A construção do emissário submarino de esgotos da Barra da Tijuca, no RJ, tem movimentado os surfistas da cidade com duas grandes questões:
Uma delas é a possibilidade de boas ondas rolarem, de modo semelhante ao que aconteceu com o lendário Pier de Copacabana, em 75. As obras de aterro e enrocamento (colocação de rochas para proteger o encanamento de movimentações no solo oceânico) deverão criar excelentes bancos de areia, e com certeza durante a construção vai dar altas ondas. Devido às características da praia, aberta e exposta a qualquer ondulação e também a ação de correntes, talvez seja melhor deixar a areia correr entre os pilares, contrariando o desejo do Bocão (ver Ecobeach 19/03). Mas isso não passa de especulação minha, pois não sou especialista no assunto.
A segunda questão diz respeito ao aspecto ambiental e a possibilidade da praia ficar poluída devido ao lançamento de esgoto em alto-mar. Em relação a isso, o mais importante a ser feito pelos surfistas cariocas é pressionar os responsáveis pela obra para conhecer as características técnicas do projeto. Uma série de perguntas precisam ser muito bem respondidas, como por exemplo:
1- Quem fez o estudo de circulação oceânica da área afetada pelo emissário e do comportamento da pluma de dispersão?
2- Se foram feitos estudos, o que eles dizem?
3- Há risco do material voltar para a praia, ainda que remoto (em condições especiais de ventos/ondulação/marés/correntes)?
4- A quantos metros da praia será descartado o material?
5- Haverá algum tipo de tratamento no esgoto? Em caso afirmativo, qual será?
6- Se houver tratamento, há planos para torná-lo mais eficiente ao longo do tempo (se for um tratamento primário, pensam em fazer o secundário daqui a alguns anos ou vai ficar sempre na mesma?)?
7- Existe um Estudo de Impacto Ambiental com seu respectivo Relatório (EIA/RIMA) e o mesmo já foi aprovado?
8- Se não foi aprovado, onde e quando será a audiência pública? (Assim, os surfistas podem comparecer em peso à audiência e pedir informações, inclusive questionando o projeto caso esteja prevista alguma ação que cause risco ambiental).
Tomando-se como exemplo os emissários de esgoto do Estado de São Paulo, os estudos já realizados mostram que o impacto causado por estes geralmente é pontual (fica num raio de mais ou menos um km do lançamento, podendo chegar a pouco mais de dois km em condições desfavoráveis à dispersão dos resíduos). Além disso, sabe-se que a cloração, muito utilizada na desinfecção dos esgotos, aumenta o poder tóxico do efluente final, e pode também, em certas condições, ligar-se à matéria orgânica e originar compostos organoclorados, que são altamente cancerígenos e persistentes na natureza. Por isso, caso ocorra cloração, deverá haver também uma descloração do esgoto antes do seu descarte, de modo a proteger não só o ambiente, mas também a saúde pública, uma vez que a costa da Barra serve como pesqueiro de camarões e outros peixes de valor comercial.
Entretanto, a disposição oceânica do esgoto definitivamente não é a solução ideal, só é a mais barata e às vezes a mais viável. O ideal é tratar o esgoto e devolver água limpa para o mar. Porém, devido às condições econômicas do nosso País, o tratamento total do esgoto das grandes cidades ainda é uma utopia, pois é caro fazer isso. Assim, os responsáveis pelo saneamento ambiental se vêem numa situação difícil, e lançar esgotos no mar torna-se a opção mais prática, embora muito longe da ideal. Basta ver que no Reino Unido, esgotos só podem ser lançados no ambiente após passarem por tratamento terciário, o que significa que o esgoto lançado no mar lá é equivalente a uma água com mais de 95% de pureza, uma realidade ainda bem distante da nossa.
De qualquer modo, é bem provável que com o início da operação do emissário, a poluição nas lagoas adjacentes, no quebra-mar e em certos pontos da Barra diminua bastante. Mas a galera precisa se assegurar de que as coisas vão ser feitas do modo correto, tomando-se os devidos cuidados ambientais e com a saúde pública.
Surfistas do Rio: informem-se, pressionem as autoridades competentes e fiscalizem o projeto, pois o interesse é de todos nós!