Uma das grandes máximas entre quem surfa é pegar ondas com os amigos num pico de ondas perfeitas e sem crowd. Isso é sonho, isso é mágico, mas é bem possível, sim.
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Morar em grandes cidades com praias e facilidades no acesso a elas é complicado e concentra um crowd grande e faminto.
Floripa, Guarujá, Rio de Janeiro, San Francisco, San Diego, Gold Coast e Sydney são bons exemplos de lugares com ondas boas e crowd pesado.
Seja no meio da semana, fim de semana, cedinho, fim de tarde, não importa; sempre que tem uma vala, tem uma cabeçada sedenta para dropar alguma onda.
Na Austrália, a densidade demográfica é muito pequena. Um pouco mais de 20 milhões de pessoas num território imenso! A concentração maior é nas cidades litorâneas. O centro do país é inóspito, não tem água, o clima é praticamente desértico, ou seja, a população mora na praia!
Agora que o clima esquentou, então nem se fala; as praias de Sydney estão lotadas quase todos os dias, o wetsuit já foi abandonado por alguns mais calorentos, a criançada se concentra na beira com seus softboards e bodyboards, os surfistas de ?temporada? tiraram a poeira das fishs e dos pranchões e o caos toma conta do line-up.
Mesmo assim, existem muitos ?oásis? em meio a tanta correria na busca por uma vaguinha na vala. Basta dirigir um pouco ao Norte ou ao Sul para encontrar picos sem ninguém, tanto na areia, como no mar!
Aqui na Austrália existem os parques nacionais, verdadeiras reservas da fauna e flora com acesso liberado para quem quiser se aventurar. Mas não se trata de uma aventura como as que estamos acostumados no Brasil, onde muitas vezes o sinônimo é uma grande roubada.
Chegue com seu carro, entre no camping, compre o ticket com moedas, monte sua barraca, utilize a churrasqueira elétrica, chuveiro quente e desfrute da natureza com respeito. Impressionante! Falar assim até parece brincadeira, mas é comum e simples de fazer acontecer.
Fora os backpackers e surfcamps espalhados por todo o país. Se você não é adepto das barracas, não tem problema: com cerca de AU$ 20 por noite você fica num quarto com toda a infra e de frente para o pico. Não é difícil achar um mercadinho para se abastecer de mantimentos, posto de gasolina e tudo mais.
Essa trip que fizemos foi para a região de Seal Rocks. Bastou monitorar um swell de Sudeste com vento fraco que era certeza ter onda boa.
O micro-ônibus parte do centro de Sydney com surfistas experientes e com aprendizes que nunca subiram numa prancha. Europeus, japoneses, australianos, colombianos e, é claro, brasileiros!
A trip dura cerca de três horas e meia, com direito a parada pra comprar uns drinks e comer um saunduíche esperto.
Lógico que rola aquela baguncinha estilo busão indo pro acampamento dos tempos de colégio, mas é uma integração sadia entre as nações e entre o staff do surf camp que viaja e curte junto.
Chega-se no camp, instala-se no dormitório e é só capotar! Às 7 da matina começa a correria de tomar café, separar os equipamentos e partir pra praia.
O pessoal do camp já sabe onde levar a galera. Vento e ondulação conferidos pela internet na certeza de proporcionar aos hóspedes uma trip com ondas boas.
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Na manhã do primeiro dia (sábado), fomos levados para a praia de Seal Rocks, onde existem duas possibilidades: o beach breack de qualidade e o point break internacional!
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Se você não está acostumado com pedras passando por baixo dos seus pés e da sua prancha, pode ficar mais na boa. Mas se a perfeição absurda de direitas com mais de 100 metros de distância te atrai e você não se importa com as pedras, então se jogue!
Depois de se esbaldar nas ondas, é montado um almoço com cara de lanche no melhor estilo barca de surf: em cima de um pranchão, pão integral com legumes, frutas e frios. Monte seu sanduiche e renove as energias para a parte da tarde.
