Os esforços da ISA (International Surfing Assossiation) para elevar o stand up paddle ao patamar olímpico ganharam um rumo inesperado nas últimas semanas com a entrada da ICF (International Canoe Federation) na disputa pela “paternidade” do SUP.
A ISA, que realiza um Mundial de SUP desde 2012, com o objetivo claro de levar o esporte às Olimpíadas, vinha atuando até então como “a entidade” responsável por esse trabalho, que tomou força com a inclusão do surfe nos jogos olímpicos de Tóquio (e, verdade seja dita, em grande parte devido a um bem sucedido trabalho de anos encabeçado pela ISA).
No entanto, a entra de novos esportes nos jogos olímpicos, entre eles o surfe, aumentou as chances de uma possível inclusão do stand up paddle num futuro não muito distante e atraiu a atneção de novos players como a ICF, que resolveu entrar no jogo, defendendo sua posição de que o SUP, por ser um esporte praticado por um remo, deve ser automaticamente reconhecido como canoagem e não como surfe (como quer a ISA).
“Até o ano passado não houve interesse da ICF”, disse o presidente da ISA, Fernando Aguerre, a repórteres da Reuters nesta quarta-feira. “O interesse surgiu quando estávamos levando o SUP para as Olimpíadas da Juventude, que serão realizadas em 2018, em Buenos Aires”.
Aguerre continuou: “Nós temos um histórico de envolvimento com o SUP, ao passo que a ICF somente agora está mostrando interesse e busca se associar à popularidade desse esporte”.
O surfe é um dos cinco novos esportes que serão incluídos nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, e Aguerre revelou que a ISA tentou sem sucesso incluir o SUP nesses Jogos na forma de uma modalidade de surfe.
O secretário-geral da ICF, Simon Toulson, no entanto, rejeitou o comentário de Aguerre sobre a recente chegada de sua organização ao esporte:
“A ICF está envolvida no SUP há vários anos e não começou no ano passado”, disse Toulson aos reporteres da Reuters.
“Muitas das nossas federações têm o SUP integrado a seus Comitês e são responsáveis pela realização de competições nacionais e internacionais”, completou.
A disputa pelos direitos de representar o SUP vieram à tona quando a ISA tentou incluir a modalidade em Tóquio e em Buenos Aires. Foi então que a ICF fez sua objeção afirmando que a ISA não poderia ser reconhecida como autoridade definitiva desse esporte.
As duas federações se reuniram com o Comitê Olímpico Internacional há alguns meses para resolver as diferenças. Mas não entraram em acordo e, segundo Aguerre, não foram planejadas novas negociações.
“Os estatutos da ICF declaram claramente que se uma pessoa usa um remo como forma principal de propulsão para sua embarcação na água, ela esta praticando canoagem ou remo. Nós nos reunimos com a ISA em várias ocasiões nos últimos dois anos e oferecemos alternativas que foram todas rejeitadas e a questão agora é realmente definir qual organização é responsável pelo stand up paddle em nível olímpico”, finalizou Toulson.
OPINIÃO DO EDITOR – NEM UM E NEM OUTRO
Por Luciano Meneghello
Acompanho os bastidores dessa disputa há algum tempo e se você me perguntar se o SUP é canoagem ou surfe, a minha resposta é: nem um e nem outro, mas uma derivação de ambos.
Por isso, não me agrada ver o SUP ser representado pela ISA, que é uma entidde de surfe, e nem pela ICF, que é uma entidade de canoagem. No entanto, a ISA ao menos realiza um mundial muito bem sucedido há anos que indiscutivelmente contriuiu para o crescimento desse esporte. Mas, por ser uma entidade de surfe, existe essa forçada de barra da ISA em tentar transformar o SUP em uma modalidade de surfe. veja, não é de todo errado, mas tampouco está certo. Mas eles realmente pensam assim, e pensam assim porque são uma entidade de surfe e não de SUP.
Por outro lado, a ICF, o que fêz? Tente se lembrar de alguma prova de SUP relevante, a nível mundial, organizada por essa entidade. Pois é…
Acontece que em vários países a falta de organização do esporte levou muitos organizadores a se filiarem a federações de canoagem ligadas à ICF, que viu ai uma justificativa que legitimasse sua entrada nessa briga.
É difícil entender essa situação por aqui, pois, felizmente no Brasil a criação da CBSUP e a realização do mais bem sucedido circuito nacional de SUP race do mundo, permite que praticantes tomem as rédeas desse esporte. Não fosse o trabalho herculesco da CBSUP para organizar o esporte por aqui, os rumos do SUP no Brasil poderiam estar sendo decididos dentro de um departamento da CBCa ou Abrasp.
Essa, porém, não é a realidade do SUP na maior parte do mundo.
Essa crise de identidadade faz com que diferentes federações atribuam para si a paternidade do esporte em vários países. E a briga entre ISA e ICF é apenas um reflexo dessa situação.
Talvez, o recém-inaugurado APP World Tour ganhe corpo e chegue para ocupar essa lacuna a nível mundial, pois é nitído que precisamos de uma entidade de SUP para nos representar globalmente. No entanto, dificilmente a Waterman League, responsável pelo APP World Tour, conseguirá brigar de igual para igual com ISA e ICF pelo direito de representar o SUP nos jogos olímpicos.
Mas, pensando bem, se ISA e ICF mantiverem seu foco nos jogos olímpicos e deixarem o Tour mundial nas mãos de quem realmente entende de SUP, pode até ser uma boa, pois, do jeito que as coisas estão caminhando, o “SUP Olímpico” vai se parecer muito mais com uma variação de canoagem velocidade do que SUP Race. E ai eu te pergunto, ver dez caras remando em linha reta 200 metros de sprint em flat water vai realmente mostrar ao mundo o quão legal é o stand up paddle?
Enfim, ainda tem muita água para ser remada e essa história está longe de ter um desfecho. Acompanhemos os próximos capítulos.
NOTA: AQUI vai um artigo que escreví ano passado sobre o SUP nas olimpíadas onde me aprofundo mais sobre o tema. Se você se interessa pelo assunto, recomendo a leitura!