#O big rider paulista Sylvio Mancusi, de 25 anos, continua sua ascensão nas ondas gigantes do Hawaii. Depois da criação do Power Surf Team, uma equipe voltada para desafiar ondas gigantes com apoio e equipamentos necessários, formada por ele, o salva-vidas Romeu Bruno, a dupla Carlos Burle e Eraldo Gueiros entre outros big riders de renome, o atleta se destaca temporada após temporada quando o mar sobe no North Shore de Oahu ou quando o swell desperta Jaws, na ilha de Maui, uma das mais perigosas ondas da atualidade. E foi lá que aconteceu no dia 07 de janeiro de 2002 a primeira Tow-in World Cup, com ondas gigantescas de até 30 pés. Sylvinho não foi convidado para o evento, mas caiu antes da primeira bateria e protagonizou uma das sessões mais adrenalizantes da sua vida. Ele também está concorrendo ao Nissan Xterra XXL, que premia a maior onda da temporada. Nessa entrevista exclusiva ao site Waves, ele conta como foi enfrentar essas ondas e como se sentiu ficando de fora da festa, organizada e vencida por brasileiros, com Rodrigo Resende (e o havaiano Garret McNamara) em primeiro e a dupla Carlos Burle e Eraldo Gueiros na terceira colocação.
Como foi o período que antecedeu o evento em Jaws?
Eu estava instalado na casa do brasileiro residente em Maui, Paulo Magulu, há uns 10 dias junto com Romeu (Bruno), o cinegrafista Kléber Pires e Dedé, do G-Zero, e já havíamos surfado um Jaws muito bom, com cerca de 25 pés no dia 27 de dezembro. Inclusive os organizadores do evento ficaram com a ”pulga atrás da orelha” de não terem realizado o evento nesse dia, mas foi até melhor, porque o swell do dia do campeonato estava com 30 pés plus.
As bóias indicavam um swell gigante para aquele dia. Como foi a expectativa e a caída que você deu antes do campeonato?
Na noite anterior ao campeonato eu estava adrenalizado, não porque não estava convidado para o campeonato, e sim por não poder desfrutar daquele dia, que pelo o que as bóias e previsões estavam anunciando, seria um dia inesquecível de surf. Eu e o Romeu resolvemos acordar às 4hs30m da manhã e surfar até antes do início da primeira bateria.
Quando chegamos em Maliko Goat (lugar onde se coloca os jet-skis), o visual foi de assustar. Logo que chegamos na rampa de acesso ao mar, entrou uma série que varreu tudo. Quando percebemos que não tínhamos para onde fugir, eu e o Romeu corremos para dentro do carro e só deu tempo de fecharmos as portas e, na seqüência, as ondas bateram com toda a força no carro, dando aquela chacoalhada e molhando tudo.
Fomos os primeiros a chegar no outside, rezando no caminho e agradecendo a Deus pela benção, afinal não é todo dia que você surfa Jaws sozinho naquelas condições. Eu fui o primeiro a surfar naquele dia e só depois de uma meia hora é que Laird Hamilton e Dave Kalama apareceram. Depois ficamos revezando as séries até o crowd chegar.
Com certeza peguei as melhores ondas da minha vida. Eu estava surfando com uma prancha emprestada do Darrick Dorner, perfeita para as condições. Inclusive depois emprestei a prancha para a dupla Burle e Eraldo, que acabaram em terceiro. Foi incrível porque pude surfar as maiores ondas das séries sem problemas e recebi vários elogios como do Cheyne Horan e do próprio Darrick, que ficou amarradão de ver a prancha dele funcionando daquela maneira.
Quais duplas estavam presentes antes da competição?
Laird e Kalama e depois Mani e Robert Gumpers, Cheyne Horan e Robbie Sieger, Pato e João Maurício e Makua Rothman e Ryan Rawson.
Quem se destacou no mar?
Com certeza Laird Hamilton é o rei em Jaws. Suas apresentações dispensam comentários. Ele surfou antes e depois do evento e deu aquele show particular, o cara amassa a onda.
Você sentiu algum tipo de frustração ao não ser convidado para o evento, já que é um dos mais assíduos no pico?
Claro que fiquei frustrado, principalmente porque havia ficado em quarto lugar no anterior, junto com o Eraldo. Mas por um outro lado, entendo o lado dos organizadores (Rosaldo Cavalcanti e Jorge Guimarães) em não convidar mais brasileiros. Porém, agora com os brasileiros provando de todas as maneiras que não devem nada para os gringos nas ”bigs”, eu acredito que devam aparecer mais convidados para o próximo ano e espero estar dentro, junto com o Phill Rajzman, que agora está treinando comigo aqui no Hawaii. Inclusive está sendo até uma surpresa para mim a qualidade do surf que estamos apresentando juntos. Somos os mais novos praticando a modalidade e com a ajuda de Deus atingiremos nossos objetivos.
#Na sua opinião, existiu algum tipo de discriminação em relação à inclusão de novas equipes brasileiras no evento? (mesmo tendo sido organizado por brasileiros).
Eu acho que o critério adotado para esse ano não foi errado, afinal foi o primeiro evento em Jaws e justamente organizado por brasileiros. Imagina a pressão que os caras estavam segurando dos gringos… Agora que já provamos que podemos realizar e ganhar (e ainda ficar com outra dupla em terceiro), o melhor campeonato de ondas grandes já feito no mundo, acho que com certeza deverão ser incluídas novas duplas canarinho para o próximo evento.
Como foi a repercussão dessa sessão de surf anterior ao campeonato?
Foi a melhor possível… Mas, o mais importante são as recordações que estão na minha cabeça.
Foi o maior mar que você já surfou?
Cara, não foi o maior porque no Big Wednesday de 28 de janeiro de 98 as ondas também estavam daquele tamanho, mas não cavadas e potentes iguais a Jaws. Até porque ainda não foi descoberto nenhum pico tão irado, na minha opinao. O próprio Jeff Clark declarou naquela manhã: ?Em Maverick?s as ondas também são grandes, mas aqui devemos ter mais cuidado, o buraco é mais embaixo?. O simples fato da galera surfar remando em Maverick?s com 25 pés mostra a diferença de power. Em Jaws nunca ninguém remou em ondas dessa magnitude. Mas pode ter certeza que as duas são assustadoras!
Você disse ao Romeu Bruno que ficaria uns dias sem surfar após aquela sessão tamanha a intensidade das emoções? Como é esse sentimento?
Nossa… Depois de ter surfado as ondas que sonhei durante toda a minha vida desde moleque… Realizar um sonho desses não foi fácil, e hoje posso afirmar que estou realizado. A energia que aquelas ondas proporcionam mudam até o modo de enxergar a vida… é demais!
Você acha que a maneira como os brasileiros são vistos no exterior realmente mudou em relação ao surf de ondas grandes?
Com certeza! Um evento organizado e vencido por brasileiros e com a dupla da Power Surf Burle e Eraldo liderando todos os prêmios com aquelas ondas em Maverick?s no começo da temporada deixaram os gringos mordidos. Agora, o mais importante é, com certeza, o reconhecimento e respeito ganho da maneira mais correta.
Para conhecer um pouco mais os feitos e o trabalho do jornalista e big rider Sylvio Mancusi visite o site do Power Surf Team no endereço www.powersurfteam.com.br .