Consultei um dos guias da barca, o Bra Boy (“localzaço” de Maroubra) Ness, sobre os outros picos mais próximos e ele veio com uma frase mágica: ?a segunda praia ao Sul vai estar de gala, deixa o pessoal voltar pra água que te levo lá?.
Um dos integrantes da barca, o experiente surfista e empresário Maurício Pucci, gostou da idéia e ofereceu seu 4×4 para chegarmos ao outro pico. Sendo assim, o guia nem precisaria ir junto.
Estacione o carro tranquilamente, faça uma trilha de 500 metros, encontre dunas de areia branquinha e surpreenda-se! Ondas solitárias de 4 a 5 pés, água totalmente cristalina.
Por um segundo assustei com a possibilidade de tubarões na água, mas a adrenalina falou altíssimo e fui tranquilizado pelo viajado companheiro que ali era assim mesmo: sem crowd!
Surfe até cair, deixe passar as ondas que quiser, escolha o lado que quer dropar, ria sozinho, medite, arrisque manobras, atrase pro tubo, reze e agradeça por aquele momento mais do que especial!
À noite, no surf camp, rola uma festinha super animada na piscina sob o comando do ?Dj I-pod?. Pague AU$ 20 e beba o quanto quiser!
O staff organiza brincadeiras com bebidas para integrar ainda mais a galera mais tímida que está afim de socializar ou aqueles que não estão muito preocupados com a ressaca do dia seguinte.
As européias, tão tímidas, acabaram com tanto calor que desfizeram-se de várias peças do vestuário no decorrer do evento.
No dia seguinte, estavam todas de óculos escuros e boné na mesa do café da manhã, numa tentativa (em vão) de não serem reconhecidas com roupa, já que com pouca roupa até os curiosos cangurus do jardim já as conhecíam.
Nesse segundo dia, foi engraçado ver a galera iniciante andando toda dura, com dores no corpo de tanto surf. Alguns torrados do Sol, outros já dizíam que desistiram de tanto wipe out, mas a maioria mesmo estava animada com a trip e com mais um dia de aulas de surf.
Fomos para mais uma reserva, Booti Booti Beach. Bateram Maresias e Itamambuca num liquidificador e fabricaram aquela onda. Pesada e tubular num vusual incrível!
Novamente aquela mesma surpresa: ninguém no outside com 6 pés cuspindo uma baforada atrás da outra! Meu Deus, para quem esteve surfando nos último quatro meses em Fresh Water, Manly e North Narrabeen com mega-crowd de fominhas, aquilo ali era de dar águar na boca!
Dessa vez tive a companhia do guia Ness, que é um excelente surfista e um cara bem simples. Quando descobri que ele era dos Bra Boys, perguntei muita coisa pra ele, afinal, quando você vê o filme acha que os caras são da pesada, marrentaços, violentos, etc.
Mas é aquela história, encontrei na Austrália dois dos locais mais marrentos e encrenqueiros que conheci no Brasil. Aqui parecem moças bem educadas, sorrindo e cantando.
Um deles, inclusive, tomou uma apavorada em North Narrabeen de um tiozão das antigas que tenho certeza que não voltou mais lá. O mundo dá voltas.
Mas, se compararmos localismo e violência em termos de Brasil e Austrália, a coisa é bem diferente. Por uma simples questão: aqui a polícia funciona!
Ou seja, se alguém te enfia a porrada por briga de onda e rabeação, ou mesmo te coloca em situação constrangedora, você pode levar o cara pra frente do juiz e, consequentemente, pra trás das grades. Então, aqui rola mais uma coação verbal do que pancadaria.
Bom, o surf em Booti Booti foi alucinante durante todo o dia. Na variação da maré entrou uma correnteza que dificultava um pouco alcançar as direitas do canto, mas nada que uma acelerada na remada não resolvesse.
Depois de todos acabados de tanto surf, nada de bebidas ou algazarra no ônibus. Um belo cochilo até Sydney sonhando com as imagens daquele lugar maravilhoso e daquelas ondas perfeitas.
O nome do surfcamp só poderia ser ?Waves?.
See you soon!