Foram várias investidas nos últimos anos pra que eu visse a Laje da Jaguaruna funcionar de jeito. É tudo muito rápido quando Thiago Jacaré nos informa sobre o swell que chega com bom tamanho, ótimo período e ventos calmos. “Primão, a laje vai funcionar de gala nesse próximo swell”, disse ele em uma mensagem via zap zap.
Com o litoral catarinense bastante recortado, tendo assim uma grande quantidade de picos, fiquei me balançando e dividido entre pegar a laje e outras ondas que também não costumam quebrar com tanta frequência. Mas, aos 45 do segundo tempo, decidi pela laje em função da previsão de ventos fracos e pela possibilidade de estar perfeito, já que, por se tratar de uma onda a 5.1 km da costa, é sempre uma incógnita. Zarpei com Luciano Burin às 9:30h da noite e no meio do caminho fizemos uma paragem na BR-101, nas proximidades da praia do Sonho, para pegarmos o fotógrafo Luiz Reis.
Meia noite e meia já estávamos embaixo do cobertor e escutando o barulho das ondas, o que foi confirmado ao raiar do sol naquela sexta-feira (28/4). Como de praxe, a movimentação era grande na base da Atow Inj. Aliás, maior que o normal, umas 20 cabeças aprontavam-se rapidamente para adentrar ao beach break com series de 7 a 8 pés. Os jets já estavam preparados quando recebemos o aviso de que a embarcação que locamos, proveniente de Laguna, já está aportando no outside.
Varar o beach break da Jagua em dias grandes não é tão simples requer perícia dos pilotos dos jets. Adentrei com minha gun 10’4” no sled do legend João Capilé. O bicho acelerou bastante e quase solto as alças antes de chegar ao barco devido ao esforço físico. Bom, não estou tão preparado assim, mas o fato mostra o quão é puxado esse lance de onda grande envolvendo máquinas, gunzeiras, etc. Nem tinha chegado na laje e já estava cansado. E não apenas eu embarquei na lancha com esse relato, vários outros brothers também disseram. Lancha lotada, jets com suas duplas e partimos pro meio do mar.
No trajeto, já dava pra ver o tamanho da ondulação e a laje não parava de espumar. “Issa”, essa empreitada vai se concretizar… Tão logo chegamos já pulamos do barco e começamos a remar. Fui na frente e logo Luciano Burin veio atrás. Paulo Moura, que já havia surfado algumas vezes na laje no passado, investiu nesse swell e também pulou na água. Aliás, mais dois nomes conhecidos do surfe catarinense e nacional estavam presentes: Marco Polo, em sua primeira empreitada, e Guilherme Ferreira.
Ir pela primeira vez ao pico em condições excelentes é uma baita de uma sorte. Desfrutou dessa também o catarinense Vinícius Dos Santos e o gaúcho Lucas De Nardi, ambos recém-chegados de temporada havaiana. E a turma ia entrando com os locais João Baiuka e Fabiano Tissot, que estava munido de um SUP 11 pés. Aliás, esses dois, juntamente com Thiago Jacaré e André Paulista, são minhas referências neste pico. Nas vezes anteriores, procurei sempre prestar atenção no posicionamento dessa turma e acabei tendo finalmente o dia pra botar em prática esse aprendizado.
Alguns outros surfistas que conheci nessa session completaram o lineup na remada e algumas duplas de tow in ficaram se revezando. Jacaré puxou Luis Casagrande em algumas, Carlos Pirí puxou o enigmático Pepéu de Laguna em outras e Capilé… bom, não lembro quem ele rebocava, mas no momento em que Thiago Jacaré o puxou em algumas ondas, a regra era a seguinte: sai da frente, meu filho (risos)!
As séries estavam grandes, cerca de 8 a 10 pés com umas de 12 e outras maiores. O posicionamento era bem difícil, mas, pelo fato de ter uma galera no pico, dava pra se encontrar ao prestar bastante atenção, principalmente com a leve correnteza que nos tirava rumo ao norte. Tow e remada ao mesmo tempo é complicado, mas tínhamos preferência, e em alguma grandes que vieram, quem tava rebocado abria passagem. É bem verdade que houve situações de risco, mas em todas as vezes, com controle.
