Análise do editor

SUP Paulista em crise

Quem será capaz de controlar esse incêndio antes que restem apenas cinzas do SUP paulista?

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Quem será capaz de controlar esse incêndio antes que restem apenas cinzas do SUP paulista? Foto: Reprodução.

 

O último final de semana foi de grande expectativa para os amantes do stand up paddle em São Paulo, afinal, após alguns anos de hiato, seria realizada, em tese, a primeira etapa do circuito paulista nas categorias race e wave*. 

 

Eu, particularmente, vi a iniciativa com grande esperança, pois acredito que o esporte a nível profissional precisa de um circuito organizado e homologado para fortalecer atletas locais. Além disso, apesar do enorme sucesso de eventos independentes como no caso do Aloha Spirit Festival, exemplo de prova bem sucedida, para muitos atletas, um título estadual ainda faz a diferença na hora de negociar um patrocínio ou conseguir o apoio de uma prefeitura (podemos nos aprofundar bem mais nesse assunto, mas esse não é o foco deste artigo).

 

Dessa forma, quando soube que haveria um circuito chamado “SUP Festival” anunciando que seria homologado pela Federação Paulista de Surf com o objetivo de definir e premiar campeões paulistas nas categorias Race e Wave, ofereci o apoio do SupClub na divulgação.

 

Claro que o fato de um circuito de SUP ser homologado por uma entidade de SURFE não seria o cenário ideal, mas, tendo em vista a desorganização com que o stand up paddle é conduzido em São Paulo (e mais abaixo volto a esse tema), vi na iniciativa uma possibilidade de abrirmos um caminho para que os paulistas retomassem as rédeas do esporte no estado.

 

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No detalhe o anúncio do “Paulista” que nunca existiu. São Paulo não merece esse desrespeito. Foto: Reprodução.

Pois bem, produzi matérias, divulguei o circuito que, para surpresa geral, não foi válido como estadual! O mais surreal: somente no dia do evento é que foi anunciado que não havia chancela da FPS e nem de nenhuma outra entidade legalmente apta a oferecer tal título. Não precisa nem dizer que isso causou revolta entre atletas, mas outros transtornos também foram registrados (também não vou me aprofundar sobre isso, mas converse com atletas que participaram dessa prova e tire suas conclusões).

 

Tristeza e desânimo geral. Mais uma vez a tentativa de se criar um circuito paulista naufragou de forma melancólica e irresponsável.

 

Na segunda-feira, já ciente do ocorrido após ter conversado com vários atletas, recebi o release sobre a prova e nenhuma explicação sobre a (falta de) homologação.  Entrei em contato com Luiz Fernando, organizador do circuito, para saber o motivo e obtive foi a seguinte resposta:

 

No final da matéria está colocado que postarei uma nota explicando os fatos ocorridos.

 

Por não concordar com o teor do release, recusei-me a publicá-lo no site, mas o texto também está publicado na página oficial do evento no facebook. A tal da “explicação” se resume a uma nota no último parágrafo, onde se lê:

 

A direção da prova irá soltar uma nota de informação e esclarecimento sobre alguns dos pontos levantados pelos atletas para esclarecimento de todos.”

 

Respondi que, uma vez que houve casos de atletas que viajaram de outros estados para competir nessa prova, acreditando que competiriam numa prova de estadual, a prioridade deveria ser informar o motivo pelo qual a prova não era mais válida pelo Paulista, ainda mais quando o valor da inscrição foi alto: R$ 150,00.

 

Para minha surpresa, recebi a seguinte resposta:

 

Tenho outras providências com o staff e fechamento do evento. Fique tranquilo que na sequência sairá (a explicação)”.

 

Bem, após essa resposta, a primeira atitude que tomei foi pedir para que todas as logomarcas do SupClub fossem removidas das peças de divulgação das próximas etapas evento. Percebi que, assim como os atletas, também fui enganado.

 

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Talentos desperdiçados: SP tem a maior concentração de atletas de ponta do país e, no entanto, ao contrário do restante do Brasil, sem uma entidade legítima para organizar o esporte a nível estadual. Foto: Luciano Meneghello.

