante caia da prancha, ela pode se afastar por conta de um vento forte e ficar fora do alcance de dono. “Já vi isso acontecer muito em mar aberto”, afirma Romeu. A Confederação Brasil de Stand Up Paddle recomenda ainda o uso de colete entre iniciantes. “Apesar de a prancha ser insubmergível, pessoas que não têm conhecimento suficiente de natação caem ao lado da prancha, presas pelo leash, mas ficam tão desesperadas que não conseguem voltar”, diz Ivan Floater. “O colete é essencial. O cara pode estar remando e cair, para trás ou para a frente, bater a cabeça na prancha e desacordar. E aí o colete pode sal- var a vida do cara”, aponta Romeu.
Já entre profissionais experientes, buscando performance, o colete pode ser dispensado. Para a Confederação, o colete não é item obrigatório para o praticante que tem capacidade técnica e física, uma vez que o acessório impede que ele tenha mobilidade para remar com a destreza que é buscada para se desenvolver no esporte. “Vai do bom senso de quem quer se manter seguro. Em primeiro lugar, você tem que saber em que nível está. Obviamente, se está iniciando, tudo o que puder usar para a sua segu- rança é melhor”, afirma Magno Matozo. De acordo com o horário da remada, o supista deve se prevenir levando equipamento de iluminação para o caso de voltar à noite. “O pessoal geralmente compra aqueles bastões lumino- sos de mergulho e amarra um vermelho no lado esquerdo e um verde do lado direito do colete. Aí o pessoal de barco entende como uma embarcação e tem noção de onde está indo”, sugere Romeu.
Por fim, é sempre recomendável sair para remadas em mar aberto no mínimo em dupla, evitando sair sozinho. Avisar alguém sobre a sua rota e horário previsto de volta, levar celular ou rádio VHF são outras precauções que devem ser tomadas. No caso de uma aventura mais desafiadora, Ivan Floater sugere ainda que seja feita com barco de apoio e recomenda informar a Capitania dos Portos do local se for fazer alguma rota que foge do trivial.
* Matéria originalmente publicada na revista Standup #15. © Todos os direitos reservados.
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