O carnaval tinha acabado. Aí, pensei, tenho que começar bem esse ano doido de 2013. Mas ainda não sabia como. Então, iniciei normalmente entrando no computador e acessando o Facebook. Logo vi que Willian Chuá, o professor de swell, tinha postado uma foto daquelas de ondulação gigante que ia bater num pico do Rio Grande do Norte.
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E a publicação já estava a todo vapor de comentários, vídeos, eu vou, etc etc.
Olhei e voltei à realidade. Mais tarde vi que meu nome tinha sido marcado naquele post, dizendo que eu seria convocado para registrar uma onda que estava num vídeo de 2010, que eu já tinha visto mas pensava que era fora do Brasil, ou era uma montagem, fake ou span.
De qualquer forma, eu tinha sido escalado para uma trip ao Rio Grande do Norte. E com certeza eu tinha visto as previsões em nosso site.
Naquela hora eu pensei, acho que vou pegar boas fotos se essa trip gerar. Mas ainda era segunda-feira (18/02) e eu cai na real e disse: esquece, vai trabalhar e correr atrás de grana.
A semana foi passando e eu só vendo a euforia da galera nas postagens de combinação. E eu nem aí.
Na quinta-feira, a coisa explodiu de comentários que eu estava escalado, mas só conseguia falar com o comandante da minha barca pelo Face, ele dizendo que aguardava a saída do transporte da revisão.
Então como tem de ser como nas melhores trips, acontecem de repente. Parti na manhã de sexta-feira (22/02) com uma ligação de Magno Campos e ele dizia: “Estou encostando aí, desce”.
Então, parece que meu ano ia começar de verdade, partindo para encontrar um bom swell com os free surfers Magno Campos, Mauro Isola e Kaká Campos. Quando finalmente nos encontramos a risada foi geral, pois nenhum sabia que pico era aquele, onde ficava, como chegava e que tamanho tinha a onda.
Nossa ponte seria o nosso irmão de Natal, Marcelo Escóssia, que nos guiaria até a boca do dragão. O encontro seria lá mesmo, porém encontraríamos mais dois integrantes da trip no meio do caminho, Arthur Neto e o professor de swell Willian Chuá.
Como só nos encontraríamos à noite, rumamos para Baía Formosa, onde passamos a tarde de sexta-feira com os amigos locais, fazendo uma bateria no Pontal com meio metro de onda.
Depois do almoço no Pôr do Sol, partimos para o desconhecido e encontramos Arthur Neto no Posto dos Zumbis, na cidade de Parnamirim, e também Willian Chuá, com a companheira Priscila e o feroz Nick, o cão de guarda.
Novamente aquele clima de alegria doida, pois agora já eram seis cabeças que nunca tinham ido ao pico, mas já tinha ouvido falar.
Arthur, que ao menos conhecia o caminho de asfalto até a cidade, assumiu a direção do carro de Chuá e partimos. Logo percebemos que era muito chão. E quando estacionamos o carro, o contador marcava 534 quilômetros de Recife até lá.
A aventura tinha começado. Estávamos num estacionamento à beira de um rio, onde deixamos o carro e partimos de barco para a pousada. Era 11 da noite, a cidade dormia e a ansiedade começava a transbordar com todo aquele visual noturno de rio, barcos e cheiro de sal.
Estamos em Galinhos, uma cidade mágica, um lugar surreal. Recebemos a indicação de uma pousada, da Aninha, e fomos nos arrastando para lá pelas areias que dominam a cidade.
Naquele momento já era real a partida às 4h30min da manhã para o encontro com a onda do ano. Só não sabíamos ainda como era a lancha, quantos quilômetros até o pico, nem quanto tempo de viagem.
Ainda conseguimos achar uma lanchonete aberta e fomos super bem recebidos antes de tentar pregar o olho até o grito de ‘vamos nessa’.
E o grito veio muito rápido. Acho que só consegui roncar uma vez e já estava escutando a gritaria de ‘vamos nessa a hora, é essa Chuá já esta no cais chamando todo o mundo’.