Tissot é sempre o último da fila, o mais deep possível. Quando ele rema com aquela jamanta, sai de baixo. O bicho veio em uma gigante, devia ter mais de 12 pés. Quando fez a curva na base, sua 11 pés pareceu até menor. Que visual, que adrenalina… Mais duas ondas grandes entraram e em uma delas foi Luciano Burin, com uma 9’6 que lhe emprestei. “Vai lá, fera. Essa aí tem 4 capas de fibra em cima e 4 embaixo. Pode botar pra baixo que é difícil quebrar ao meio”. E nessa ele se soltou na session até tomar uma série na cabeça e conhecer o power da Jagua.
Esperei por um tempo, quando uma da série veio linda e grande. Apontei minha 10’4 pra beira e remei forte. Drop atrasado, brisa de terral na cara e adrenalina a mil. Completei o drop e ao contornar a parede dei mais outro drop. Que delícia, a ondulação de sul fizera a parede mais longa do que das outras vezes que havia ido ali. Escuto a galera vibrar e quando olho pra trás Paulo Moura vinha em uma bomba. E as séries nesse momento estavam constantes, tendo João Baikuka surfado uma atrás da outra. Ô bichinho pra ter gás! Pilha da bexiga! Marco Polo também desceu uma irada, assim como Lucas, e ambos voltam para o outside com um sorriso contagiante.
A turma posicionada clicando tudo. Os fotógrafos Lucas Barnis e Luiz Reis, do barco, e Rafa Shot do jet. E a cada momento iam revezando os ângulos. Para esse swell, o produtor Carlos Sanfelice mandou um enviado especial pra documentar. O videomaker Tessari gravava atento para o Canal Off e se mostrou à vontade, pois normalmente os marinheiros de primeira viagem ali enjoam demasiado quando expostos a longo períodos na embarcação. Se ficar ali já é difícil, imagine com um olho no view finder? Dá pra mim, não, prefiro mesmo é ficar na água.
A maior do dia devia ter uns 15 pés e todos tomaram. Ainda dei sorte de estar no rabo da onda e soltei a prancha apenas pra não correr o risco de voltar com o lip. Caramba, pura adrenalina, parecíamos estar no Hawaii. Nessa veio o João Capilé costurando a parede de forma brilhante. Aquele ali tem a manha. A esquerda estava de gala e por isso nem cogitamos a direita, que na real é mais adequada para o tow. Por lá, algumas duplas se revezavam: Arno Phelippe, Marcos Moraes e com certeza outros devem ter feito a mala também.
Havíamos entrado na água umas 9 da manhã, e na hora da pausa, próximo ao meio-dia, estava um espetáculo da natureza. Séries constantes levavam a galera ao delírio. Vários brothers que se revezavam nos swells com a equipe da Atow inj pegaram várias, infelizmente não decorei os nomes de todos, pois tudo foi muito intenso, mas aqui vão alguns: Vitor Ronsoni, Rafael Jeremias, Bernardo Mendonça, Fabio Mia e Gustavo Fabiano.
Como as ondas não paravam, voltei pro mar afim de aproveitar ao máximo. Thiago Jacaré se posiciona mais ao fundo e mais pro lado quando uma bomba vem. No momento que dropei, vi que não ia conseguir passar, quando Jacaré despenca a poucos metros à minha frente. O cara capota feio e depois vai até a lancha de apoio meio atordoado. Fabiano Tissot, que havia perdido o remo de seu SUP, foi pra remada. Uma gun 10’4 linda não resistiu à força da Jagua e partiu ao meio. Não sei com quem estava naquele momento, pois a rotatividade de equipamentos ali foi uma constante.
Vinicius dos Santos desce a sua grande e agradece muito pela oportunidade. Ô moleque sangue bom! Sãs e salvos, por volta das 15:30 rumamos de volta, até porque também alguns jets já estavam com gasolina na reserva. No beach break, as ondas continuavam grandes, e depois de colocar as máquinas nas carretas um churrasco preparado pelo fiel escudeiro da Atow Inj, “Gaivira”, já estava à espera.
Pense numa turma alegre e feliz? Em meio a geladas e lascos de carne, a turma ia vendo imagens de outro fotografo que também estava na session, mas que infelizmente não também não lembro seu nome. Como disse, tudo foi muito intenso e num piscar de olhos já estava retornando à casa. O sono foi carregado de imagens e creio que todos tiveram a mesma sensação. Que dia, que session!
Agradecimentos à turma da Atow Inj que, também apoiada pelo Projectmorona, não cansa de incentivar o big surf . Até o próximo!