Alegria tupiniquim

Surf em verde e amarelo

Pablo Paulino, Billabong World Junior 2005, North Narrabeen, Austrália

 

Pablo Paulino durante comemoração do seu primeiro título mundial sub-21. Foto: ASP World Tour / Karen.

?É o meu Brasil brasileiro, terra de samba e pandeiro… Brasil, pra mim, pra mim, pra mim…?.

Não há jeito melhor de começar a escrever sobre nosso povo do que citando uma frase de uma das mais conhecidas canções já feitas para exaltar nosso país verde e amarelo.


O Brasil deixa qualquer ser humano maluco com suas belezas naturais, clima quente por todo o ano e com a energia peculiar de nossa amada terrinha.

 

Calor, descontração, comida boa, povo folgoso, animado e festivo que ama o futebol e se junta, independentemente da etnia, credo ou classe social, para torcer com toda a força por nossa seleção brasileira.

 

Povo esse que é feliz com tão pouco e que ri, que chora, que bate palma, que não se cala perante o que não concorda e que, quando deve, esfola. Povo que tem suingue até no jeito de olhar.

Torcida brasileira em Merewether, Austrália. Foto: Claudio Pona / Surf in Focus.com.


Justificam os sorrisos da gringalhada, quando retornam de férias de nosso país com seus rostos avermelhados pelas caipirinhas e pelo sol, garrafas de pinga em suas mãos, imagens inesquecíveis em suas máquinas fotográficas e com um pedaço de nosso país em seus corações.

 

Mas, além disso, o que faz nosso país tão especial e querido por outras bandas é o sentimentalismo de nossa população. É a paixão em viver dos brasileiros que contagia os turistas que aqui são recebidos de braços abertos. É a maneira emotiva de agir peculiar do povo tupiniquim.

 

É essa emoção que chama a atenção de um surfista de outro país que, comemorando um título mundial em uma praia brasileira, sente uma energia que não sentiria frente a seus compatriotas em sua casa.

 

Povo que faz qualquer ?foreign fella? ter os melhores ou os piores momentos de sua vida fruto dessa vibração. Não se trata, ao contrário do que muitos dizem, de babação de ovo, essa curtição brasileira.

Nossos surfistas no dream tour não são diferentes. Como brasileiros que são, têm uma sensibilidade e uma paixão pelo que fazem maior do que a de qualquer outro adversário que estejam em suas baterias.

 

Quando em cima de suas pranchas carregam junto de si essa emoção, o que muitas vezes justifica caírem em manobras de rotina ou pecar nas escolhas de ondas durante seus confrontos. Assistindo-os pela televisão ou mesmo pela internet, fica claro que surfe e dedicação para se dar bem no circuito mundial eles têm de sobra, caso contrário, não estariam defendendo a nossa pátria pelo mundo afora.

 

Mas, quando entram na água, além de suas pranchas, levam a expectativa de todos os brasileiros (haja reza brava!), de seus familiares, tudo o que já enfrentaram para se destacar internacionalmente e como se não bastasse, ainda têm de encarar outros atletas tomados de energia em sua frente.

Diferente deles é o resto dos tops, que em sua essência tendem naturalmente a serem mais racionais. São criados em sistemas derivados de países anglo-saxônicos ou mesmo europeus, cresceram sem saber o que é Carnaval, o que é uma copa do mundo à brasileira, não sabem o que é ficar puto com política, não sabem o que é passar fome ou ver gente sem ter onde morar na esquina de casa. Pela estabilidade proporcionada por seus países, têm uma visão simples e mais fria da vida, o que nas horas de tensão os favorece.

Convenhamos, seus países têm algumas décadas a mais de surf que o nosso, suas ondas são geralmente muito melhores que as de nossa costa e usufruem de toda uma estrutura para que treinem sem se preocupar com dinheiro ou qualquer outro problema que os tirem de seus objetivos. 

O resultado de todo esse investimento são verdadeiros robôs, que atingem uma concentração e foco ao ponto de fazer inveja a qualquer monge budista.

Agora, a pergunta: será que vale a pena também tornar nossos atletas em máquinas só para ter um campeão mundial? Tirar essa brasilidade, esse sorriso, essa emoção do olhar de nossos atletas só para sermos consagrados campeões?


Na minha humilde opinião, o fato de termos vários surfistas figurando entre os 44 melhores surfistas do mundo é uma vitória. E isso sem levar em consideração nossos já conquistados títulos mundiais nas ondas grandes, no bodyboard, dos pro juniores e de nossos longboarders, que em meio a toda essa cobrança parece que foram esquecidos. Lembra muito aquela história de Oscar dos cinemas brasileiros.


Galera, nós já chegamos lá! E quer a prova de todo esse sentimentalismo brazuca? Acesse o Fórum deste texto daqui dois dias.

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