Quando a primeira embarcação estacionou, olhei e perguntei: É a nossa? Alivio, não era. Aquilo era um barco de alumínio que teria de navegar 60 quilômetros em alto-mar.
Pensei, ‘parece que a aventura começa agora’. Logo em seguida, encosta a nossa embarcação, uma lancha só um pouco maior que o barco de alumínio; e eu de novo, é a nossa? Veio a resposta que eu não queria ouvir.
‘Sim, embarca nessa’. Naquele momento, incorporei aquele estado de trip casca-grossa protegi meu equipamento e disse ‘hora de rezar’. O sábado, 23/02/2013, tinha chegado.
Na apresentação do comandante, a primeira pergunta infantil: “É longe, comandante?”. “Está vendo aquela plataforma de petróleo?”. “Não”, disse. “É depois dela”, respondeu.
Estava decretada a aventura, tinha começado de vez. Começamos a ganhar o mar aberto com o sol nascendo e os raios de luz produzindo mágica no céu. Com certeza, aquele nascer do sol acalmou a todos que estavam indo rumo ao desconhecido.
Eram duas lanchas e um barco que levava surfistas de Pernambuco e do Rio Grande do Norte atraídos pelo swell instalado na região.
A travessia de barco é sinistra, três horas de mar, enquanto de lancha cai para uma hora, isso se a gasolina não acabar, que foi o nosso caso por duas vezes.
Quando você começa a ver as plataformas é uma alegria sem tamanho, pois a coisa está chegando e a emoção começa a tomar conta. Quando a plataforma começa a diminuir alguém grita, ‘estou vendo a espuma’.
Aquele foi o primeiro momento surreal, você já vê de longe que alguma coisa está acontecendo ali e agora valeu tudo. A chegada, com a maré cheia, o estrondo da vaga nas pedras… parece que o mundo vai se partir ao meio.
É uma sinfonia de explosão natural, muito perfeito.
O swell era grande, o vento soprando e produzindo aquele espetáculo surreal para quem nunca tinha visto.
O problema é que na chegada, quando estávamos em delírio, nossa lancha simplesmente apagou. O cabo da bateria, mal colocado, tinha se partido e ficamos à deriva no canal até sermos rebocados para trás da onda.
A aventura tinha começado de novo. A galera já pulou na água e naquele momento comecei a ver a galera do barco passando mal, vários chamavam o hugo ao mesmo tempo e eu pensei: ‘será que vou pagar esse mico? Viajar até aqui pra ficar por trás da onda?’.
Mas, graças aos céus, o comandante sanou o problema e pude finalmente ficar de frente para a onda mais espetacular que já presenciei ao vivo.
Oceânica, como foi batizada pela nossa equipe, deu um show, mostrando um potencial inacreditável e desmistificando de uma vez por toda que Brasil não tem onda. Nordeste tem onda e o Rio Grande do Norte é o lugar.
Evidente não é uma onda que você vai ali pegar. É uma aventura que precisa ser bem planejada e estudada, para não acontecer ocorrências sérias, incluindo risco de vida, pois socorro é uma coisa que você não vai ter ali.
E água não tem cabelo. São 30 quilômetros de mar profundo até a areia para você ainda pensar em ser removido. Portanto, se você gostar da onda, pense bem antes de ir atrás, aquilo não é brinquedo não.
Na chegada do alto-mar, confraternização geral pela missão cumprida. E ainda tivemos tempo de andar de charrete e embarcar rumo à Pipa e BF para finalizar a trip.
Mas aí, já é outra história.
Quero agradecer ao Magno Campos, Mauro Isola, Kaká Campos, Willian Chuá, Arthur Neto e Marcelo Escóssia pela oportunidade de ter embarcado nessa, que com certeza, foi a trip da vida. Vai ter volta!
Aloha!
Essa publicação é uma cortesia do site Surfe Nordeste