 

Mas, como não é possível apagar o que foi feito, faço aqui um pedido de desculpas a todos os leitores do SupClub por ter divulgado um suposto circuito paulista que no final das contas não existiu. Falhei por meu excesso de otimismo e esperança de que as coisas finalmente iram caminhar em São Paulo, onde, ao contrário do restante do país, o SUP parou de crescer.

 

Ainda assim, fica uma lição para todos nós. Esse triste episódio me fez refletir sobre uma máxima do futebol que diz: “Quem não faz gol, leva”. Ou seja, enquanto não houver uma Federação legítima no estado, atletas, imprensa e empresários estão sujeitos ao surgimento de aventureiros prontos para “comandar” o esporte organizado a nível estadual. E ai, caro leitor paulista, faço a você seguinte pergunta:

 

MAS O QUE ACONTECE COM SP?

 

Não raro, me perguntam como é possível que o estado mais rico do Brasil ainda não conte com uma federação legítima para organizar um circuito estadual?

 

Amigo, se eu soubesse o motivo, não estaria escrevendo esse texto. Claro que o fato de já existir uma Federação Paulista de SUP, criada há alguns anos de forma obscura, sem a participação de nenhum atleta e sem a menor representatividade, travou muita gente boa que um dia pensou em criar uma federação.

 

No entanto, mesmo assim, ainda é possível que outra federação paulista seja criada. Não vou nem entrar em detalhes, mas, sim, é possível. Infelizmente, ninguém em São Paulo quer assumir essa frente e essa brecha, como sabemos, abre espaço para os aventureiros de plantão.

 

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Nicolle Pacelli, que acumula títulos brasileiros, mundial e uma medalha de ouro nos jogos da ISA, é mais um exemplo do brutal contraste entre potencial e desorganização encontrados no SUP paulista. Foto: Luciano Meneghello.

 

Mas, se você olha o quadro como um todo, fica difícil entender como é que esse estado não consegue criar uma federação legítima apta a realizar um estadual bem organizado e fomentar o esporte de maneira sustentável. À primeira vista, SP tem os elementos necessários para a condução de uma entidade oficial bem sucedida. Elenco quatro fatores-chave:

 

1 – SP tem tradição: O SUP brasileiro teve seu início em águas paulistas. Brasileiro radicado no Havaí, Vitor Marçal fez as primeiras remadas em uma prancha de stand up paddle de que se tem notícia no Guarujá, em 2004 (saiba mais sobre essa história AQUI), plantando a semente do esporte;

 

2 – SP tem grana: São Paulo é o estado mais rico do Brasil. Além disso, algumas das maiores marcas de stand up paddle do Brasil são paulistas;

 

3 – SP tem a maior concentração de atletas de ponta do país: São 6 títulos brasileiros de Race e 10 de Wave nas categorias profissionais. Mais dois títulos mundiais de Wave (Leco Salazar e Nicole Pacelli) e uma medalha de ouro no Mundial da ISA (Nicole Pacelli);

 

4 – SP detém o recorde da maior prova de SUP Race feita no Brasil: Aloha Spirit Ilhabela, com mais de 400 atletas na água.

 

Pois bem, juntando esses quatro fatores é inacreditável que o stand up paddle em São Paulo esteja à deriva, relegado a ações pontuais e isoladas. E é justamente nesse ponto que você percebe que falta uma coisa fundamental para que esses quatro fatores convertam na criação de uma federação apta a criar campeões paulistas e fomentar o esporte de maneira organizada: falta UNIÃO.

 

Já ouviu o ditado “Muito cacique para pouco índio”? Infelizmente parece ser o caso de São Paulo. Tantos atletas de ponta, tantas empresas fortes e tanta gente com vontade de consumir stand up paddle acabaram por criar diversos polos de força que, não raro, entram em rota de colisão.

 

E se não há um entendimento, o que vemos é exatamente o que está acontecendo. Todos com sua cota de razão, muita disposição para crítica e quase nenhuma para o diálogo, criando o cenário perfeito para o surgimento de aventureiros de todo tipo prontos para “tomar conta” da galinha dos ovos de ouro. Até quando?

 

* Obs.: em 2016 houve a realização de uma competição de wave chancelada como etapa de paulista dando títulos a Nicole Pacelli e Carlos Bahia.

 

 

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Luciano Meneghello é editor-chefe e fundador do site SupClub. Foto: Reprodução.

 

 

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