A Inglaterra é conhecida por apresentar excelentes índices de qualidade vida. Quanto ao surf, as ondas são de razoáveis a boas e o “tour” passa por lá com ricas etapas tanto do WCT como do WQS. Comparada com o Brasil, a terra do príncipe Charles perde de longe em quantidade e qualidade de seus surfistas. No entanto, nós tomamos de lavada quando o assunto é mobilização e pressão sobre os órgãos públicos.
Já há alguns anos, existe na Inglaterra uma organização não governamental (ONG) denominada “Surfers Against Sewage”, que traduzindo para o português quer dizer Surfistas Contra Esgoto. Essa ONG foi criada por surfistas, mas tem associados mergulhadores, bodyboarders, velejadores, cientistas, ecologistas, turistas e moradores. Como o objetivo deste artigo não é fazer propaganda da ONG citada acima, mas sim mostrar como ela pode nos dar o exemplo de como podemos nos unir para pressionar e ter voz ativa na sociedade atual, vale ler a pequena história abaixo:
Pois bem, até há alguns anos, algumas praias inglesas vinham sendo poluídas por esgoto. Como acontece em muitos lugares do mundo, inclusive o Brasil, achava-se que o oceano poderia depurar as substâncias lançadas pelo homem. Entretanto, com o aumento da população, os problemas causados pelo lançamento de esgoto foram potencializados, e por isso, os impactos devido a esses despejos passaram a ser estudados. Uma vez entendido o quanto os esgotos podem ser nocivos ao ambiente e ao homem, um espírito de consciência ecológica foi despertado na sociedade inglesa (e mais tarde também na mídia), que passou a dispensar uma grande atenção a este sério problema.
A opinião pública e os grupos organizados (dos quais destaca-se a SAS), começaram a exercer forte pressão sobre o governo, fazendo com que as legislações Européia e Nacional Inglesa fossem modificadas, obrigando as companhias de água modernizarem suas estações de tratamento de esgoto e realizarem novas obras. Hoje em dia, em alguns condados ingleses, é proibido por lei lançar no mar esgoto que não tenha passado por um tratamento inferior ao terciário (após esse nível de tratamento, o esgoto atinge um grau superior a 95% na remoção de seus componentes). Assim, as praias e rios estão cada vez mais limpos, e espera-se para os próximos anos uma redução drástica na quantidade de esgoto lançado sem tratamento naquele país.
Só para termos uma idéia, a SAS ganhou tanto destaque que possui um convênio com a agência ambiental inglesa, realizando campanhas contra a poluição e contra o desperdício de água, e organizando um banco de dados sobre a ocorrência de algas tóxicas (marés vermelhas) e de algas não tóxicas que causam aparência estranha na água do mar.
O exemplo inglês é apenas mais um, porém gritante, e mostra como grupos organizados podem exercer pressão e conseguir resultados, mesmo que batalhem contra poderosos grupos econômicos. O Brasil está cheio de praias poluídas ou em via de tornarem-se poluídas por esgotos, muitas delas propícias ao surf. Quantos surfistas existem na Inglaterra e quantos existem no Brasil? Se eles conseguiram, nós também podemos conseguir mudar essa situação.